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Refletindo Sobre a Notícia

Erro histórico na declaração de Lula não ofende apenas os judeus

Ao equiparar as ações de Israel às de Adolf Hitler, o presidente excedeu os limites da diplomacia e do bom senso

Refletindo Sobre a Notícia por Ana Carolina Cury|Do R7 e Ana Carolina Cury

É fato que quando não se é dependente de outro e obrigado a fazer o que esse outro deseja, há liberdade. Quando a idolatria não fala mais alto, há clareza. Por isso, esse blog se considera livre para vivenciar a democracia ao pé da letra, independentemente do partido que esteja no poder.

Vejo necessário escrever isso em uma realidade onde pouco se fala dos erros do atual governo.

Lula foi declarado por Israel como "persona non grata" até que explique suas palavras
Lula foi declarado por Israel como "persona non grata" até que explique suas palavras Reprodução | RECORD

Muitos que elegeram Luiz Inácio Lula da Silva como presidente, o fizeram por aversão a Bolsonaro, e não por realmente acreditar em uma novidade política. Entendo que a torcida de todo cidadão de bem é que o Brasil melhore, independentemente de quem esteja no poder. Mas, infelizmente, o que se observa é um mandato movido por ressentimento e vingança.

Nesse andar da carruagem, uma declaração rasa e que ofende não apenas judeus, mas todos que tem respeito pela história, ganhou destaque. Milhares de pessoas, não importa crença, visão política ou classe social, que prezam pela responsabilidade e respeito, se sentiram ofendidas. 


Problemas da declaração de Lula

Quando o presidente do Brasil afirmou, durante a entrevista coletiva na Etiópia, que "O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus", além de atribuir aos judeus o pior crime da história recente da humanidade, do qual eles foram vítimas, mostra uma visão pífia e desumana, que vai de encontro às ideologias que diz defender.


Não dá para saber a raiz de tal comentário: seria desconhecimento do fato histórico mencionado? Tentativa de ganhar pontos com os países árabes? Ou então, intenção de chamar atenção de Netanyahu para cessar o conflito?

"Muito difícil conseguir explicar o motivo para a fala do presidente Lula, já que não é falta de conhecimento, uma vez que ele teve e tem assessores de política internacional sempre ao seu lado ao longo da sua carreira política. E, como uma pessoa muito inteligente, ele sempre soube aprender com os outros. Portanto, as opções são de que decorre de uma visão ideologizada partidária, na melhor das hipóteses, ou um lapso cognitivo", observa o Professor de Relações Internacionais, Gunther Rudzit.


O fato é que o que Lula recebeu em troca até agora foi um agradecimento do Hamas e um desgaste internacional. Afinal, é uma grande vergonha ser elogiado por um grupo terrorista, abominado pelo próprio povo palestino.

A falta de equilíbrio na declaração apenas desvalorizou ainda mais a causa palestina, provocando a raiva de líderes judeus e alimentando o ódio. Se há um verdadeiro desejo de ver os palestinos conquistarem seu próprio Estado, seria muito mais sensato exercer pressão sobre o governo israelense de maneira inteligente. Isso é algo que aliados históricos de Israel, como a Alemanha, o Canadá e a França têm feito.

O Holocausto torturou e matou mais de seis milhões de judeus e outras minorias.
O Holocausto torturou e matou mais de seis milhões de judeus e outras minorias. Reuters

Mais que uma imagem manchada

A crítica construtiva é sempre necessária, mas condenar a guerra atual não justifica relacioná-la ao Holocausto. "Nenhum genocídio já ocorrido, antes ou depois, se compara à política nazista. Por isso a imagem do governo Lula, que tinha como objetivo em política externa recuperar a percepção positiva internacionalmente, sai bastante desgastada. E com isso, qualquer pretensão que o presidente, ou o seu assessor especial para assuntos internacionais, embaixador Celso Amorim, tinham de fazer o Brasil um mediador para a guerra, acabou", comenta Rudzit.

Desde o dia 7 de outubro de 2023, quando o Hamas cometeu atos terroristas em Israel, resultando na perda de mais de 1.200 vidas inocentes e no sequestro de outras 240 pessoas, Lula tem adotado uma postura questionável em relação a esse conflito, bem como em outros.

Durante os dois anos do conflito na Ucrânia, por exemplo, ele permaneceu praticamente em silêncio diante das tragédias que vitimaram crianças ucranianas e centenas de mulheres foram submetidas a estupros.

Essa postura é inaceitável, uma vez que um dos princípios fundamentais da política externa brasileira é a busca por soluções pacíficas. 

Relações Diplomáticas

Ao que tudo indica, não há uma intenção do governo israelense em escalar a crise, mas as relações diplomáticas devem ficar congeladas por um bom tempo. "Possivelmente, quando outros assuntos ocuparem o noticiário, o embaixador brasileiro retornará para Israel, e até mesmo o Chanceler Mauro Vieira fará uma visita sem constar oficialmente, para tentar recuperar o diálogo pelo menos entre as duas chancelarias", esclarece o Professor.

Em uma das declarações de Lula sobre a Guerra da Ucrânia, ironizou que poderia resolver o conflito "tomando cerveja"
Em uma das declarações de Lula sobre a Guerra da Ucrânia, ironizou que poderia resolver o conflito "tomando cerveja" Reprodução / RECORD

Segundo Gunther Rudzit, historicamente, o PT sempre teve a postura de ser pró-Hamas, já que eles percebiam Israel como um aliado dos Estados Unidos. "Diante desta visão ideologizada parada no tempo, não houve nenhum questionamento do partido frente aos desrespeitos à diversidade de gênero cometidos pelo Hamas, muito menos não levaram em conta, por exemplo, que em Israel há uma das maiores paradas LGBTQUIA+, enquanto em Gaza os homossexuais têm que se esconder para não serem assassinados. Portanto, há uma incoerência, ou, no mínimo, uma falta de capacidade de crítica por parte do PT".

Alguns aliados de Lula disseram que relacionar Adolf Hitler e o Holocausto em suas críticas a Israel foi uma atitude equivocada. Além de comprometer qualquer possibilidade de diálogo a respeito do fim do conflito, o presidente acabou se colocando no rol do antissemitismo.

Da mesma forma que os seguidores fanáticos de Bolsonaro costumavam defender e justificar seus atos inadequados, os seguidores de Lula seguem o mesmo padrão. Portanto, este texto não é direcionado aos que idolatram políticos, mas sim àqueles que priorizam o bom senso e bucam, uma mudança real.

Precisamos parar de "passar a mão" na cabeça de políticos.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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