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"Pior momento da vida", afirma universitário preso por 88 dias

Winícius Molina foi detido por porte ilegal de arma e roubo, mas família acusa PM de tentar incriminá-lo. Ele vai agora responder em liberdade pelos crimes

São Paulo|Joyce Ribeiro, do R7, com informações da Record TV

"Pior momento da vida", diz universitário preso por 88 dias em São Paulo
"Pior momento da vida", diz universitário preso por 88 dias em São Paulo "Pior momento da vida", diz universitário preso por 88 dias em São Paulo

Winícius Molina da Gama Silva, de 21 anos, foi solto esta semana depois de ficar 88 dias preso em um Centro de Detenção Provisória de São Paulo. Ele é acusado de roubo e porte ilegal de arma, mas garante que é inocente. "Nunca pratiquei crime nenhum. Os PMs mostraram uma foto e falaram que, na lista, só tinha ladrão de carga. [Na cadeia] Não tava comendo, não tava conseguindo dormir. Foram os piores momentos da minha vida", afirmou em entrevista à Record TV.

Winícius é estudante do último ano de TI (Tecnologia da Informação) e trabalha em um mercado, mas foi preso durante o cumprimento de um mandado de prisão preventiva. O roubo de carga foi ainda em 2018. A família do jovem afirma que ele foi vítima de um erro policial.

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Ainda no dia 17 de março de 2019, à noite, Winícius estava no carro da mãe com a namorada. Os dois iriam comprar um lanche quando foram parados por policiais. A abordagem ocorreu a cerca de 300 metros do 5º Batalhão da PM no Tucuruvi, zona norte da capital, região onde o jovem mora.

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A conduta de policiais deste batalhão está sob investigação e o prédio foi cercado em uma ação da Corregedoria em 25 de junho.

Na abordagem, os policiais alegaram que encontraram uma garrucha debaixo do banco do carro, mas uma testemunha assegura que não havia qualquer arma no veículo.

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Winícius conta que os PMs ligaram para a vítima do roubo de carga e disseram que ele foi reconhecido pela foto e se viraram e disseram "já que com ele não tem ideia, ele tá armado, não é?"

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Um dos policiais que apresentaram a ocorrência na delegacia é uma cabo do 5º Batalhão, que já é investigada por recolher propina do tráfico, forjar flagrantes e extorquir dinheiro de traficantes, segundo reportagem do site Ponte.

A Record TV entrou em contato com o motorista que foi vítima do assalto em 2018 e, por telefone, ele disse ter "certeza absoluta de que foi ele".

No entanto, as características do jovem e as do homem que praticou o roubo, segundo o boletim de ocorrência, não condizem. A vítima o descreveu como negro, magro, adolescente, com um cavanhaque ralo e uma verruga na testa. Mas Winícius é branco, tem pouca barba e apenas uma pinta na testa. 

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A família luta para provar a inocência de Winícius. Enquanto isso, ele vai responder ao processo em liberdade. Uma nova audiência foi marcada para setembro. "Sou 100% inocente, isso eu afirmo e reafirmo quantas vezes forem necessárias", enfatizou o jovem.

Ao R7, a auxiliar administrativo e mãe de Winícius, Wanessa Molina, descreveu a apreensão que sentia durante os dias em que o filho ficou preso: "Eu não durmo, já acordo pensando nele, choro, meu coração tá em carne viva. Falo que tenho um contâiner nas minhas costas".

Abordagem e soltura

Na época da abordagem, Winícius não tinha carteira de habilitação, mas nada suspeito foi encontrado no veículo. No entanto, segundo os familiares, os policiais mostraram a ele uma foto e perguntaram se ele era. O jovem confirmou que sim.

A partir daí, os PMs afirmaram que mandariam a foto para a vítima fazer o reconhecimento em um assalto ocorrido em 14 de junho de 2018, na alameda Lorena, nos Jardins, quando foram levados R$ 12 mil em mercadorias e o motorista ficou em poder do assaltante.

"Meu filho nunca entrou em delegacia e nem tem passagem. Eles pediram pra ele falar que estava envolvido, como ele não disse o que queriam ouvir, eles disseram que iriam prejudicar ele, que ele tinha uma arma no carro", contou a mãe.

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"Sou inocente", afirmou o jovem
"Sou inocente", afirmou o jovem "Sou inocente", afirmou o jovem

Winícius foi detido após o reconhecimento da vítima por participação no assalto. Na delegacia, uma arma 32, sem munição, enferrujada, foi apresentada e teria sido encontrada no carro. A mãe afirma que não havia arma no veículo e que ela não foi mostrada a eles. Após o pagamento de fiança no valor de R$ 2 mil, ele foi liberado.

No entanto, o processo criminal correu na justiça e, no dia 18 de abril, Winícius foi surpreendido no trabalho. Segundo a mãe, às 9h ela recebeu a mensagem dizendo "a polícia veio me pegar".

Winícius foi levado primeiramente para a Luz, onde ficou cerca de 4 horas. De lá, foi pra 77º DP, na Santa Cecília, onde passou a noite. No dia seguinte, foi conduzido para o CDP (Centro de Detenção Provisória) do Belém, onde ficou por alguns dias. Depois foi para o CDP da Vila Independência, onde permaneceu em uma cela com mais de 30 pessoas.

Na terça-feira (14), Winícius conseguiu um habeas corpus, deixou o CDP e foi recebido pelos pais: "Tava deitado, aí gritou: liberdade, liberdade. Eu fiquei com a cabeça deitada, pedindo para Deus. Eles chegaram na cela e falaram é você. Nem acreditei, deixei tudo pra trás e saí".

Contradições

O assalto do qual Winícius é acusado ocorreu em 14 de junho de 2018, data da abertura da Copa do Mundo de futebol na Rússia. Segundo a família, o jovem estava em casa, na região da Parada Inglesa, na zona norte, para acompanhar a partida. Uma foto dele foi tirada na ocasião.

Mas na alameda Lorena, por volta das 9h, uma carga de cigarros era roubada. A vítima teria ficado com o suspeito armado dentro de uma UBS (Unidade Básica de Saúde) no Parque Edu Chaves, na zona norte, até que a carga fosse descarregada. O local fica a 16 km dos Jardins.

"Ele nem conhece esses lados da cidade, está sendo acusado de forma injusta. Foram policiais mal intencionados que pegaram o meu filho", desabafou o pai, o comerciante Alecsandro Dantas da Gama Silva.

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O advogado da família tenta mostrar à justiça as contradições e falhas na investigação. As imagens das câmeras do dia do assalto e da UBS nunca foram solicitadas e há um despacho de fevereiro de 2019 com o indiciamento de um homem de nome Willian pelo roubo de carga.

"Ele foi preso por causa desse reconhecimento. É tudo muito estranho. Os policiais terem a foto do meu filho, ligar para a vítima, a arma e não termos acesso às câmeras", ressaltou Alecsandro.

O outro lado

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informou que, diante das denúncias apresentadas pela família, a Polícia Militar instaurou uma investigação preliminar para apurar os fatos.

Relatou também que o homem foi preso em flagrante por posse ilegal de arma de fogo em 17 de março de 2019. Ele foi apresentado ao 73º DP (Jaçanã) e liberado após pagamento de fiança.

Segundo a SSP, durante o registro da ocorrência, o indiciado foi reconhecido por uma vítima como autor de um roubo de carga de cigarros ocorrido na área do 78º DP (Jardins). Em novembro de 2019, o Poder Judiciário encaminhou o inquérito policial do roubo ao 73º DP para continuidade das diligências. Em 17 de dezembro, foi relatado à Justiça e não retornou mais ao DP.

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