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Polêmica: Etanol prejudica os motores turbo? Especialistas explicam

Uma linha contrária ao uso do etanol também afirma que o combustível vegetal é corrosivo

Autos Carros|Marcos Camargo Jr. e Marcos Camargo Jr.


Motor 1.3 litro turbo TCe entrega 162 cv com gasolina e 170 cv com etanol
Motor 1.3 litro turbo TCe entrega 162 cv com gasolina e 170 cv com etanol Felipe Salomão 03.08.2022

Uma polêmica recente no mundo automotivo envolve diversos conteúdos, como vídeos e artigos, que afirmam que o etanol prejudica os motores turbo a longo prazo. A teoria sugere que o etanol é um combustível "mais seco" e contém muita água, o que, em parte, é verdadeiro, e supostamente prejudicaria os motores atuais, especialmente os turboalimentados de três cilindros encontrados em carros de volume como Fiat Strada, Volkswagen Polo, T-Cross, Chevrolet Onix e Tracker, entre outros.

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Usar o etanol de forma continuada prejudica o motor?

"Com todos os sistemas que são testados exaustivamente, posso dizer que não, e os carros são adaptados para o uso de etanol ou gasolina, podendo rodar com os dois combustíveis", explica Gerson Borini, engenheiro com 38 anos de atuação no mercado e décadas trabalhando com grandes fabricantes e fornecedores de peças.

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Borini admite que há muitas teorias a respeito desse tema, partindo até mesmo de fabricantes de peças, que afirmam ser necessário "alternar" o uso de gasolina de vez em quando para quem só utiliza etanol. "O etanol, chamado na origem de 'álcool hidratado', tem esse nome justamente porque possui água na composição. De um tempo para cá, passaram a introduzir no etanol um pouco de gasolina, em proporção bem reduzida. Recentemente, falei com uma empresa que faz calibração de motores, e eles de fato recomendam um pouco de gasolina, mas na minha vivência profissional, eu digo que não é necessário", reafirma.

Fernando Frazão/Agência Brasil

O etanol é corrosivo?

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Uma linha contrária ao uso do etanol também afirma que o combustível vegetal é corrosivo para as partes metálicas do carro. Mas o engenheiro discorda: "Há anos são tomadas providências e realizado desenvolvimento de materiais para que os motores possam trabalhar bem com etanol. Os tanques eram de metal e hoje são de plástico, há tratamento de bicos injetores, e as partes internas do motor já são adaptadas ao uso do etanol", afirma o engenheiro.

Renault/Divulgação

No entanto, Borini explica que uma ressalva deve ser feita antes de parar o carro após um abastecimento com um combustível diferente. Se for necessário abastecer antes de desligar o carro, vale a pena rodar alguns minutos para que o sistema tenha tempo de perceber a mudança, especialmente em carros mais antigos. Já nos carros novos, esse problema não existe. "Há também um sensor de etanol na linha de combustível, localizado próximo aos bicos injetores, com a função de 'avisar' que o combustível da linha tem composição diferente, e assim a combustão é ajustada pela programação da injeção eletrônica", explica.

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Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na experiência de Borini, até mesmo os carros mais antigos movidos a etanol, quando tinham os motores desmontados, apresentavam menos borras, impurezas e sujeira no sistema. Ao perguntarmos por que, então, tantas ocorrências de problemas com motores abastecidos com etanol que viralizam nas redes, o engenheiro explica:

"Isso ocorre quase sempre por conta do combustível adulterado e do uso do óleo lubrificante errado", explica. Atualmente, especialmente em motores turboalimentados, é preciso ter um cuidado minucioso com a manutenção. Técnicos recomendam que se deve utilizar não só o lubrificante com a mesma especificação, mas sim o óleo "original" homologado pela montadora.

Reprodução/Record News - 06.03.2024

Segundo Gilberto Pose, Coordenador Técnico de Combustível da Raízen/Shell, os veículos flex estão bem preparados para receber o etanol. "Quando os veículos flex foram criados no Brasil, as montadoras dimensionaram toda a parte de engenharia voltada para o etanol, que pode causar corrosão. Por isso, os motores têm um tratamento nas partes metálicas que entram em contato direto com o etanol, como os bicos injetores, que receberam um tratamento para a passagem do etanol, assim como a bomba de combustível", informou.

