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Imigrantes que tentam chegar aos EUA são enganados e acreditavam que seria fácil conseguir asilo

Relatos boca a boca e pelas redes asseguravam aos estrangeiros que eles conseguiriam se instalar no país sem grandes problemas

Internacional|Do R7


Imigrantes em busca de asilo nos Estados Unidos caminham ao longo da cerca da fronteira, nesta quinta-feira (11)
Imigrantes em busca de asilo nos Estados Unidos caminham ao longo da cerca da fronteira, nesta quinta-feira (11)

Sob o sol intenso do deserto, entre areia e matagais, centenas de imigrantes cruzaram o rio Bravo a partir do México diante do rumor de que os Estados Unidos liberariam sua entrada. Sua esperança, porém, se desvaneceu, ao perceberem que foram novamente vítimas da desinformação.

Falsidades e mentiras se somam ao suplício dessas pessoas, primeiro para alcançar a fronteira pelo México e depois para obter asilo nos Estados Unidos.

Com sandálias e crianças nos braços, vários grupos atravessaram o rio na última quinta-feira (4) a partir de Ciudad Juárez (norte), em busca do "portão 40" do muro fronteiriço.

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Relatos espalhados boca a boca e pelas redes sociais asseguravam que o governo americano havia aberto esse acesso para processar solicitações de asilo. A porta, no entanto, nunca se abriu.

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"Sim, é possível. Me entreguei na porta 40 com a minha família e todos foram soltos (...) Não fazem perguntas", dizia uma publicação em um grupo no Facebook, aludindo à prática de se entregar à patrulha fronteiriça e pedir proteção. A AFP encontrou dezenas de mensagens similares.

Do outro lado do rio, em solo americano, aproximadamente mil pessoas da Venezuela, Haiti, Equador e Turquia instalaram-se em barracas e abrigos, improvisados com pedaços de madeira e cobertores, esperando durante dias para se entregar.

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Queriam cruzar antes desta quinta-feira (11), quando irá expirar o Título 42, norma aplicada pelos dois últimos governos americanos para evitar a propagação da Covid-19, mas que, na prática, serviu para expulsar em direção ao México quase todos imigrantes que chegavam sem a documentação obrigatória. 

No lugar dessa norma, seguirá ativo o Título 8, uma normativa específica sobre imigração que prevê deportações e a negação de asilo aos infratores, que ficarão vetados por cinco anos e enfrentariam processos penais.

Neste ano, milhares de imigrantes se mobilizaram cinco vezes na fronteira movidos pela desinformação, por trás da qual estariam grupos anti-imigração e até traficantes de pessoas, segundo especialistas.

Rede de mentiras

Em março, tentaram cruzar uma ponte internacional ante o rumor de que lhes seria dado passagem por um suposto "dia do imigrante".

O escritório da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP) do Texas reportou outra tentativa de "mais de 1.000" pessoas, mobilizadas por versões similares, após o incêndio que matou 40 estrangeiros em um centro de detenção de imigrantes em Ciudad Juárez, em 27 de março.

Em fevereiro, já havia circulado um rumor que assegurava que quem se entregasse seria levado para o Canadá. Ángel Pavón, venezuelano de 52 anos, foi um dos quase 500 migrantes que acreditou na história e se instalou junto do muro.

Pavón se entregou com sua esposa e filhas, de 14 e 12 anos, mas foram expulsos para o México. "Descartaram as três coisas que tínhamos (...) As meninas choraram, porque te tratam como um terrorista".

Inconsolável, focou no aplicativo para celular CBP One, habilitado por Washington para pedir audiências no México, nas quais os imigrantes podem solicitar asilo.

Sua esposa conseguiu uma audiência e espera a família nos Estados Unidos.

A mentira de que o Canadá teria aberto suas portas surgiu após que as autoridades de Nova York decidiram pagar passagens de ônibus para imigrantes que queriam chegar no país a partir da metrópole.

E também após a viralização de um vídeo que mostrava um homem coberto de neve dizendo: "A nova moda é o Canadá (...) Não estão pedindo papéis".

Fator criminal

Diante das sucessivas quedas do CBP One, foram criados grupos no Facebook e WhatsApp onde imigrantes compartilham experiências sobre o aplicativo, mas também disseminam mentiras.

Landon Hutchens, funcionário do escritório da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA em El Paso, Texas, fala que "organizações criminosas impulsionam" igualmente a desinformação.

A AFP identificou contas do TikTok nas quais supostos traficantes de pessoas e "assessores migratórios" oferecem seus serviços e descontextualizam a informação. Os próprios imigrantes compartilham entre si esses contatos no Facebook.

O tráfico de imigrantes também é "um negócio cujas estratégias de comunicação utilizam majoritariamente a desinformação", explica Olivier Tenes, da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

No TikTok são oferecidas também supostas audiências no CBP One. Depoimentos recolhidos pela AFP confirmam que são fraudes.

A informação falsa surge além dos "grupos extremistas buscando gerar caos e uma narrativa anti-imigração', assegura Sam Wooley, pesquisador de persuasão e redes sociais da Universidade do Texas.

Para Enrique Valenzuela, responsável pela atenção aos imigrantes do governo de Chihuahua (norte), essas pessoas são suscetíveis à desinformação, porque "ficam com a parte [da mensagem] que lhes gera esperança.

Em Ciudad Juárez, a noite cai e, em frente ao "portão 40", os imigrantes retiram suas tendas e fazem filas ao ver três agentes do outro lado, porém o portão continua fechado.

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