Governador de SC diz que omitiu envio de tropas para "não entregar o ouro ao bandido"
Raimundo Colombo informou que enfrentou críticas para garantir sucesso das medidas
Cidades|Da Agência Brasil
O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, justificou a omissão de informações, nas últimas duas semanas, sobre as negociações com o governo federal para combate à série de ataques violentos no Estado para “não entregar o ouro ao bandido”. Segundo ele, foi preciso enfrentar “a impopularidade e as críticas” de setores da imprensa e da sociedade para garantir o sucesso das medidas.
Embora já estivesse acertado com o Ministério da Justiça desde 6 de fevereiro, o envio da Força Nacional de Segurança ao estado só foi confirmado oficialmente no último fim de semana. As tropas chegaram a Santa Catarina na última sexta-feira (15), mas a portaria que formaliza seu emprego pelo período de 90 dias foi publicada na edição desta segunda-feira (18) do Diário Oficial da União.
Força Nacional ficará pelo menos 90 dias em Santa Catarina
Três ônibus são incendiados e sobe para 36 o número de cidades atacadas em SC
Em entrevista à edição deste domingo (17) do programa Com a Palavra, o Governador, disponibilizado no site oficial do governo catarinense, Colombo ressaltou que o sigilo era fundamental para garantir o efeito surpresa e não comprometer os resultados.
— Você não pode avisar aos bandidos que hora você vai agir, onde você vai agir. Você não pode sinalizar o que vai fazer. O silêncio não é um instrumento dos fracos, de quem está fugindo, mas é um instrumento de força, uma estratégia.
Colombo ressaltou que, desde que o governo federal disponibilizou o apoio da Força Nacional, no início do mês, as tropas estavam em alerta para ir ao Estado, caso os atentados se intensificassem e a operação contra as facções tivesse que ser antecipada.
— Isso não foi necessário. Não podíamos fazer no pré-carnaval nem no carnaval [quando, segundo as autoridades, cerca de 300 mil pessoas estavam na capital catarinense e nas cidades do litoral para o feriadão]. Mas a Força Nacional ficou à disposição e se houvesse qualquer alteração do quadro ela estaria aqui em duas horas e meia.
O governador enfatizou que as ações do estado no último fim de semana ajudaram a quebrar a “espinha dorsal do crime organizado”. No sábado (16), a Polícia Civil de Santa Catarina deflagrou, em conjunto com a Força Nacional, uma operação em que foram cumpridos pelo menos 70 mandados de prisão. Além disso, na madrugada de sábado, 40 presos acusados de comandar os ataques foram transferidos para instituições federais de segurança máxima em outros estados.
Raimundo Colombo reconheceu que “ainda há muito que fazer” e disse que o governo vai concentrar esforços para que presos de menor periculosidade não sejam usados “contra a sua vontade” pelas facções criminosas que atuam no interior dos presídios.
— O sistema prisional vai ter que separar esta realidade.
Segundo o último boletim da Polícia Militar, desde a noite do último domingo (17) foram registrados mais quatro ataques em Santa Catarina, tendo subido para 111 o número de ocorrências associadas à série de atos violentos no estado, que começaram no dia 30 de janeiro.
Pela primeira vez, houve registros nos municípios de Rio Negrinho, norte catarinense, e Água Doce, meio-oeste do estado. Ao todo, houve ataques em 36 cidades.
Entenda o caso
Santa Catarina vive a segunda onda de violência dos últimos meses. A primeira foi em novembro do ano passado. Os novos ataques começaram no dia 30 de janeiro. O Estado voltou a registrar ônibus, viaturas das polícias Militar e Civil, e veículos particulares incendiados. Bases da PM e delegacias também foram atacadas com tiros ou coquetéis molotovs.
O número de cidades em Santa Catarina que registraram ataques supostamente feitos por uma facção que atua no Estado já supera o verificado em 2012, ano em que a série de atentados começou.
As ocorrências foram registradas em 36 municípios: Florianópolis, Blumenau, Criciúma, Itajaí, Navegantes, Palhoça, Camboriú, São Francisco do Sul, Tubarão, Laguna, Araquari, Indaial, Brusque, São João Batista, Rio do Sul, São Miguel do Oeste, Içara, Joinville, Gaspar, São José, Ilhota, Balneário Camboriú, Jaraguá do Sul, Maracajá, Chapecó, Bom Retiro, Garuva, São Bento do Sul, Porto União, Imbituba, Guaramirim e Campos Novos, Balneário Rincão, Itapoá, Água Doce e Rio Negrinho.
O motivo teria relação com maus-tratos a detentos, assim como aconteceu em novembro. Um vídeo gravado em um presídio de Joinville mostrou presos sendo torturados por agentes penitenciários.