A mãe do menino de 12 anos que morreu após fumar "supermaconha", em Diadema (SP), disse que pediu ajuda ao Conselho Tutelar e sugeriu o início de algum projeto durante as férias para envolver as crianças da região na luta contra o uso de entorpecentes. Porém, ela foi informada de que a proposta só começaria depois que as aulas voltassem. “Eu sou diarista e trabalho fora, praticamente o dia todo. Meus filhos estão desde dezembro em casa, e eu queria que eles fizessem um curso de férias, mas não tinha nenhum disponível”, contou Kelly Santos. De acordo com um conselheiro tutelar do departamento 1 de Diadema, que preferiu não se identificar, não existe um projeto contra o uso de drogas porque o Conselho Tutelar não é um órgão preventivo, mas protetivo. “O Conselho Tutelar é acionado quando os direitos das crianças são negligenciados. No caso do uso de drogas, projetos de prevenção são papel da área da saúde. O que a gente pode fazer é encaminhar para serviços como o Cras (Centro de Referência de Assistência Social)”, explicou. O caso aconteceu no bairro Campanário, periferia de Diadema, na região metropolitana de São Paulo, na sexta-feira (3). A mulher contou que usar maconha sintética é comum entre meninos e meninas da região. “O uso de drogas entre as crianças não para. Em todo lugar que eu ando ainda vejo crianças usando”, falou. Kelly quer que projetos contra o uso de drogas, especialmente a supermaconha, sejam implantados na comunidade onde mora, para que a tragédia não se repita e que ninguém sinta a dor que ela sentiu quando o filho morreu. “Foi uma perda muito grande. Perder o meu filho para as drogas, uma droga que chegou em tão pouco tempo e conseguiu devastar a vida de muitas pessoas. Não dá mais”, afirmou. Também conhecida como K2, K9 e spice, a maconha sintética é uma substância química criada na década de 1990 nos Estados Unidos. Ela provoca efeitos de euforia e agitação, além de possíveis ataques epilépticos nos usuários. O consumo do entorpecente no Brasil tem crescido muito nos últimos anos, e especialistas já consideram essa droga o crack do futuro. A psicóloga de um centro de atendimento a dependentes químicos de São Paulo Giovanna Guarato Zanforli conta que a procura por internações tem aumentado muito nos últimos meses. “Eles chegam aqui quando não conseguem lidar com a abstinência. A absorção da substância pelo corpo é veloz, e isso causa um efeito muito rápido. Quando a absorção acaba, a euforia cai de forma acelerada. Isso faz com que a pessoa busque a droga cada vez mais, o que até pode desencadear quadros de violência”, afirma. Dados da SES (Secretaria de Estado da Saúde) mostram que, em 2022, ocorreram 16,6 mil internações por transtornos mentais e comportamentais associados ao uso de drogas.* Estagiária sob supervisão de Guilherme Padin