Manifestantes realizaram, na tarde desta quarta-feira (16), diversos atos pelo Brasil para protestar contra o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, aceito por Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no dia 2 de dezembro. De acordo com os organizadores, ao menos 260 mil pessoas participaram dos atos em 70 cidades em 25 Estados e no Distrito Federal. O movimento a favor da presidente parece ter ganhado força. No último ato pró-Dilma, em 20 de agosto, o número estimado de participantes foi de 190 mil. Os protestos fazem parte do "Dia nacional de mobilização em defesa da democracia". Além da CUT, participam da organização a CTB, a Intersindical e movimentos como MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), UNE (União Nacional dos Estudantes), FBP (Frente Brasil Popular) e FPsM (Povo sem Medo). Em São Paulo, onde ocorreu o maior ato, a manifestação aparentava ter a mesma magnitude do protesto pró-impeachment do último domingo (13). Os organizadores estimaram em 100 mil o total de participantes. A Polícia Militar não divulgou sua estimativa — a corporação também não postou comentários ou fotos em seu Twitter oficial, diferentemente do ocorrido no ato anti-Dilma. Durante a manifestação, Guilherme Boulos, líder do MTST, se contrapôs à manifestação pró-impeachment ocorrida no último final de semana. — Da mesma forma que eles vieram pra defender uma saída à direita pra crise, nós viemos para a rua para se colocar contrários ao impeachment e uma saída à esquerda pra crise. Boulos afirmou que os movimentos sociais brasileiros são "claramente contra o impeachment" porque a saída de Dilma significaria "um retrocesso" e aprofundaria "o ataque a direitos sociais". Ele, porém, disse não estar satisfeito com a política econômica do governo Dilma. O ajuste fiscal é criticado também por outras lideranças da manifestação. Wagner Freitas, presidente da CUT, disse que a entidade vai se reunir nesta quinta-feira (17) com a presidente Dilma para que ela "atenda a pauta dos trabalhadores". A CUT também defende a saída do ministro Joaquim Levy. — Se a política já deu, o ministro também já deu. Às 18h, os manifestantes passaram a marchar em direção à Praça da República. "Fora Cunha" e "Olê, olê, olá, Dilma, Dilma" eram os principais refrãos gritados pelos manifestantes. Vanda Fátima Souza, funcionária administrativa, disse que estava na Paulista para defender a democracia e chamou o pedido de impeachment de "golpe". — Não importa se eu votei na Dilma ou não votei. Mesmo se não tivesse votado, eu ainda assim estaria aqui a favor da democracia. Vitória Nakasima, professora aposentada, disse que existem diferenças entre o processo de impeachment ocorrido com Fernando Collor. — Lá tinha motivo, da Dilma não. Se for pra fazer impeachment por pedaladas vários governadores e prefeitos teriam que passar por isso. O que está acontecendo é um golpe disfarçado de impeachment. Durante a marcha, os manifestantes comemoraram a notícia de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) o afastamento de Cunha da presidência da Câmara. Por volta das 20h, os manifestantes chegaram ao destino final.No Rio, ato em frente a escritório de Cunha No Rio, os manifestantes fizeram um ato em frente ao escritório do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no centro do Rio. Durante o ato, eles jogaram para o alto notas de dinheiro impressas com a imagem de Cunha. Entre outras palavras de ordem, os manifestantes gritavam “empurra o Cunha que ele cai” e “não vai ter golpe”. De acordo com o presidente da CUT-RJ, Marcelo Rodrigues, a manifestação foi "contra o golpe". — É um ato contra o golpe. O mote é 'não vai ter golpe'. Vamos fazer um ato mais amplo, mais leve, mais aberto para quem quiser falar. É lamentável que um processo como esse tenha ido parar no STF [Supremo Tribunal Federal] e a gente espera que o STF cumpra o seu papel, que é zelar pela Constituição brasileira. Para a integrante da União dos Negros pela igualdade, Sônia Nascimento, um possível impeachment de Dilma seria uma ruptura no regime democrático. — A gente acha que é um golpe porque não tem provado nada contra a nossa presidenta. Ela não foi julgada, não tem nada que desabone a conduta dela enquanto presidenta do país, por isso a gente vê a iminência de um golpe. Sônia diz que o País precisa melhorar em vários setores, como, por exemplo, na saúde e na educação. — Mas não é por isso que a gente vai querer um golpe, a gente vai lutar pela democracia, para que o país melhore cada vez mais. A gente ficando passível pelo golpe, o país retrocede. O ator Osmar Prado disse que participou da manifestação como cidadão, representando a classe artística engajada na luta democrática. — Nós estamos hoje aqui pelo Estado Democrático de Direito, para garantir a governabilidade do governo legitimamente eleito de Dilma Rousseff, para que não haja casuísmos, golpes ou tentativas antidemocráticas de tomada de poder. Prado afirmou ainda que todos os governos fizeram manobras fiscais como as de que Dilma está sendo acusada. — Deixem Dilma governar e derrotem-na se o quiserem, democraticamente, em 2018, se o povo assim o permitir.Outras capitais Em Goiânia, cerca de 1 mil pessoas, segundo os organizadores do evento, saíram em defesa do mandato de Dilma. A Policia Militar quantificou em cerca de 250 manifestantes. O ex-deputado federal Pedro Wilson (PT), um dos líderes do movimento, disse que o apoio a Dilma tende a se intensificar. — Hoje é o nosso primeiro dia de rua, mas vamos intensificar na capital e no interior do Estado porque estamos em preparação para ocupar Brasília, em grande ato. Além do presidente da Câmara, o grupo também criticou o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) por ter privatizado o sistema de transporte público. Em Brasília, os manifestantes se reuniram em frente ao estádio Mané Garrincha. Em Recife, o protesto acontece na Praça Oswaldo Cruz. Já em Belo Horizonte, manifestantes estiveram na Praça Afonso Arinos.Leia mais notícias de Brasil*Com a colaboração de Victor Labaki, estagiário do R7