Menina adotada é abandonada nos EUA por ser 'uma adulta sociopata'
Tente entender este caso de família que ainda envolve uma doença rara, um filho superdotado e uma investigação policial por negligência
Internacional|Giovanna Orlando, do R7
Esta história começa em 2010, quando uma menina ucraniana foi adotada por uma família norte-americana e se mudou para Indiana, no centro-oeste dos Estados Unidos.
Nove anos depois, o casal Michael e Kristine Barnett estão sendo formalmente acusados de abandono e negligência. O motivo: em 2013, a menina ucraniana foi "transformada" em uma mulher de 22 anos e deixada para trás, quando o resto da família mudou-se para o Canadá.
Michael e Kristine alegam ter descoberto que a menina ucraniana na verdade é uma mulher adulta com uma doença rara. Por isso, em 2013, mudaram formalmente a idade dos documentos da menina/mulher para 22 anos.
Mas a história peculiar desta família não pára por aí: os Barnett afirmam que a filha adotiva deixada para trás é uma sociopata, com diagnóstico oficial e tudo.
As autoridades não acreditam em toda esta história. Alegam que a menina, que não teve a identidade revelada, sofre de uma rara doença nos ossos que a impede de crescer, o que resulta em nanismo e aparência de criança.
Os médicos não conseguem dizer com precisão quantos anos ela tem, apesar de alguns exames comprovarem que os órgãos reprodutivos e dentes dela são adultos.
Kristine Barnett disse ao jornal local News 8 que a adoção foi uma “fraude” e que a menina sabia o tempo todo que era adulta e se passava por criança.
Durante interrogatório policial, Michael disse que acredita que a menina ainda era menor de idade quando eles mudaram a idade dela nos documentos e a abandonaram em Indiana, antes de se mudar com o filho para o Canadá.
Ele também afirmou que a ex-mulher pediu para a menina dizer que, caso alguém perguntasse qual a sua idade, ela devia dizer que tinha 22 anos e explicar que só parecia uma criança.
Doença rara
Segundo o jornal The Washington Post, a menina foi adotada pelos Barnett em 2010, dois anos depois de ser trazida aos Estados Unidos por uma outra família. Não foram dados detalhes sobre o que aconteceu com a primeira adoção.
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Segundo documentos, os Barnett tentaram descobrir a idade exata da menina durante a adoção, e um médico determinou, em junho de 2010, que ela tinha 8 anos. Em 2012, outro médico afirmou que ela tinha 11 anos depois de um exame ósseo, um ano a mais do que o previsto.
No mesmo ano, o casal entrou com um pedido na corte para que a idade da menina fosse mudada de 11 para 22 anos. Ainda não se sabe como a pedido foi aprovado, mas Kristine deu ao jornal News 8 uma cópia da carta de outro médico que confirmou que os dentes e órgãos da menina eram de adultos e que era difícil determinar a idade dela.
A mesma carta diz que a menina tinha feito uma “carreira em perpetuar a farsa da idade” e que ela foi aceita em um hospital psiquiátrico, onde foi diagnosticada com transtorno de personalidade sociopática e que disse ter mais de 18 anos.
A carta também diz que os documentos fornecidos pelas autoridades ucranianas estavam incompletos e que sofria de displasia espondiloepifisária congênita, doença que a fazia ter eterna aparência de criança.
Família peculiar
A família Barnett era conhecida pela mídia americana por causa do filho superdotado Jake, que foi diagnosticado com autismo aos 2 anos. Os pais foram alertados que o menino talvez nunca conseguisse manter relações sociais normais e passou a ter aulas em casa, com a mãe.
Aos 12 anos, Jake estava tendo aulas de matemática de nível universitário e já era cotado para se tornar pesquisador. Depois de uma matéria publicada no jornal Indianapolis Star, ele publicou o primeiro artigo em um jornal acadêmico.
Em 2012, ele apareceu no programa de televisão 60 Minutes, e é possível ver a menina ucraniana em uma das cenas, segundo The Washington Post.
Com 15 anos, o menino passou a estudar no Instituto Perimeter de Física Teórica em Waterloo, em Ontario, no Canadá. Os pais se mudaram para o país vizinho e abandonaram a filha adotiva.
A menina contou à polícia que os pais pagavam pelo apartamento em que ela vivia, em um bairro em que ela não conhecia ninguém. Michael Barnett admitiu que a família bancava o aluguel do local, mas não davam nenhum outro tipo de ajuda financeira para a garota.
Anos de mistério
O jornal The Washington Post destaca que tudo que se passou depois disso é misterioso. Segundo uma fonte anônima ao WLFI, os vizinhos da garota começaram a cuidar dela e em 2014 ela foi despejada por não pagar o aluguel.
Ela ficou sem endereço fixo depois disso e não se sabe onde ela morava e como se bancava.
Em 2014, os Barnett se separaram e voltaram para Indianapolis. Jake continua estudando gravidade quântica no Canadá.
Em setembro do mesmo ano, o Gabinete de Xerife do Condado de Tippecanoe encontrou a menina depois que o diretor de uma escola ficou preocupado com a situação dela. Segundo dados médicos, ela devia ter entre 12 ou 13 anos na época.
Em 2016, a menina deixou a cidade e outro casal mostrou interesse em adotá-la. Os Barnett foram contra o pedido.
Em janeiro de 2018, o casal mudou de ideia, mas não declararam o motivo.