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CPI: Prevent indicava cuidados paliativos para gerir recursos

À CPI, Walter Correa, ex-funcionário da operadora, disse que havia pressão por parte da empresa para indicar cuidados paliativos

Brasília|Sarah Teófilo, do R7, em Brasília

Médico Walter Souza, ex-funcionário da Prevent Senior
Médico Walter Souza, ex-funcionário da Prevent Senior Médico Walter Souza, ex-funcionário da Prevent Senior

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, nesta quinta-feira (7), o médico Walter Correa de Souza Neto, ex-funcionário da operadora de Saúde Prevent Senior, disse que a empresa adotava a indicação de cuidados paliativos (termo usado para uma série de ações em pacientes com diagnóstico de doença crônica grave, que ameaça a vida, com o intuito de dar conforto e melhorar a vida da pessoa) como forma de "gerir recursos". Segundo ele, havia uam pressão para colocar pacientes nos leitos desse tipo, indicados a pessoas com doenças incuráveis.

"Isso dentro da Prevent é uma coisa meio cultural. Que fique bem claro que a Prevent não é Auschwitz, não vão paliar todo mundo que vai entrar ali, mas, às vezes, pela gerência de recursos, que é extremamente rígida, e com essa hierarquia rígida, isso muitas vezes induz o médico ao erro. Então, o médico, às vezes, que está julgando que um paciente não é viável, muitas vezes ele, na verdade, poderia ser viável. Então, e é um erro que às vezes a gente vê acontecer com uma certa frequência dentro da Prevent, nem sempre intencional, mas que essa cultura provoca isso", afirmou.

O profissional pontuou que a gestão de recursos é louvável em diversos contextos, mas que na Prevent, isso "muitas vezes passava do ponto". Ele relatou que diversas vezes, no pronto atendimento, quando estava internando um paciente, os médicos eram pressionados pelo chefe do plantão para "paliar pacientes". "'E aí, você já paliou esse paciente?' 'Não, eu não acho que ele é viável, você não vai pedir UTI, é enfermaria porque nós já vamos paliar, conversa com a família, conversa com a família e já coloca ele no paliativo'. Então, assim, você era pressionado para fazer esse tipo de coisa, porque essa era uma forma de gerir os recursos", relatou.

O profissional ainda contou um exemplo pessoal, quando estava cuidando de uma senhora de quase 90 anos que os chefes de plantão queriam direcionar a esses cuidados paliativos, mas após resistência da família, a idosa passou pelos procedimentos comuns e recebeu alta três dias depois. A mulher estava em uma condição grave, mas tinha um estado geral bom, sem comorbidades. Pela idade avançada, ele explicou que pediu a internação, e chefes de plantão da sala de observação queriam paliar a paciente. 

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"E aí o familiar voltou e conversa comigo: 'Olhe, estão querendo paliar essa paciente... Estão querendo paliar minha mãe. O que eu faço? O que eu faço?'. Então, eu falei: 'Olhe, não aceite, diz que a senhora quer que faça tudo, volta lá e fala que a senhora quer que faça tudo, não aceita, fala que quer que faça todo o procedimento'. E ela voltou, conversou com esses colegas, e eles acabaram realmente passando o acesso central, começaram com uma droga vasoativa e antibiótico. Essa paciente respondeu superbem, teve alta três dias depois. E essas coisas eram relativamente comum, essas pressões", afirmou

Em seguida, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) comentou: "Verdadeira casa da morte".

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"Eliminar pacientes"

Também presta depoimento à CPI nesta quinta-feira o advogado Tadeu Frederico Andrade, paciente da Prevent Senior. Ele relatou que ficou internado em uma unidade da operadora por 120 dias, parte desse período em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e que houve tentativa de médicos da empresa de colocá-lo em um leito híbrido para cuidados paliativos.

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"Minha família lutou contra essa poderosa corporação chamada Prevent Senior. Eles lutaram para que eu não viesse a óbito. Eles, minha família, não aceitaram a imposição dos chamados cuidados paliativos, que era a prática utilizada pela Prevent Senior para eliminar pacientes de alto custo", afirmou. Ao R7, a Prevent disse "considerar tal afirmação absurda".

O advogado, que se identifica como sobrevivente, afirmou que durante o período da sua internação, uma médica da operadora ligou para uma de suas filhas do paciente comunicando que ele passaria a ter os cuidados paliativos. "Ou seja, eu sairia da UTI, iria para um chamado leito híbrido e lá teria, segundo as palavras da Dra. Daniella, maior dignidade e conforto, e meu óbito ocorreria em poucos dias. Seria ministrada em mim uma bomba de morfina e todos os meus equipamentos de sobrevivência na UTI seriam desligados", relatou.

A família do advogado não concordou e chegou a se reunir com a médica. Ainda assim, no mesmo dia, a médica que o atendia inseriu no seu prontuário o início dos tratamentos paliativos sem autorização da família, segundo o depoimento. "Recomenda que se desligue, não se faça mais hemodiálise, não se ministrem mais antibióticos, enfim, também não faça a manobra de ressuscitação e que administre a bomba de morfina. E, ao final, ela diz o seguinte, nesse prontuário que já está nas mãos da CPI: 'Em contato com a filha Mayra, a mesma entendeu e concorda'. Isso é mentira, minha família não concordou", contou Tadeu.

Em nota, a empresa refutou a afirmação de que iniciou o tratamento paliativo ao paciente sem autorização da família. "Já tornado público via imprensa, o prontuário do paciente é taxativo: uma médica sugeriu, dada a piora do paciente, a adoção de cuidados paliativos. Conversou com uma de suas filhas por volta de meio-dia do dia 30 de janeiro. No entanto, ele não foi iniciado, por discordância da família, diferentemente do que o sr. Tadeu afirmou à CPI. Frise-se: a médica fez uma sugestão, não determinação. O paciente recebeu e continua recebendo todo o suporte necessário para superar a doença e sequelas", pontuou.

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