"Xerifão", "desastre" e "obscuro". O que dizem os políticos sobre Janot
Procurador-Geral da República encerra seu mandato neste domingo (17)
Brasil|Fernando Mellis, do R7
Rodrigo Janot deixa o comando da PGR (Procuradoria-Geral da República) nesta segunda-feira (18), após quatro anos no cargo, com uma coleção de fãs e desafetos no Congresso Nacional.
O trabalho à frente da operação Lava Jato conferiu a ele uma posição de destaque no País, o que veio acompanhada de muitas críticas e elogios.
Responsável por denunciar ao STF (Supremo Tribunal Federal) dezenas de parlamentares, ministros e até o próprio presidente da República, Janot divide opiniões entre deputados e senadores ouvidos pelo R7.
Árduo defensor do presidente Michel Temer, o deputado federal Darcísio Perondi (PMDB-RS) diz que o procurador-geral sai com a “imagem manchada”.
— Um desastre. Tomara que ele não esteja envolvido com o procurador [Marcelo] Miller, que é um procurador que deu um prejuízo intangível para as contas públicas e para a economia do Brasil. Ele prejudicou a PGR e feriu a Lava Jato. [Janot] está em baixa, ele não tem prestígio. O prestígio dele no Congresso é quase zero.
Já a senadora Ana Amélia (PP-RS) avalia o trabalho de Janot como “inovador”, principalmente por causa da Lava Jato.
Ela pondera, no entanto, que os episódios recentes envolvendo a delação dos executivos da J&F, além de uma foto do procurador-geral com o advogado de um dos delatores, levantam dúvidas.
— Deixa bons serviços, mas deixa uma dúvida grande em relação ao que fez o seu assessor direto Marcelo Miller nesse rumoroso acordo feito com o Joesley Batista, da JBS. Lamentavelmente, essa gestão dele termina contaminada por esse processo.
A imagem de Janot no Senado é positiva entre “aqueles que não foram alcançados pelas investigações”, na visão do senador Álvaro Dias (PODE-PR).
— Ele foi uma espécie de ‘xerifão’ da operação Lava Jato e fundamental no êxito da operação, especialmente por sua postura de independência e ousadia, sem estabelecer seletividade para as investigações e eventuais denúncias que tiveram a sua participação. É claro que há ataques, nós conhecemos bem esse filme dos ataques. É uma estratégia que se adota no mundo do crime para desqualificar quem denuncia e quem julga.
Após solicitação de Rodrigo Janot, o STF autorizou a abertura de inquérito contra 24 senadores: 30% dos 81 senadores que compõem a Casa. Um deles é Renan Calheiros (PMDB-AL).
O peemedebista, que é um duro crítico de Janot, diz que “o País pode conhecer a obscuridade da sua atuação nos últimos dias do seu mandato”, citando o episódio envolvendo o ex-procurador Marcelo Miller.
— Janot atuou politicamente e tentou confundir a população dizendo que quem era contra o que ele fazia, os abusos que cometia, era porque era contra a Lava-Jato. Isso é uma mentira. Acho que a atuação dele enfraqueceu e reduziu a credibilidade do Ministério Público. Ele tentou desestabilizar as relações institucionais e criminalizar a política de forma generalizada.
Para o líder do DEM na Câmara, deputado Efraim Filho (DEM-PB), o procurador-geral acabou afetado pelos fatos ocorridos durante o período em que esteve no cargo, principalmente a Lava Jato. “Houve uma tensão institucional entre Câmara e Ministério Público”, diz.
— Na balança, o saldo é positivo, mas com erros e acertos. Eu acredito que ele [procurador-geral] cometeu alguns excessos quando a tensão política ultrapassou a conduta, que deveria ter um perfil mais técnico.