Museu em Jerusalém conta a história de Israel pela música
No centro da cidade, foi criado o Museu da Música Judaica, que mostra a relação com a história do povo judeu
Nosso Mundo|Eugênio Goussinsky, do R7, em Jerusalém (Israel)*
David, quando era pastor, acalmava o Rei Shaul com o toque mágico de sua harpa. Muitas vezes, no silêncio da noite em um campo de concentração, ouvia-se um cantarolar distante de algum prisioneiro.
A música sempre esteve presente na trajetória do povo judeu. No centro de Jerusalém, próximo à Cidade Velha, foi criado o Museu da Música Judaica, que traz informações que comprovam a forte relação da música com a história do povo judeu.
A entrada lembra a de antigas residências bíblicas. O estilo do local remete a Jerusalém antiga, em meio a compartimentos com vitrines cheias de instrumentos antigos.
O primeiro deles é uma harpa idêntica à usada por David. Ao lado, flautas milenares, kinkins, adonedos, azuzes, charongo e tars.
Então descobrimos como sons e ritmos estiveram presentes durante o exílio babilônico (605 a.c); nos tensos momentos na Pérsia (478 a.c); no período grego (333 a 165 a.c); no conflito romano (66 d.c a 73 d.c); na interaçao e nas perseguições dos mouros na Península Ibérica (711 d.c a 1492 d.c); no convívio no Marrocos e nos tempos do Império Otomano (1299 d.c a 1918 d.c).
Momentos difíceis, como a expulsão da Peninsula Ibérica, em 1492, tiveram na música uma espécie de salvação. Com locais como o centro judaico de Sfat, a crença religiosa e espiritual se fortaleciam, contagiados pela harmonia de composições muitas vezes improvisadas.
O museu conta também como a música fez parte da vida dos judeus na Europa Oriental, nos shtetls (vilarejos) dos séculos 17, 18 e 19, ao som do violino acompanhado de um insinuante clarinete, que parecia driblar as perseguições com uma música surpreendente e comunicativa.
Muitas das composições se eternizaram, como retratos de cada época. O Lecha Dodi, por exemplo, virou reza. O Heveinu Shalom, de Avraham Idelsohn, virou lenda. A Yerushalaim Shel Zahav, de Naomi Shemer, expressa ternura e esperança.
O diretor do local, Eldad Levi, costuma dizer que a fundação do museu foi motivada por um desejo e que, segundo um grande estudioso, este desejo é o que dá força para as pessoas seguirem em frente.
Desejo e dever, neste caso se fundem. É um tipo de desejo que prevalece em Jerusalém, quando multidões caminham pela rua Jaffa rumo a Cidade Velha, em nome de algo maior do que elas mesmas.
Tentando conviver e existir, acumulando experiências que fundem as culturas judaica, cristã e árabe. Um desejo que resiste e se multiplica em várias melodias.
*O jornalista viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores
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