O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou na segunda-feira (7) que aceitou se reunir com representantes da oposição na terça, a pedido de uma delegação da Unasul que visita Caracas para acompanhar o diálogo entre ambos os setores. "Tivemos uma conversa bastante ampla. Eles me propuseram fazer uma reunião amanhã (terça) com a delegação da oposição, e eu aceitei", disse Maduro, no final de um encontro de mais de uma hora com oito chanceleres da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).Opositor venezuelano convoca da prisão mobilização contra o governoSupremo da Venezuela aprova a cassação de mandato de deputada da oposição Estavam presentes na reunião os chanceleres do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo; da Argentina, Héctor Timerman; Bolívia, David Choquehuanca; Colômbia, María Ángela Holguín; Chile, Heraldo Muñoz; Equador, Ricardo Patiño; Uruguai, Luis Almagro, e Suriname, Winston Lackin. Os chanceleres da Unasul, que fazem uma segunda visita à Venezuela para tentar contribuir no diálogo entre governo e oposição, se reuniram também com o ex-candidato presidencial Henrique Capriles e os governadores contrários ao presidente Nicolás Maduro. Ao término da reunião, Capriles, governador do estado Miranda, informou aos jornalistas que a coalizão de oposição Mesa de la Unidad Democrática (mesa da unidade democrática, MUD) foi "extremamente clara em todas as abordagens" para o diálogo. "Há milhares de venezuelanos que sofrem em nosso país e qualquer diálogo tem que estar baseado nisso, nas pessoas que foram torturadas, nos estudantes que foram detidos, nos presos políticos", disse. A MUD afirmou anteriormente, em uma carta entregue aos chanceleres, que está disposta "a um diálogo verdadeiro, com uma agenda clara, em igualdade de condições e cujo primeiro encontro seja com transmissão ao vivo em rede nacional de rádio e televisão". Além disso, reivindica que uma terceira parte, "de boa fé nacional ou internacional que garanta, facilite e, caso seja necessário, intervenha" no diálogo, mencionado a possibilidade de que seja "o Vaticano". Também reivindicam "uma comissão da verdade independente" e uma "lei de anistia" para aqueles que consideram como presos políticos, assim como o desarmamento dos "coletivos" chavistas a quem associam com grupos paramilitares. A MUD entregou a carta depois que o presidente Nicolás Maduro anunciou sua decisão de aceitar a proposta da Unasul de se sentar com a oposição para um diálogo que vem sendo proposto há semanas. O também governador da oposição, Henry Falcón, do estado de Lara, disse que "amanhã (terça-feira) acontecerão reuniões da própria MUD para estudar a possibilidade de que haja um encontro preparatório e para decidir sobre um possível diálogo com o governo". "Existem algumas condições que foram colocadas pela MUD e de acordo com isso serão tomadas as decisões", disse Falcón aos jornalistas, que também falou na reunião junto com Capriles e o governador do Amazonas, Liborio Guarulla. Jornalista da Globovisión é sequestrada em Caracas Falcón opinou que ainda há "tempo para reverter a situação de conflito na Venezuela". "Não é somente a oposição quem tem que pleitear o diálogo em termos reais, efetivos", disse, ao garantir que quem deve "dar as melhores demonstrações de diálogo é o governo, baixar o tom de seu discurso, agir de acordo com a Constituição e as leis, revisar cada um dos casos das pessoas que foram detidas", disse. "Se essa reunião (entre governo e oposição) for finalmente concretizada, será uma grande mensagem de paz, de democracia, do nosso país a todo o nosso povo", disse Maduro à imprensa no Palácio de Miraflores. "Oxalá os dirigentes políticos da MUD não recuem e se sentem" para dialogar. Maduro, que completa um ano de presidência no dia 14 de abril, revelou que será a Unasul a anunciar o local e a hora da reunião. "Estou certo de que a agenda será livre", afirmou. O presidente antecipou que apresentará como prioridade do diálogo "abordar o plano de pacificação nacional" e que pedirá "à oposição que se some à luta contra a criminalidade" e a um "plano de investimentos e de desenvolvimento econômico" para o crescimento e o abastecimento. Entre 7 e 8 de abril, a comissão de diplomatas terá uma nova rodada de reuniões com diferentes setores da sociedade venezuelana, depois de ter visitado o país na última semana de março. Na visita anterior, a delegação conseguiu que Maduro e a oposição concordassem em que uma "testemunha" facilitasse o diálogo. Um dos candidatos mais cotados pelos dois lados é o secretário de Estado do Vaticano e ex-núncio na Venezuela, Pietro Parolin. Antes do anúncio do presidente, a coalizão opositora deu as boas-vindas aos chanceleres, mas advertiu que sua presença "será útil apenas se o governo se comprometer sinceramente com o diálogo". Os opositores também criticaram o discurso "tenazmente agressivo" de Maduro contra quem é desfavorável ao governo. Maduro acusa a oposição de promover um golpe de Estado com os protestos, enquanto a MUD responsabiliza o governo pela detenção do líder do partido Vontade Popular, Leopoldo López, e de outros dois prefeitos, assim como pela cassação da deputada opositora María Corina Machado. Os protestos, iniciados em 4 de fevereiro para exigir mais segurança após um ataque contra uma estudante, se alastraram por todo o país e tomaram outras bandeiras, como a crise econômica, a repressão policial e a prisão de estudantes e dirigentes da oposição. A Venezuela é sacudida por uma onda de protestos contra a criminalidade, o desabastecimento e a inflação que em oito semanas já deixou 39 mortos, 600 feridos e mais de 100 denúncias de violações dos direitos humanos.América Latina tem reação "tímida" a violações de direitos humanos, denuncia ONGBerlim acusa Caracas de violar direitos humanos da oposiçãoMiss venezuelana aparece amordaçada e sangrando em campanha contra a repressão no país