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Quase metade dos paulistanos considera que mulheres fazem a maior parte das tarefas domésticas

Segundo pesquisa, mulheres realizam mais as tarefas centrais, como preparar refeições e limpar a casa, e de cuidado diário dos filhos 

São Paulo|Letícia Dauer, do R7

Pesquisa revela que limpar a casa é a segunda atividade mais realizada pelas mulheres
Pesquisa revela que limpar a casa é a segunda atividade mais realizada pelas mulheres Pesquisa revela que limpar a casa é a segunda atividade mais realizada pelas mulheres

Limpar a casa, preparar refeições, fazer as compras, levar e buscar os filhos na escola, realizar reparos na casa, cuidar de animais domésticos, tirar o lixo, pagar as contas. Para manter uma casa, é necessária a execução de diversas atividades. Em quase metade dos lares da capital paulista, as mulheres são totalmente responsáveis ou assumem a maior parte das tarefas domésticas.

Os dados são da pesquisa “Viver em São Paulo: Mulheres" da Rede Nossa São Paulo, divulgada nesta terça-feira (7). Foram entrevistados 800 homens e mulheres com 16 anos ou mais entre 8 e 30 de dezembro do ano passado. 

Na percepção dos entrevistados, as tarefas domésticas são divididas da seguinte forma:

• 36% são igualmente divididos entre homens e mulheres

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• 29% são de responsabilidade de homens e mulheres, mas as mulheres fazem a maior parte

• 16% são de responsabilidade apenas das mulheres

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• 11% moram sozinho/a

• 6% moram apenas com pessoas do mesmo sexo

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• 1% é de responsabilidade de homens e mulheres, mas os homens fazem a maior parte

• 1% é de responsabilidade apenas dos homens

"A ideia da pesquisa é trazer à tona o quanto essa estrutura de desigualdade das mulheres em relação aos homens ainda é persistente mesmo em São Paulo, uma cidade moderna e uma das maiores do mundo. As tarefas domésticas não são vistas como uma forma de trabalho. É uma discussão grande e crescente de tentar reconhecer que são atividades não remuneradas e que são fundamentais para a reprodução do sistema econômico vigente", afirma Igor Pantoja, assessor de coordenação da Rede Nossa São Paulo.

Analisando as respostas dos entrevistados por gênero, registrou-se uma diferença discrepante entre os homens e as mulheres. Para o primeiro grupo, 44% dos afazeres domésticos são divididos de forma igualitária. Enquanto, para o segundo, o índice caiu para 30%.

"As tarefas domésticas vão além daquelas tidas como básicas pelos homens, tanto que o resultado da pesquisa mostra uma diferença gritante entre a quantidade de mulheres e homens que acham que em sua residência o trabalho é equânime. Muitos homens fazem as tarefas, mas não sem alguém pedir antes", explica a advogada Gabriela Souza, sócia da Escola Brasileira de Direito das Mulheres.

Para a advogada, a ideia de trabalho, na avaliação dos homens, está associada ao capital e às atividades fora do lar. "O homem tem a tendência de hipervalorizar o seu trabalho, ou seja, o que ele faz é muito mais valioso do que o que a mulher faz [...] Durante muito tempo, ele foi responsável socialmente pela perpetuação dessa lógica patriarcal de que eles trabalham na rua de forma remunerada", analisa.

Tudo o que eu vou fazer na minha casa%2C é o que eu já faço o dia inteiro. Todos os dias. Então%2C a sensação que eu tenho é que eu estou trabalhando vários dias do ano direto sem folga.

(Marília Soares, empregada doméstica)

De acordo com a pesquisa, o tipo de atividade doméstica executada também é diferente a depender do gênero. As mulheres realizam mais as tarefas centrais, como preparar refeições (67%) e limpar a casa (56%), e de cuidado diário dos filhos . Enquanto os homens tendem a se dedicar mais aos afazeres considerados complementares como lavar a louça (60%) e fazer compras (36%).

