Os sete veteranos da guerra contra a lei deveriam compartilhar a ceia de Natal
Que tal juntar na mesma mesa o ministro Marco Aurélio, José Dirceu e o irmão, Elias Maluco, Branco, Bi da Baixada e Rabicó?
Augusto Nunes|Do R7 e Augusto Nunes
Menos de um mês depois da soltura do irmão e mentor José Dirceu, o Saidão sem Volta produzido por seis ministros do Supremo Tribunal Federal devolveu a Luiz Eduardo de Oliveira e Silva o direito de ir e vir — e, entre idas e vindas, apressar a engorda dos prontuários da dupla com a ocultação de mais provas e a colocação de pedras em trechos ainda desobstruídos do caminho da Justiça. Dirceu saiu da cadeia em 8 de novembro sem abrir o bico sobre as incontáveis delinquências em que se meteu. Pior: escapou do xilindró antes que a Lava Jato pudesse devassar partes indevassadas da fortuna que juntou depois de deixar o posto de capitão do time de Lula e tornar-se general do maior esquema corrupto da história.
Com a ajuda do mano, preso em fevereiro de 2018, Dirceu vai acelerar a destruição de pistas e evidências que podem levar, por exemplo, ao latifúndio rural que adquiriu em nome de cúmplices de absoluta confiança. Luiz Eduardo cumpriu menos de um quinto da pena de 10 anos e seis meses de gaiola. Metido até o pescoço nas ladroagens do Mensalão e do Petrolão, José Dirceu já tratava de conformar-se com a morte na cela quando foi resgatado pelo selo de inocente cujo prazo de validade só se esgotará com o trânsito em julgado da sentença condenatória.
Os irmãos larápios poderão matar a saudade recíproca nas festas do fim do ano. Caso não tenham demitido o sentimento da gratidão, erguerão na noitada do Réveillon vários brindes aos seis togados que não enxergam pecadores sequer em serial killers de filme americano. Se não tiverem enterrado no labirinto mais escuro da alma o espírito de Natal, deveriam convidar para a ceia Marco Aurélio Mello e os quatro mais recentes beneficiários do serviço de socorro a assassinos que o ministro gerencia nas catacumbas do Supremo.
Em agosto deste ano, Marco Aurélio libertou Elias Maluco, o carrasco do jornalista Tim Lopes. Em setembro, estendeu a mão amiga ao traficante Odemir Francisco dos Santos, o "Branco". Em outubro, devolveu às ruas Moacir Levi Correia, conhecido na cúpula do PCC pelo codinome "Bi da Baixada". Em novembro, tirou da cadeia o chefão do comércio de drogas Antonio Ilário Ferreira, o "Rabicó" — e, com isso, tornou inevitável o recomeço dos confrontos medonhos entre bandos rivais de narcotraficantes.
José Dirceu, Luiz Eduardo, Elias Maluco, Branco, Bi da Baixada, Rabicó e Marco Aurélio (na cabeceira) formariam uma mesa e tanto. Além disso, a mistura tem tudo para provocar um tranquilizador efeito colateral: enquanto durar a confraternização, haverá uma queda da taxa de criminalidade da cidade escolhida para a realização do encontro.
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