Família diz acreditar que disparo que matou menina no Lins partiu da PM
"Não foi bala perdida, foi um ataque direto às forças policiais presentes", disse PM
Rio de Janeiro|Do R7
A família da menina Vanessa dos Santos disse acreditar que o disparo que matou a criança tenha partido da arma de policiais. A menina, de 10 anos, foi baleada na cabeça durante tiroteio na tarde de terça-feira (4), na comunidade Boca do Mato, no Lins, zona norte do Rio. Em entrevista à imprensa, pai e tia contaram que os agentes estariam na porta da casa da família quando tudo aconteceu.
— Não foi bala perdida, não foi, não foi. Deram tiro para matar, na dúvida e tal... Não foi aquele tiro sem querer, viu, deu e depois viu a besteira que fez, infelizmente — contou o pai de Vanessa, Leandro Monteiro de Matos, de 39 anos.
No momento em que foi baleada, Vanessa estava na sala de casa com a madrinha. Ela havia acabado de chegar da escola.
— Não tinha ninguém dentro de casa, estavam elas duas. Se tivesse alguém dentro de casa não iria entrar um policial sozinho, ele foi entrando e os outros ficaram do lado de fora comigo — contou Neide Gomes, madrinha da criança.
A pequena Vanessa chegou a ser socorrida para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas já chegou sem vida na unidade. Na porta do IML (Instituto Médico Legal), na manhã desta quarta-feira (5), a família da criança cobrou providência aos Governo do Estado.
— Nós estamos esquecidos, dentro da comunidade mora gente de bem... Se isso fosse na zona sul? Se isso fosse em alguma rua do Leblon? Eu quero saber. Quero que diga aqui na minha cara, se a polícia ia entrar atirando — questionou a tia da menina, Tatiana Cristina Lopes.
No início da noite, moradores bloquearam ruas no entorno do conjunto de favelas do Lins em protesto a morte da menina. Vanessa dos Santos é a quinta criança morta por bala perdida no Rio este ano, segundo levantamento da ONG Rio de Paz.
— Hoje foi a minha sobrinha, ontem foi a Maria Eduarda e amanhã vai ser quem? To cansada, a gente está cansado disso, a UPP era para ser positiva, era para nos dar segurança e não estar esquecido como a gente está — afirmou a tia da criança.
O secretário estadual de Direitos Humanos Átila Nunese se reúne na tarde desta quarta com os familiares de Vanessa. A secretaria deve prestar assistência jurídica, psicológica e social para a família.
Nesta manhã, o Complexo do Lins amanheceu com a segurança reforçada. Policiais faziam uma nova operação no local onde a menina morava. Por segurança, as aulas na região foram suspensas. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, quatro creches e duas escolas não funcionaram, deixando mais de 1.700 estudantes sem aulas. Já moradores fizeram um protesto na rua Dias da Cruz, no Méier, em protesto contra a morte da criança.
PM nega autoria dos disparos
A Polícia Militar também diz não acreditar que a menina tenha sido vítima de bala perdida, mas para a corporação os disparos partiram dos criminosos.
— Não foi bala perdida, foi um ataque direto às forças policiais presentes — disse o major Ivan Blaz, porta-voz da PM.
Blaz disse ainda que a rajada de tiros que atingiu a menina também deixou um oficial ferido. Além de Vanessa, o subcomandante da UPP Camarista Méier também foi baleado, mas passa bem.
Segundo o major, os policiais envolvidos na operação no Lins devem ser ouvidos ainda nesta quarta. Para ele, o poderio bélico dos criminosos é o grande responsável por tragédias como a que aconteceu ontem no Lins. Uma perícia foi feita no local e vai ajudar a determinar de onde partiu o disparo que matou a criança. O Caso está sendo investigado pela DH (Divisão de Homicídios).
Em nota, a PM informou que "segundo o relato dos policiais que estavam sob fogo naquele momento, os criminosos encontravam-se nos fundos da casa e atiravam por dentro de uma janela do imóvel, onde estava a menina que morreu. A vítima foi baleada quando tentava sair da casa, sendo atingida pelos mesmos disparos que também acertaram o policial".
Veja a reportagem: