Nove em cada dez paulistanos têm pouca ou nenhuma vontade de participar da vida política da cidade de São Paulo, mostra estudo da Rede Nossa SP, divulgado nesta terça-feira (24).
Do total de respondentes da pesquisa, 64% não desejam participar de forma nenhuma, enquanto 25% têm pouca vontade. Somente 8% afirmaram querer muito atuar politicamente na capital paulista.
O número de desinteressados cresceu em relação a 2020, inclusive, segundo os dados do órgão.
O problema não se estende somente à capital paulista: trata-se de um fenômeno global, pondera o assessor de coordenação da Rede Nossa São Paulo, Igor Pantoja: “As pessoas estão muito descrentes da política”.
Para o pesquisador, se houvesse políticas contundentes da prefeitura ou do governo do estado para estimular a participação social, ao mostrar que ela poderia gerar resultados e mudança na vida das pessoas, o número de interessados seria maior.
“Um dos fatores que levam as pessoas a não valorizarem a política é exatamente a falta de retorno que elas têm. Veem que não há mudanças efetivas na vida delas”, afirma Pantoja.
A proporção de pessoas desinteressadas em participar da vida política é ainda mais expressiva entre as classes D e E (89%), com ensino fundamental completo (84%) e renda familiar de até dois salários mínimos (74%).
Nesse sentido, o pesquisador considera que as pessoas com menor escolaridade e mais pobres dispõem, de modo geral, de menos tempo para participar desses processos: “Há menos interesse em se engajar, dado que a pessoa está envolvida com outras necessidades mais imediatas”.
O pesquisador propõe um sistema de participação social mais efetivo como forma de incentivar a população, sobretudo nas camadas mais pobres.
“A gente tem um monte de conselhos, mas com pouca efetividade, pouca capacidade de fiscalizar e cobrar o poder público, ou até mesmo de propor coisas interessantes”, completa.
Para onde políticos devem direcionar as medidas
Na avaliação dos paulistanos, o foco de atuação de um político deve recair na geração de empregos e na redução de desigualdades sociais.
Houve, ainda, um aumento dos respondentes que citaram esses dois aspectos como os mais importantes do trabalho político: a redução de desigualdades subiu de 54% para 70% dos entrevistados entre 2021 e 2022, e a geração de empregos, de 70% para 75%.
Entre os dois anos, o tema que apresentou o aumento mais expressivo foi a taxação de grandes fortunas, que, após ter subido de consideração de 15% a 24% dos entrevistados, é a quarta mais citada na pesquisa desta terça.
“Cobrar mais impostos da população mais rica é um caminho apontado pelas políticas públicas e propostas em nível global, e possível de se fazer no Brasil, até em nível local. As pessoas estão atentas a isso, e é importante que a prefeitura se mostre de fato comprometida com essa questão”, avalia Igor Pantoja.
A pesquisa
Para a pesquisa “Viver em São Paulo: qualidade de vida”, foram ouvidas 800 pessoas acima dos 16 anos que vivem na capital paulista.
O estudo foi realizado em parceria entre a Rede Nossa São Paulo e o Ipec.