Os dez policiais do Denarc (Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico) e traficantes estarão presentes em uma acareação na sede do MP (Ministério Público) na manhã desta terça-feira (23), em Campinas, no interior paulista. A investigação, iniciada há uma semana, é conduzida pela promotoria e pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), e trata do suposto envolvimento de agentes com propina paga pelos criminosos.
A acareação está marcada para as 9h. Segundo o advogado Ralph Tórtima Stettinger Filho, que defende os agentes Renato Teixeira Pinto e Mark de Castro Pestana, a Justiça determinou que todos os policiais que estão presos participem. O policial Danilo da Silva Nascimento, de 43 anos, o mais recente a ser preso, deve integrar o número de dez policiais já detidos que devem ser levados até Campinas.
A prorrogação da prisão temporária dos agentes detidos há uma semana, quando a operação foi deflagrada, termina nesta quarta-feira (24). Assim, para manter os policiais acusados de integrar o esquema, a promotoria e o Gaeco terão apresentar elementos para a Justiça e requisitar a prisão preventiva. Caso contrário, todos poderão requisitar a libertação da prisão.
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O esquema pode ter rendido mais de R$ 2 milhões, em menos de um ano aos policiais, segundo as 400 páginas de documentos do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) entregues à Justiça. Três policiais – Daniel Dreyer Bazzan, Danilo Leonel Rodrigues Santos e Silvio Cesar de Carvalho Videira – ainda estão foragidos.
Em contato com a reportagem do R7, o advogado João Batista Augusto Junior, que representa o delegado Clemente Castilhone Júnior, da Unidade de Investigações (libertado na última quinta-feira), disse que seu cliente não integra a acareação no MP de Campinas.
A operação
A Corregedoria da Polícia Civil e o MP-SP (Ministério Público de São Paulo) desarticularam a quadrilha de policiais do Denarc suspeitos de roubo, corrupção e extorsão mediante sequestro. As investigações indicaram que os agentes recebiam propina de até R$ 300 mil de traficantes de drogas na capital e na região de Campinas.
O promotor José Tadeu Baglio ouviu na quarta-feira os depoimentos de dois delegados envolvidos no esquema, Clemente Castilhone Júnior, da Unidade de Investigações, e Fábio Amaral de Alcântara, da 3ª Delegacia de Apoio.
— Os depoimentos aumentaram as convicções do Ministério Público de que houve vazamento de informações no Denarc.
Castilhone Júnior e Alcântara teriam fornecido informações a traficantes sobre a invasão da favela do São Fernando — um dos principais pontos de venda de drogas de Campinas, comandado por Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, que está preso em Presidente Venceslau. Os dois negaram que passaram detalhes da operação policial a criminosos.
Outros dois policiais do 10º Distrito Policial de Campinas também foram chamados para depor, mas ficaram calados. O advogado Ralph Tórtima Stettinger Filho questionou a validade do depoimento de Andinho usado para incriminar os agentes.
— É a palavra de um delator traficante contra policiais com histórico de combate ao tráfico.
Investigação
A investigação foi instaurada pelo MP em outubro de 2012 e tinha, inicialmente, como objeto a atuação de traficantes, ligados a uma organização criminosa, que atuam na região de Campinas, segundo informou o promotor Amauri Silveira Filho, em entrevista coletiva no último dia 15 de julho.
— No curso do trabalho, foi detectado indicativos de possíveis desvios de condutas por parte de policiais. Como as situações eram conexas, tornou-se impossível a continuidade da investigação referente ao tráfico sem uma atenção específica sobre os desvios dos policiais, os fatos foram imediatamente comunicados à Secretaria de Segurança Pública e à Corregedoria da Polícia Civil, que, desde então, vem acompanhando o trabalho do Ministério Público e dando todo o suporte necessário.
De acordo com o promotor, ao longo dos últimos meses, os esforços foram direcionados em duas frentes distintas: a investigação em relação à organização criminosa e a identificação dos desvios praticados por policiais e quem seriam eles. Ele explica o motivo das prisões dos agentes suspeitos:
— Ocorre que, em um determinado momento da investigação, por conta de algumas condutas praticadas por policiais específicos, tornou-se impraticável a continuação do trabalho do Ministério Público, porque várias ações foram tomadas por esses policiais no sentido de prejudicar a apuração. Então, tentou-se forjar evidências, constranger vítimas e testemunhas. Daí, veio a necessidade de procurarmos o poder Judiciário para solicitar medida mais contundente, que é a prisão temporária dos policiais.