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Estilo do papa e protestos criam dilema para forças de segurança no Rio

JMJ deve atrair um público estimado em até 2,5 milhões de pessoas

Rio de Janeiro|Paula Adamo Idoeta, Da BBC Brasil em São Paulo

A escolha do papa Francisco em dispensar o papamóvel blindado na Jornada Mundial da Juventude, em meio à expectativa de protestos durante o evento que começa na próxima terça-feira no Rio de Janeiro, cria um dilema para as autoridades responsáveis pela segurança do pontífice, forçando-as a adaptar suas medidas preventivas, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.

Na última quinta-feira, o general José Abreu, coordenador de segurança das Forças Armadas, disse em entrevista coletiva que a escolha do papa será respeitada, mas "não é nada agradável" para a segurança, ante o perigo de algum "ato hostil" na jornada, que deve atrair um público estimado em até 2,5 milhões de pessoas.

O papa deve usar carros fechados para se deslocar por distâncias longas, mas a expectativa é de que um carro aberto - o mesmo usado na praça São Pedro, no Vaticano – seja usado por ele para circular no Rio de Janeiro em alguns momentos da Jornada.

"O pontífice sente que essa é a melhor maneira de se comunicar diretamente com as pessoas", explicou o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, agregando que confia "na habilidade das autoridades brasileiras em lidar com a situação".


Ao mesmo tempo, há ao menos sete protestos agendados para o período da Jornada - nenhum diretamente contra o papa, mas um deles contra os gastos públicos na vinda do pontífice.

Riscos e soluções


A combinação de fatores traz grandes desafios aos quase 18 mil agentes (entre membros das Forças Armadas, da Polícia Federal e da PM) que farão a segurança do evento, dizem especialistas.

"O risco é elevado em situações assim - não tanto de atentados, mas porque, num momento desses, todo o mundo vira tiete, quer se aproximar do papa", diz, pedindo anonimato, um ex-policial federal e consultor de segurança que participou da proteção ao papa João Paulo 2º durante sua vinda ao Brasil, em 1997. "E o papa Francisco, por seu estilo, não se prende aos protocolos. Isso pode dar muito trabalho." Mas há medidas viáveis para minimizar os riscos: haverá agentes de inteligência à paisana no meio da multidão. E cordões de isolamento ou barreiras de policiais podem ser usados em pontos de grande aglomeração ou para proteger o papa em caso de hostilidades, explicam os analistas.


Para Hugo Tisaka, consultor em segurança, talvez o cordão desagrade os planos do papa, por mantê-lo distante das multidões. Mas ele acha que, se o pontífice decidir ter contato físico direto com seus fiéis, deve fazê-lo apenas em momentos previamente combinados com os agentes de segurança.

"Isso minimiza problemas e permite o planejamento prévio", como, por exemplo, a adoção de mais agentes à paisana em determinados pontos do percurso, explica Tisaka.

Na terça-feira, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) informou que há um "alerta vermelho" para protestos de "grupos de pressão" (espontâneos) e um "alerta laranja" para os movimentos "reivindicatórios" (organizados por categorias profissionais ou sociais), algo que fez o esquema de segurança do papa ser revisto pelas autoridades.

Após manifestações na zona sul do Rio terem resultado em violência e depredação nesta semana, foi anunciado que será proibida a entrada de pessoas usando máscaras na área onde o pontífice rezará a missa de encerramento da Jornada, no dia 28 de julho, no bairro de Guaratiba, zona oeste do Rio.

Os especialistas lembram também que tropas aquarteladas do Exército podem ser mobilizadas se necessário. Além disso, dois helicópteros militares sobrevoarão o papa durante seu percurso no Rio.

'Diálogo'

A ocorrência de protestos durante a Jornada também exigirá grande integração entre as forças de segurança e muita "capacidade de diálogo", avaliam os analistas.

"Os agentes de segurança têm de lidar, ao mesmo tempo, com uma multidão feliz para ver o papa e outra descontente, protestando", diz o consultor britânico Chris Phillips, que participou da segurança de visitas papais à Grã-Bretanha.

"Muito depende da boa comunicação. Cabe à polícia colocar as pessoas do seu lado, fazer com que elas se sintam ouvidas em seu direito de protestar dentro da lei, fazer com que entendam os riscos de segurança se tiverem de ser revistadas. E não lhes dar nenhuma desculpa para agir de maneira violenta."

Visitas papais trazem sempre um "alto risco", opina Phillips, lembrando que o papa João Paulo 2º passou a usar veículos blindados após sofrer um atentado, em 1981.

"E aglomerações podem conter pessoas mal-intencionadas. Por isso, sempre revistamos as áreas (de trânsito do pontífice) e revistamos todas as pessoas que estão num raio de 100 m, além de fazer uma varredura de locais que possam ser usados por franco-atiradores."

Porta-vozes das Forças Armadas disseram, em entrevista coletiva na quinta-feira, que "como regra geral os peregrinos não serão revistados" - apenas os que tiverem acesso ao palco onde o papa falará.

Mas agregaram que haverá "dispositivos e pessoas especializadas em analisar bagagens, objetos e comportamentos específicos".

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