Democracia mafiosa: investigação revela ritual para eleger os chefes da Cosa Nostra
Máfia siciliana retornou ao passado e voltou a recorrer a eleições para escolher seus líderes
Internacional|Da ANSA
Após anos de designações impostas de cima para baixo, principalmente durante o período de tirania de Salvatore "Totò" Riina e seus aliados, a máfia siciliana Cosa Nostra retornou ao passado e voltou a recorrer a eleições para escolher seus líderes.
O método é simples: voto aberto, levantando as mãos, para evitar urnas, os chamados "franco-atiradores" (pessoas que dizem apoiar um, mas votam em outro) e fraudes. Se não se tratassem de mafiosos, poderia até se dizer que os clãs passaram por um processo de "democratização".
Mas a expressão é pouco adequada ao contexto traçado pela polícia de Palermo, capital da Sicília, no inquérito que terminou com a prisão de seis expoentes da histórica família do "mandamento" (gíria para designar a zona de influência de um grupo) de Santa Maria de Jesus, que teve em Stefano Bontade (1939-1981) seu grande líder e já foi uma das mais poderosas da Cosa Nostra.
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A investigação começou após a libertação de membros do clã que estavam presos e cumpriram suas penas. Uma vez soltos, eles voltaram ao bairro de Palermo e voltaram a operar como antes, sem saber que seus movimentos eram controlados pela polícia.
As interceptações feitas ao longo do inquérito permitiram ao procurador de Palermo, Francesco Lo Voi, redesenhar a liderança do clã, agora guiado por Giuseppe Greco — um dos detidos pela polícia — e descobrir o retorno aos antigos métodos de nomeação dos comandantes.
Por meio de câmeras e microfones escondidos, a polícia presenciou como foi a "eleição" de Greco.
"Mas por que não podemos só levantar as mãos? Sem segredos, levantamos as mãos e contamos", disse o histórico mafioso Salvatore Profeta. No entanto, Greco era o único candidato de verdade, ainda que no diálogo tenha aparecido outro candidato a chefe, cujo nome não foi mencionado. Depois de eleito, o novo chefe é cumprimentado com beijos pelos seus subordinados.
"A Cosa Nostra imita, do sistema político, as regras que disciplinam as eleições dos chefes de clãs", explicou Lo Voi.
Segundo as investigações, a "democracia" diz respeito apenas aos cargos de comando e conselheiro em cada família. Para postos menores, a designação cabe ao próprio líder.
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