Elize chora e conta como matou e esquartejou o marido: "Eu não estava normal naquela hora"
Segundo a acusada, ela queria sumir com o corpo e a única forma que encontrou foi cortá-lo
São Paulo|Ana Ignacio, do R7
"Eu poderia ter ficado calada, não era para eu ter falado do detetive, eu poderia ter feito um milhão de coisas... Eu não estava normal naquela hora, eu estava sem dormir há dois, eu não sei explicar, eu me arrependo. Queria que ele calasse, que aquilo tudo acabasse. Eu não optei pelo tiro, aconteceu".
Em meio a lágrimas, Elize Matsunaga narra os momentos que antecederam o assassinato do marido, Marcos Matsunaga, com um tiro na cabeça em 19 de maio de 2012 dentro do apartamento em que o casal morava em São Paulo. Durante seu interrogatório, que começou por volta das 10h20 deste domingo (4), ela falou que no dia do crime os dois discutiram.
Ela desconfiava que Marcos estava tendo um relacionamento com outra mulher e contratou um detetive para seguir o marido enquanto ela viajou para o Paraná com a filha do casal, então com um ano. Na volta, diante do que ela chamou de "mais uma mentira", Elize acabou confrontando o empresário durante o jantar.
— Não aguentei. Falei para ele parar de mentir e que eu sabia de tudo e que tinha contratado um detetive. Ele ficou nervoso, bateu a mão na mesa, me xingou de vaca, vagabunda e me deu um tapa no rosto.
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Depois disso, segundo Elize, ela foi para outro cômodo da casa e pegou uma arma que o casal deixava guardada, mas se arrependeu. Ela ouviu que Marcos estava vindo em sua direção e ficou assustada.
— Eu não esperava isso dele, eu fiquei com medo. Eu queria que ele parasse. Ele me viu armada e eu apontei a arma pra ele. Ele estava me xingando, ele não parou, continuou andando. Ficou surpreso [quando me viu com a arma] e começou a rir, falou que eu não tinha coragem de atirar. Falou que eu era uma p***, para eu ir embora com minha família de b**** para o Paraná e deixar minha filha aqui. Quando falou que eu não ia mais mais ver minha filha eu não aguentei. E eu disparei. Na hora eu estava com o coração na garganta.
Após o crime, Elize disse que não sabia o que fazer.
— Quando vi ele caído, fiquei desesperada. Não sabia o que ia fazer. Eu queria esconder e infelizmente a única forma que encontrei foi cortá-lo.
Elize conta que arrastou o corpo do marido para um quarto de hóspedes — que era o local onde ele estava dormindo. O casal não dividia mais o mesmo quarto há cerca de um mês, segundo ela. Limpou o rastro de sangue que ficou no corredor e iniciou o esquartejamento apenas pela manhã do dia seguinte, quando a babá chegou, por volta das 6h. Ela começou pelos joelhos do marido.
— Era o que estava primeiro quando entrei no quarto e era mais fácil de fazer porque eu sabia que só tinha ligamentos. Depois cortei os braços... Foi difícil porque estava duro. Depois foi a barriga e o pescoço. Coloquei em sacos e nas malas.
Na sequência, ela colocou as malas no seu carro e continuou com o plano para esconder as partes do corpo. Começou a dirigir sentido Paraná para deixar os sacos em algum mato. Mudou de ideia e resolveu voltar pra São Paulo. Ela conta que estava confusa e não tinha pra quem pedir ajuda.
— Eu não tinha como falar para a minha sogra, que sempre me tratou com respeito "desculpa, eu dei um tiro no seu filho".
Foi quando ela dirigiu até a região de Cotia, na grande São Paulo, e espalhou os sacos plásticos com as partes dos corpos. Despejou as malas em uma caçamba e retornou para casa.
Com fala calma e tom de voz baixo, Elize se emocionou algumas vezes durante o interrogatório, principalmente nos momentos em que fala da filha e da família, de seu passado e das agressões verbais que ouvia de Marcos.
