Na luta por direitos, mulheres são vítimas de múltiplas violências
A morte não é a única perseguição que elas enfrentam. Existem outras violências às quais elas estão a mercê apenas por serem mulheres
Internacional|Beatriz Sanz, do R7
No Dia Internacional da Mulher, a luta das mulheres por seus direitos é celebradas com greves e manifestações em todo o mundo. Mas não só. Seja nos grandes centros de decisão ou longe das cidades, as mulheres são protagonistas na busca de outros direitos, que não apenas a igualdade de gênero. Elas são lideranças nas lutas pelo direito à terra, pelo direito ao meio ambiente, por segurança e privacidade digital.
E, assim como os homens defensores de direitos humanos, as ativistas também se transformam em alvos para milícias, grupos paramilitares e governos autoritários. Só que exatamente como nas demais esferas da vida, as ativistas mulheres são alvo de múltiplas violências ligadas à sua condição de gênero.
Pelo menos 39 mulheres foram assassinadas o ano passado em todo mundo por serem defensoras dos direitos humanos. O número foi divulgado no relatório “Defensores Globais” feito pela ONG Front Line, que explicita também que 321 pessoas foram mortas pelo mesmo motivo em 2018.
Leia também
Contudo, a morte não é a única perseguição que elas enfrentam. Muito pelo contrário, existem outras violências às quais elas estão a mercê apenas por serem mulheres.
Mesmo que não sejam a maior parte das vítimas fatais, já que a morte de mulheres representa apenas 12% do total, elas ainda são as maiores vítimas em outros tipos de violência.
As mulheres estão mais sujeitas a sofrerem demissão, campanhas de difamação, abuso verbal ou ameaças, desaparecimento, vigilância, proibição de viagens e abuso sexual.
Muitas vezes, elas podem sofrer mais de um tipo de violência ao mesmo tempo.
O relatório apresenta como exemplo o assassinato da vereadora brasileira Marielle Franco, assassinada a tiros em 14 de março de 2018. As investigações continuam, mas nenhuma pessoa foi acusada pelo crime.
O calvário de Doris
Para exemplificar a vulnerabilidade a qual elas estão expostas, o relatório conta a história de Doris Valenzuela.
Colombiana, Valenzuela era uma das militantes da entidade Comunidades Construindo Paz nos Territórios (Conpaz), uma organização que agrupa pessoas negras, indígenas e campesinos que lutavam contra a construção de grandes obras em seus territórios.
Ela passou a ser ameaçada por grupos paramilitares. Primeiro, ela teve que presenciar a morte do seu filho de 9 meses em seu próprio colo. O bebê recebeu uma bala que estava endereçada a ela.
Pouco tempo depois, seu outro filho de 17 anos foi ao mercado. O garoto foi sequestrado pelo paramilitares que começaram a desmembrá-lo vivo.
Ele foi defendido por um colega e conseguiu saiu da tortura com vida. No entanto, ele não resistiu aos ferimentos e morreu ao hospital.
Valenzuela não pode enterrar nenhum dos dois filhos por conta da perseguição dos paramilitares.
Depois desses episódios tão traumáticos, ela pediu ajuda à Anistia Internacional, que a levou junto a seu marido e outros dois filhos para a cidade de La Palma, na Espanha, em um programa de proteção de defensores dos direitos humanos.
Ao chegar na Espanha, ela deu uma entrevista ao jornal El Diário, onde afirmava que “sua vida estava garantida” em La Palma.
Infelizmente, Doris Valenzuela, não poderia estar mais enganada. Um ano após a mudança de país, ela foi assassinada por seu marido.
A militante nunca escondeu que seu maior sonho era voltar para casa e continuar a luta pelos direitos das minorias.
Bem como Doris, pelo menos 248 dos defensores mortos em 2018, lutavam pelo respeito ao direito à terra ou ao meio ambiente.