Qual é o impacto das atitudes de Casares e Belmonte para a violência no futebol
Dirigentes perderam o controle ao não concordar com resultado da partida contra o Palmeiras no último domingo
Refletindo Sobre a Notícia por Ana Carolina Cury|Do R7 e Ana Carolina Cury
O presidente do São Paulo, Julio Casares, deu um show de descontrole ao falar sobre a arbitragem durante o jogo contra o Palmeiras no domingo, e dirigiu palavras hostis ao técnico adversário, Abel Ferreira. Mencionou ter ouvido insultos direcionados a Calleri, atacante do São Paulo. E, em suas considerações finais, prometeu tomar medidas jurídicas.
Além disso, criticou as decisões do árbitro Matheus Delgado Candançan. Ao descrever a atuação dele, utilizou termos pesados. O juiz do jogo em questão relatou que os dirigentes do São Paulo o xingaram muito.
O clássico terminou empatado em 1 a 1. Carlos Belmonte, diretor de futebol do São Paulo, também perdeu o controle e foi gravado xingando Abel Ferreira de "português de m...", após o fim da partida. O Palmeiras se pronunciou na segunda-feira sobre o ocorrido.
"A Sociedade Esportiva Palmeiras estuda as medidas legais cabíveis contra o diretor de futebol do São Paulo, Carlos Belmonte, flagrado xingando de forma xenófoba o técnico Abel Ferreira após o jogo de ontem, no Morumbis. Não há justificativa para as palavras baixas e preconceituosas escolhidas pelo dirigente são-paulino com o intuito de depreciar um profissional íntegro e vitorioso, que vive no Brasil há mais de três anos", inicia a declaração.
O clube cita também o incentivo à violência. "O Palestra Itália nasceu pelas mãos de imigrantes que resistiram à intolerância para que o clube não morresse (...) Repudiamos, portanto, qualquer tipo de discriminação, quanto mais ofensas que incitem a aversão a estrangeiros. Não é segredo que o futebol brasileiro atravessa um momento perigoso, com casos cada vez mais frequentes de violência (...) . Neste cenário complexo e desafiador, cabe a quem comanda o compromisso com a responsabilidade, não com o ódio".
O São Paulo não concedeu espaço para entrevistas coletivas à comissão técnica do Palmeiras, liderada por Abel Ferreira, e justificou a decisão como uma questão de reciprocidade, por não considerar adequado o espaço destinado às entrevistas no Allianz Parque.
Violência que gera violência
Não vale entrar nos detalhes da arbitragem. Afinal, todos os jogos, desde que o futebol é futebol, geram críticas sobre as decisões técnicas.
A cultura, especialmente no cenário paulista, é frequentemente marcada por conflitos. Enquanto não houver uma punição severa para atitudes como essas, a violência somente se espalhará.
Infelizmente, essas reações não são casos isolados. Por isso, a reflexão não se restringe às palavras de Casares e Belmonte, mas também à todas as ações semelhantes que ocorrem semanalmente e só incentivam as torcidas a se odiarem ainda mais. As mortes de torcedores nos últimos anos são apenas a ponta do iceberg, e revelam as consequências da falta de equilíbrio e diálogo entre os representantes de cada clube. Tudo isso nos faz questionar: até quando seremos obrigados a tolerar a violência no futebol?
Quando a razão é colocada de lado, a energia é direcionada apenas pelos sentimentos, e nesse cenário, o raciocínio sai de cena. A agressividade não pode ser justificada em nenhuma circunstância, seja ela realizada por jogadores, treinadores, árbitros, dirigentes, jornalistas ou torcedores.
Existe uma percepção errônea de que no futebol "tudo é permitido dentro de um estádio". Essa mentalidade precisa mudar. O esporte deve ser um ambiente seguro e respeitoso para todos, e cabe a todos nós, como sociedade, trabalhar para garantir isso.
Portanto, reitero que não podemos confiar apenas no bom senso e exemplo dos clubes e técnicos. É imprescindível que haja leis severas que punam com rigor toda forma de agressão, que não apenas ameaça a segurança dos envolvidos, mas também mancha a reputação do esporte.
Portanto, para promover um ambiente seguro e saudável nos estádios, é necessário mais do que discursos. Governo, clubes, torcedores, autoridades e instituições esportivas devem se unir para erradicar a cultura do ódio e ensinar às pessoas o verdadeiro espírito do futebol.
A violência não pode ter espaço em qualquer modalidade esportiva.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.