"Cresci sem o meu pai e não queria que minha filha crescesse sem o dela"
No início do interrogatório, Elize falou sobre sua vida difícil no Paraná. Contou que morou parte da infância com a avó e que foi para Curitiba aos 18 anos pra fazer curso técnico de Enfermagem. Ela chegou a trabalhar em um centro cirúrgico de um hospital e disse que queria fazer faculdade, mas não tinha condições de pagar. Após uma amiga contar que conseguia bancar o estudo como garota de programa, ela resolveu fazer o mesmo. Foi a primeira vez que Elize chorou em seu interrogatório.
— Decidi fazer isso, infelizmente [chora].
No final de 2004, ela conta que Marcos Matsunaga conseguiu seu telefone em um site de acompanhantes e os dois começaram a se encontrar.
— Ele era muito gentil comigo no começo [chora]. Me tratava bem, era um cavalheiro. Não era o homem que conviveu comigo nos últimos seis meses do fato.
Após algum tempo de relação, Marcos pediu para que Elize tirasse suas fotos do site de acompanhante e deixasse de sair com outras pessoas. Ele se propôs a pagar a faculdade de direito dela e a ajudar com as despesas. Em 2007 os dois foram morar juntos em um flat e se casaram oficialmente em 2009. Segundo ela, a harmonia no relacionamento durou até 2010.
— É quando eu descubro que eles estava me traindo com uma funcionária da empresa. Cheguei a procurar um advogado [para me separar], mas descobri que estava grávida.
Elize conta que Marcos ficou feliz com a notícia e pediu desculpas pela traição.
— Perdoei porque queria que minha filha tivesse uma história diferente da minha [chora]. Eu cresci sem o meu pai e não queria que ela crescesse sem o dela.
No entanto, segundo ela, cerca de seis meses após o nascimento da filha, o comportamento do marido mudou e as brigas voltaram. Algum tempo depois, ela voltou a desconfiar de uma traição e foi quando contratou um detetive pra seguir Marcos e foi o que motivou a discussão antes do crime.
Perdão da filha
Por mais de duas horas, Elize respondeu aos questionamentos do juiz. Houve alguns momentos um pouco tensos quando o juiz questionou se ela havia se separado "só por causa da traição" e se ela havia recebido "só um tapa" no rosto — foi possível notar reação por parte dos presentes no plenário.
O juiz chegou a repreender a ré enquanto fazia as perguntas dizendo que ela esperasse ele perguntar antes de responder. No fim, ele questionou se ela tinha mais alguma coisa para dizer em sua defesa e Elize disse que gostaria de falar para a filha. O juiz respondeu que "ela não seria julgada" pela criança, mas deixou que Elize falasse.
— Ela foi o presente mais maravilhoso que Deus me deu. E quero pedir perdão para ela.
Elize disse também que sente muito pela sogra e que não queria matar o marido.
— Jamais fiz com crueldade. Se eu fiz, que Deus me castigue da pior forma possível.
No apartamento
Após responder as perguntas do juiz, a defesa iniciou seus questionamentos e Elize mostrou, no telão do plenário, como foi o seu deslocamento dentro do apartamento no dia do crime. Nesse momento, houve um desentendimento entre a defesa a acusação. A advogada de Elize pediu para que o promotor ficasse sentado para facilitar a visão dos jurados do telão. Ele não gostou do pedido e os dois iniciaram uma discussão. Roselle Soglio então disse que José Carlos Cosenzo poderia fazer "ao menos uma gentileza nessa semana" e o chamou de machista. Ele retrucou dizendo que ela não conhece essa palavra e negou que tenha sido preconceituoso com a advogada. O juiz precisou repreender as partes para dar continuidade aos trabalhos.
Elize continuou sua versão para o crime e disse mais uma vez que só realizou o esquartejamento porque queria que o crime não fosse descoberto. Ela sabia que seria presa e disse que se preocupou com a filha.
— Eu queria, de verdade, que fosse um pesadelo. Eu queria esconder aquilo porque eu sabia que quando isso fosse descoberto eu perderia a Helena [chora].
Por fim, Elize respondeu aos questionamentos dos jurados. Seu interrogatório terminou por volta das 16h15. No restante da tarde irão ocorrer os debates — que podem terminar apenas após as 22h — e o conselho de sentença se reúne para julgar Elize.