A comunidade internacional se comprometeu, nesta quinta-feira (31), a fornecer US$ 2,44 bilhões em ajuda humanitária para o Afeganistão, pouco mais da metade dos US$ 4,4 bilhões que a ONU se propôs a arrecadar para enfrentar o fantasma da fome nesse país.
O anúncio foi feito por 41 países em conferência virtual de doadores organizada pelas Nações Unidas, Reino Unido, Alemanha e Catar.
"Sem ação imediata, enfrentaremos uma crise de fome e desnutrição no Afeganistão", alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em seu discurso de abertura.
A conferência de doadores acontece uma semana depois do fechamento das escolas de ensino médio para mulheres por parte do regime talibã, o que gerou indignação mundial, apesar da promessa do grupo de apresentar uma versão moderada de seu duro regime anterior, que vigorou entre os anos de 1996 e 2001.
Os talibãs retomaram o poder no Afeganistão em 15 de agosto do ano passado, após a retirada apressada das tropas internacionais, lideradas pelos Estados Unidos. A crise humanitária se agravou desde então.
A ONU, o Reino Unido, a Alemanha e o Catar, co-anfitriões da conferência virtual, condenaram o fechamento dos colégios femininos, mas insistiram que a comunidade internacional não deve abandonar o país, que tem 60% da população com necessidade de ajuda para subsistir.
Também pediram aos doadores que não caiam na armadilha de esquecer a crise no Afeganistão pela atenção que prestam à invasão russa da Ucrânia.
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"A Ucrânia é de vital importância, mas o Afeganistão apela a nossas almas por compromisso e lealdade", declarou o coordenador humanitário da ONU, Martin Griffiths, ao discursar de Cabul.
A organização alertou para o fato de que o Afeganistão está próximo de um colapso econômico: mais de 24 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.
"Precisamos evitar o pior no Afeganistão, e por isso pedimos aos doadores que sejam generosos", disse Griffiths.
O diplomata britânico afirmou que serviços básicos como saúde e educação estão "de joelhos", enquanto milhões de pessoas não têm acesso a emprego e muitos fazem empréstimos para sobreviver.
"E, como se as coisas não pudessem piorar mais, o país sofre a pior seca em décadas", acrescentou.
Griffiths disse esperar que medidas como o fechamento dos colégios de ensino médio para mulheres sejam "revogadas em futuro próximo".
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed Al Ansari, disse que os talibãs devem escutar do mundo muçulmano o princípio de que "os ensinamentos do Islã não marginalizam as mulheres".
"Entendemos a sensibilidade de fazer doações ao Afeganistão neste contexto, mas insistimos também na importância de não isolar o Afeganistão. Isso legitima as posturas radicais", declarou Ansari.