Pelé, Gloria Maria... Mortes recentes levantam polêmica necessária
As redes sociais estampam homenagens, mas trazem uma reflexão importante sobre como lidamos com as pessoas que amamos
Refletindo Sobre a Notícia por Ana Carolina Cury|Do R7 e Ana Carolina Cury
Desde a morte de Pelé há algo que não sai da minha cabeça. E hoje, com a triste notícia do falecimento de Gloria Maria, resolvi falar sobre isso.
Quando o ex-atleta partiu, clubes, jogadores, celebridades e entidades de todo o mundo prestaram homenagens. Não faltaram reportagens especiais e até programas inteiros para lembrar com carinho da trajetória do ícone. Vi também muitas críticas para alguns nomes públicos que não compareceram ao funeral.
O mesmo acontece agora com a jornalista Gloria, que morreu na manhã desta quinta-feira (2) em decorrência de um câncer. Ela estava internada no hospital Copa Star, na zona Sul do Rio de Janeiro, e deixa duas filhas, Maria e Laura.
Chovem textos e vídeos emocionantes sobre ela. Mas uma pergunta não sai da minha cabeça: será que tanto Pelé quanto Gloria foram reconhecidos dessa forma quando ainda estavam vivos?
Em vida
Eu sei que cultivar a memória de quem morreu é uma prática presente em diferentes culturas, incluindo a nossa. Não estou aqui para levantar uma bandeira contra "homenagens póstumas". Não estou dizendo para não elogiarem aqueles que partiram. Mas estou compartilhando a seguinte reflexão: de que adianta não valorizar a vida de uma pessoa e, depois que ela morrer, chorar em seu caixão?
Seria isso hipocrisia, fingimento, busca por ibope ou falta de bom senso? Não sou nenhuma celebridade, mas fico imaginando que se eu morresse hoje pessoas que sequer ligam para saber se estou bem compareceriam aos prantos no meu velório e falariam ótimas coisas ao meu respeito. E eu nem poderia dizer nada.
Afinal, a pessoa que morreu não pode se emocionar, agradecer nem sequer ouvir o que fazem ou falam dela. Elas não conseguem calar as hipocrisias que rolam por aí...
Se percebermos que devemos homenagear, reconhecer os esforços, cultivar e valorizar as pessoas por quem temos apreço em vida, tudo será diferente. Não me refiro a uma bajulação, mas sim a uma real gratidão.
Imaginem se Pelé e Gloria vissem essas homenagens quando vivos? Se Pelé pudesse ver o uniforme especial do Santos em sua homenagem? Se Gloria pudesse assistir a suas principais reportagens em um especial de reconhecimento aos tantos anos de dedicação a uma empresa?
Podemos mudar essa "engrenagem" enquanto ainda estamos vivos. E essa transformação começa primeiro dentro de nós. Então, talvez hoje seja o dia perfeito para falar aquele "eu te amo", para perdoar, agradecer a quem tanto te ajuda, ligar para os seus pais, enfim, para viver e realmente valorizar o agora.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.