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Reconstrução facial, investigação e DNA: entenda o trabalho feito para identificar ossada humana

Policiais e peritos trabalham juntos para entender a causa da morte e o motivo de o corpo ter sido deixado no local

São Paulo|Isabelle Amaral, do R7

Perita explica diferenças em examinar ossada humana e corpo em estado avançado de decomposição
Perita explica diferenças em examinar ossada humana e corpo em estado avançado de decomposição

O encontro de ossadas humanas costuma vir cercado de mistérios. Como essa pessoa morreu? Há quanto tempo isso aconteceu? Quem é ela? Será que a família ainda procura por ela? O que a trouxe até aqui? Contudo, apenas uma investigação severa da polícia, com o apoio de peritos, que fazem um exame minucioso dos restos mortais, pode responder a todos esses questionamentos.

De acordo com a delegada e diretora da Adepol (Associação dos Delegados de Polícia) do Brasil, Raquel Gallinati, o primeiro passo é preservar o local e não deixar que ninguém mais interfira na possível cena do crime. Foi o que aconteceu no caso do crânio encontrado por funcionários de uma usina na cidade de Potirendaba, no interior de São Paulo, no fim de agosto.

Após essa etapa, a perícia é requisitada pela polícia para analisar a cena do ocorrido e coletar evidências. As equipes também ficam responsáveis por recolher a ossada e qualquer outro elemento que possa auxiliar na investigação.

No IML (Instituto Médico-Legal), a ossada passa por perícia antropológica, para identificar o grupo étnico da pessoa, e antropométrica, para avaliar seu gênero, o peso, a altura, a quantidade de gordura corporal, entre outros aspectos físicos daquele indivíduo.


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Também podem ser feitos exames pelo setor de odontologia-legal e, caso seja necessária, até uma reconstrução facial. Essas, geralmente, são as primeiras tentativas de identificar a vítima, segundo a perita Mabel Proence.

A especialista, que trabalha em um laboratório de genética forense no estado do Tocantins, explica que, inicialmente, os profissionais lidam apenas com suspeitas e verificam, por exemplo, se alguma pessoa que desapareceu foi vista pela última vez na região em que a ossada foi localizada.


A identificação fica mais fácil quando a vítima não está em estado cadavérico. A família, que muitas vezes já está procurando pela pessoa, pode ser chamada para reconhecer o corpo.

“A gente pede a eles que mandem qualquer coisa que facilite a identificação, pode ser uma escova de dente, um umbigo ou dente de leite que a mãe guardou, e fazemos essa comparação”, afirma Proence.

Se for constatado que o corpo é de uma pessoa que já era procurada, os trâmites ficam por parte da família, e o processo termina, caso a morte tenha ocorrido por motivos naturais. Se não, a investigação de homicídio segue dentro da polícia.

Quando o corpo está em estado avançado de decomposição ou apenas a ossada é encontrada, há uma série de processos a serem feitos, segundo Proence. Veja quais são e como acontecem:

•quando os peritos suspeitam de que o cadáver é de uma pessoa, pedem à família exames de imagem e DNA para fazer as comparações com os resultados dos exames extraídos da ossada;

• caso não haja suspeitos e, consequentemente, não haja com o que comparar, as equipes fazem os exames necessários para estimar a idade, o gênero, a dentição e o tamanho do crânio;

• as informações genéticas do dono da ossada são geralmente colocadas em um banco de DNA, em que ficam várias amostras de parentes de pessoas desaparecidas. Se acontecer um "match", como explica a perita, ou seja, uma combinação de resultados iguais, a família da pessoa é acionada;

caso não tenha nenhuma suspeita, a ossada segue guardada, e os exames são cadastrados no sistema até que haja alguma pista que possa ajudar a identificar a vítima.

Tempo de morte

Segundo a perita Mabel Proence, não é possível definir exatamente a data em que o dono de uma ossada morreu, mas é possível fazer uma estimativa. "Às vezes, 20, 30, 50 anos para mais nós conseguimos identificar. O estado de decomposição em que elas são encontradas depende das condições ambientais", ressalta.

A causa da morte também pode ser constatada na perícia, a depender do estado do corpo. Proence explica que, no caso do crânio encontrado no interior de São Paulo, só é possível saber a causa da morte se houver algum dano na cabeça, seja por pancada, seja tiro com arma de fogo, uma vez que as demais partes do corpo não foram localizadas.

A perita ressalta que só é possível um diagnóstico completo do que poderia ter acontecido com a vítima após o trabalho em conjunto de todas as partes da perícia. "Eu, por exemplo, só faço DNA. Meus colegas fazem a parte da odonto, e há os que analisam o corpo em si. Então nós juntamos todos os laudos para chegar a um possível resultado."

A delegada Raquel Gallinati conta que, em alguns casos, é possível até mesmo saber se a vítima foi torturada ou sofreu abuso sexual. A partir disso, a polícia vai atrás de possíveis testemunhas e das demais pistas para encontrar o suspeito do crime.

"A descoberta de uma ossada humana desencadeia uma operação complexa de investigação criminal e exige uma apuração meticulosa, além da ciência forense. O trabalho da polícia é crucial para elucidar o caso, identificando a autoria do crime para buscar justiça e trazer algum tipo de encerramento para as famílias envolvidas", completa Gallinati.

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