Jornada de trabalho

Empregada doméstica, casada, mãe de três filhos e moradora do Grajaú, na zona sul de São Paulo. Ao R7, Marília Soares, de 37 anos, conta que é responsável pela maior parte das atividades em casa. Segundo ela, o marido — que também trabalha fora — apenas a ajuda com a lavagem da louça ou das roupas eventualmente, quando ela pede.

Marília ainda reflete que para as profissionais da área da limpeza, como empregadas domésticas ou diaristas, as tarefas são ainda mais exaustivas. "Tudo o que eu vou fazer na minha casa é o que eu já faço o dia inteiro. Todos os dias. Então, a sensação que eu tenho é que eu estou trabalhando vários dias do ano direto sem folga. O meu minuto de descanso é quando eu vou deitar e dormir às 23h", desabafa.

Na casa da técnica de contábeis e aposentada Rosemary Maria Guedes Carvalho, de 58 anos, o cenário é similar. Com dois filhos, de 21 e 23 anos, e o marido, ela relata que não recebe nenhum tipo de ajuda da família, que mora na Vila Mascote, bairro nobre da zona sul.

Há dez anos, Rosemary deixou de trabalhar com comércio de alimentos para se dedicar aos filhos. O que ela não esperava era ser responsável por todo o trabalho doméstico desde a limpeza da casa até as compras de supermercado. "Eu faço tudo, tudo. Ninguém lava um prato. Eu costumo pedir, mas é uma briga. Para as pessoas, ficar em casa é um luxo, não é trabalho", revela. 

A maioria dos homens, segundo a sócia da Escola Brasileira de Direito das Mulheres, apenas executa o trabalho doméstico após as mulheres solicitarem, como é o caso enfrentado por Marília. Ou seja, mesmo quando elas não estão desempenhando determinada atividade, precisam administrar a casa e se desgastar mentalmente.

Perfil

A pesquisa da Rede Nossa São Paulo mostra que em relação às pessoas que consideram dividir de forma igualitária os afazeres de casa, 55% têm de 16 a 24 anos, 49% moram na região oeste e 44% têm renda familiar superior a cinco salários mínimos.

Enquanto nos lares onde os entrevistados afirmam que o trabalho doméstico é de responsabilidade apenas das mulheres, o perfil é o seguinte: 33% cursaram até o ensino fundamental, 32% moram na região leste, 29% têm renda de até dois salários mínimos e 29% são pessoas pretas ou pardas.

Para o assessor de coordenação da Rede Nossa São Paulo, o machismo, o racismo e a divisão mais igualitária das atividades pelo público mais jovem são alguns dos fatores que explicam esses dados.

Consequências

De acordo com Igor Pantoja, a divisão desigual de tarefas domésticas leva a uma sobrecarga para as mulheres que desempenham jornadas dupla e até tripla de trabalho. De acordo com o pesquisador, elas acumulam as funções de mãe, esposa, dona de casa e trabalhadora remunerada. 

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"São várias questões que se colocam como obstáculos para que a mulher tenha um desempenho melhor, além do machismo, que dificulta e afasta as mulheres de determinadas posições no mercado de trabalho. Essa carga excessiva de responsabilidade também contribui para a manutenção da desigualdade estrutural", explica o pesquisador.

Além de chegarem à exaustão, as mulheres sofrem com baixa autoestima, dificuldades sociais, excesso de cobrança, falta de assistência psicológica e até mesmo violência doméstica, diz a advogada Gabriela Souza. "Muitas vezes elas deixam de crescer no mercado de trabalho porque recebem tarefas e acabam tendo dificuldades", afirma.

"A divisão desigual de tarefas também é um fator de risco de violência doméstica na medida em que quanto mais igualitário for o trabalho, maior diálogo e respeito vai acontecer e é menor o risco de situação de violência", conclui a advogada.

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