A coalizão que colocou Naftali Bennett como primeiro-ministro de Israel e tirou Benjamin Netanyahu do poder, após 12 anos como premiê, será dissolvida pelos constantes conflitos com os palestinos. Como consequência, os israelenses precisarão voltar às urnas pela quinta vez em três anos e meio. Bennett renunciou ao cargo na segunda-feira (20) após perder o apoio dos parlamentares árabes, que ajudaram a eleger o político de direita radical. Ao lado do centrista Yair Lapid, o objetivo do premiê era tirar do poder Netanyahu, acusado de corrupção em uma série de casos. Para isso, Bennett e Lapid recrutaram os "anti-Bibi" — apelido de Netanyahu — na esquerda, centro, direita, e também na pequena formação árabe Raam, que concentra seu apoio entre os beduínos no sul do país. A mensagem do novo governo era clara: tentar "unir" todos os setores da sociedade israelense e "evitar" questões que dividissem. A coalizão adotou um primeiro orçamento de Estado em mais de dois anos, mas começou a se desfazer nos últimos meses, em meio a confrontos entre manifestantes palestinos e policiais israelenses na Esplanada das Mesquitas em Jerusalém. O partido árabe, então congelou seu apoio ao governo. No início de junho, a crise eclodiu. Os parlamentares árabes se recusaram a votar para renovar uma lei que concede aos 475 mil colonos na Cisjordânia os mesmos direitos que os israelenses, indignando os parlamentares de direita dentro da própria coalizão. Analistas apontam que a falta de um acordo entre todos os partidos da coalizão retratou que não havia apoio interno suficiente para aprovar uma lei fundamental para a população judaica israelense Incapaz de aprovar a lei, Bennett renunciou na segunda-feira (20) e anunciou que organizará antes da próxima semana uma votação sobre a dissolução do Parlamento. Netanyahu, de 72 anos, imediatamente acusou a coalizão de ter "contado com o apoio de terroristas" e de ter "abandonado o caráter judaico de Israel". "Há uma maioria de direita no Knesset (Parlamento), mas alguns preferiram se associar a um partido árabe do que a mim .[...] Não vou formar uma coalizão com Mansur Abas", do Ram, insistiu Netanyahu, chefe do Likud (direita). Para o analista político Aviv Bushinsky, "parte da direita em Israel considera que a presença de árabes israelenses no governo foi uma experiência interessante, mas que o preço a pagar no final era alto demais". Neste contexto, um dos principais eixos da próxima campanha eleitoral poderia ser "judeus contra árabes", disse Yediot Aharonot, o jornal mais vendido de Israel. "O Likud vai dizer que integrar um partido árabe à coalizão foi um pecado imperdoável, um ato de traição. As pesquisas do Likud já detectaram entre os judeus israelenses uma espécie de ódio ou desejo de se vingar da minoria árabe", que responde por cerca de 20% dos 9,6 milhões de habitantes, apontou a publicação israelense. Para a analista Dahlia Scheindlin, há uma lição a ser aprendida com essa coalizão heterogênea. "No final, nenhum governo pode se dar ao luxo de deixar de lado o conflito israelense-palestino", como esta coalizão tentou fazer. "Acho que desde o início Netanyahu — que é um bom estrategista político — sabia que havia muitas coisas sobre as quais a coalizão podia se entender, mas havia algo muito importante que os dividia, a saber, a ocupação [dos territórios palestinos] e o conflito. E [Netanyahu] mergulhou nessa ferida." Seja qual for o resultado da crise política, o Departamento de Estado americano disse que tem a intenção de continuar sua "aliança estratégica" com Israel e que sua relação com o país "independe de quem ocupa o cargo de primeiro-ministro".