E nos carros mais antigos?

Borini explica, porém, que carros calibrados para usar apenas gasolina, especialmente os mais antigos, podem enfrentar problemas com a adição de mais etanol à gasolina ou com etanol adulterado contendo mais água. Segundo Borini, esses carros foram projetados para operar com as condições da época em que foram fabricados; nos anos 1990, por exemplo, a adição de etanol era de 10 a 12%, enquanto hoje já chega a 27%.

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Motores mais antigos certamente terão mais dificuldades com um combustível que não é aquele programado pelo carro. No caso de carros antigos que usam carburador e não possuem essa programação, os danos podem ser maiores, com problemas nas bombas, bicos, tanque e outros componentes sendo iminentes com a presença de mais etanol.

De fato, há um projeto de lei já aprovado pela Câmara dos Deputados que prevê a adição de 35% de etanol na gasolina. A matéria está no Senado, mas requer discussões técnicas antes da votação. "35% de etanol na gasolina para os carros flex não vai mudar nada. Só vai mudar a razão de cálculo onde aquela proporção de preço de 70% não vai valer mais. Agora, para carros mais antigos, no dia a dia, eles serão impactados com perda de potência, pois o poder calorífico do etanol é menor e reduzirá a potência, aumentará o consumo e levará o motorista a acelerar mais, sem falar nos danos ao motor", explica.

Motor Honda ZR-V importado
Motor Honda ZR-V importado Marcos Camargo Jr. 01.02.2024

Carros importados com mais etanol

Segundo o engenheiro, até os carros importados serão prejudicados. Atualmente, eles são calibrados para uma proporção menor de etanol, e com mais etanol podem sofrer danos a longo prazo. "Com 35% de etanol, essa nova mistura vai prejudicar os componentes do motor". Carros importados precisam ser calibrados para serem vendidos aqui, e isso não se resume apenas a um ajuste eletrônico, mas também inclui ajustes mecânicos, como a troca de um bico injetor ou outros componentes.

Desde os primeiros modelos flex de 2002, quando o motor flex foi introduzido pela Volkswagen no Gol, os motores passaram por muitas evoluções. Os carros da primeira geração de injeção eletrônica, no fim dos anos 1980 e anos 1990, evoluíram de um sistema analógico de injeção de combustível para a partida a frio automática, utilizando sensores, computadores associados aos sensores e pré-aquecimento desse combustível.

Essa evolução continuou até chegar aos motores menores turboalimentados e com injeção direta. A programação do carro dentro da central eletrônica evoluiu significativamente com a introdução de novos dispositivos e sensores ao longo dos últimos anos, especialmente nos modelos flex.

Volkswagen começou a estudar a possibilidade de misturar o etanol e a gasolina em 1992
Volkswagen começou a estudar a possibilidade de misturar o etanol e a gasolina em 1992 Volkswagen/Divulgação

Uso do etanol como combustível já supera quatro décadas

O histórico do uso de etanol remonta ao final dos anos 1970, com o programa Proálcool, que introduziu um combustível de origem vegetal desenvolvido e produzido no Brasil, que seria tão eficiente quanto a gasolina, com o benefício de menores emissões.

Ao longo dos anos 1980, as vendas de carros, inicialmente movidos a álcool e posteriormente a etanol, atingiram cerca de 90%. No entanto, oscilações no preço da cana-de-açúcar levaram a fases mais ou menos positivas para o álcool. Após 2002, a chegada do primeiro carro flex foi seguida por quase todos os modelos produzidos nacionalmente. 

Etanol Aditivo e “Aditivos”

Em relação ao etanol aditivado, o combustível pode ajudar na limpeza dos bicos, segundo a Raízen, o que afasta as teorias de que o melhor é usar aditivo em frascos, pois o combustível não tem padrão de mistura. "O etanol aditivado conta com detergentes desenvolvidos para manter o interior do bico injetor lubrificado e prevenir entupimentos. Também auxilia na limpeza das válvulas, que podem ficar sujas. Por isso, para fazer a limpeza, é recomendado utilizar de três a cinco tanques de combustível aditivado, melhorando a partida, a marcha lenta, as arrancadas e, por fim, deixando o veículo mais econômico", disse o executivo.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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