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Casos de Alzheimer devem dobrar até 2030, com 90 mi de doentes

Idade é o principal fator de risco para, mas é possível ter qualidade de vida

Saúde|Dinalva Fernandes, do R7

Há 44 milhões de pessoas com Alzheimer no mundo
Há 44 milhões de pessoas com Alzheimer no mundo Há 44 milhões de pessoas com Alzheimer no mundo

Com o envelhecimento da população, a incidência de doenças relacionadas à idade está aumentando, como é o caso do Alzheimer. Já são 44 milhões de pessoas com a doença no mundo. Dados da Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer) mostram que pelo menos 7,1% das pessoas acima dos 65 anos no Brasil apresentam algum tipo de demência, sendo que Alzheimer é responsável pela metade desses casos. Até 2030, o número de diagnósticos deve mais que dobrar.

A descoberta da doença traz grande impacto para a família e o desgaste emocional é muito grande para todos, afirma o neurologista e especialista em neurologista cognitiva e comportamental pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) Antônio Eduardo Damin.

— A doença de Alzheimer impacta não só o paciente, mas também as pessoas ao seu redor. Por isso, manter o bem-estar físico e psicológico de toda a família é essencial para que o paciente seja bem cuidado. A principal característica do transtorno é a perda das funções cognitivas, com prejuízos na memória, linguagem e no comportamento, afetando a independência do indivíduo.

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O neurologista explica que o cenário da doença de Alzheimer tem melhorado nos últimos anos, com tratamentos farmacológicos e não farmacológicos. Mas ainda tem que melhorar bastante coisa na questão social.

— Tem muita gente que acha que é normal a pessoa ter esquecimento durante o envelhecimento, ficar esclerosado, caduco. A proporção de pessoas com mais de 50 anos está aumentando muito, e isso aumenta a detecção de novos casos, principalmente nos países desenvolvidos. Porém, entre 30% e 40% dos pacientes com Alzheimer não são diagnosticados.

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Não é só perda de memória

É bastante comum relacionar o Alzheimer com a perda de memória, mas os sintomas são diversos, como déficit de atenção, dificuldade em nomear objetos e de reconhecer familiares, e alterações de comportamento, segundo o especialista.

A doença de Alzheimer, como outras demências, é ocasionada pelo depósito de substâncias anormais no cérebro, que gera morte prematura dos neurônios. O diagnóstico de Alzheimer, em geral, é um diagnóstico provável porque o definitivo só é feito com biopsia cerebral, explica Damin.

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— Com o histórico de alguns sintomas clássicos de Alzheimer, como problema de memória, desorientação e dificuldade em processar a linguagem, fazemos exames laboratoriais, ressonância ou tomografia que servem para descartar outros problemas, como falta de vitaminas, por exemplo. Com isso acerta em média 90%, 92% das vezes. Raramente fazemos biopsia em pessoas vivas.

O tratamento para pacientes com Alzheimer deve ser multidisciplinar
O tratamento para pacientes com Alzheimer deve ser multidisciplinar O tratamento para pacientes com Alzheimer deve ser multidisciplinar

A agressividade é outro fator comum nos pacientes, e provém de diversos fatores, como a privação sensorial porque o estímulo sensorial é importante, explica o neurologista.

— Quem é privado de sensações tende a se manifestar de forma mais agressiva, o que chamamos de “Fenômeno do Entardecer”. Toda vez que anoitece, o paciente fica mais agitado porque o estímulo sensorial é menor à noite. Outra questão é que muitos pacientes não entendem ou não percebem a própria doença. No início, pode até entender, mas com a evolução do transtorno, ele não percebe mais. Então, ele não sabe porque tem dificuldade para fazer determinadas coisas, e isso o deixa agitado e agressivo. Outro ponto é a não aceitação dos familiares sobre a doença, e isso gera conflitos muitas vezes.

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Ainda de acordo com o especialista, embora a doença não tenha cura, quando detectada precocemente, é possível oferecer mais qualidade de vida ao paciente, por meio do tratamento multidisciplinar e medicamentos que melhoram as funções cognitivas, retardando o avanço do Alzheimer.

— O tratamento adequado inclui o acompanhamento de profissionais como neurologista, psiquiatra, geriatra, neuropsicólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo, entre outras especialidades.

‘Não sei quem você é, mas eu te amo’

O principal fator de risco para o Alzheimer é a idade, mas outros pontos também podem influenciar no desenvolvimento da doença. No entanto, Damin é enfático: não há como prevenir o aparecimento do transtorno.

— Não existe nada que evite o Alzheimer. Estudos mostram que há fatores modificáveis que podem postergar o aparecimento da doença, como controlar os fatores de risco cardiovascular (diabetes, colesterol, obesidade, hipertensão) e fazer atividades físicas, intelectuais e sociais. Já os fatores não-modificáveis, que não se pode mudar: idade e influência genética.

Para a gerontóloga e arteterapeuta Cristiane Pomeranz, o melhor a se fazer para se proteger da doença é investir em afeto.

— Se tiver que fazer alguma coisa a nosso favor é apostar no afeto e no relacionamento com as pessoas ao longo da vida.

Independentemente do que acontecer comigo, se eu tiver me relacionado bem com as pessoas e ser uma pessoa querida, tudo vai ser mais fácil. Se eu tiver um surto, por exemplo, e ofender aquela pessoa, ela vai poder relevar com mais facilidade, afinal de contas ela me ama. Eu escuto muito isso das idosas com quem trabalho: “eu não sei quem você é, mas eu te amo”.

Damin ressalta que é necessária bastante atenção com a agressividade porque nem sempre está relacionada ao Alzheimer.

— Toda vez que idosos começam a ficar agitados ou agressivos é necessário descartar outras causas, como infecção urinária.

Especialista recomenda investir em afeto para se proteger da doença
Especialista recomenda investir em afeto para se proteger da doença Especialista recomenda investir em afeto para se proteger da doença

Tirar o idoso com Alzheimer de casa é importante, mas pode ser constrangedor e difícil em alguns momentos, confessa o escritor Fernando Aguzzoli, autor do livro Quem, eu? Uma avó. Um neto. Uma lição de vida, baseada em sua experiência como cuidador de sua avó, e dono do canal Convivendo com Alzheimer.

— Uma vez, eu fui a um supermercado com a minha avó e ela disse que eu estava roubando o pão que eu tinha pegado. Eu tentei explicar para ela que só podia pagar na saída, mas comecei a olhar em volta e fiquei com vergonha daquela situação. Tem que ter muito bom humor e jogo de cintura para viver esses momentos porque é complicado.

Outro ponto importante a se pensar é a segurança do paciente com o transtorno. A família tem que perceber a dificuldade daquela pessoa e ver o que pode ser feito para ajudá-la, orienta o neurologista.

— Para uma pessoa com dificuldade de movimentação, por exemplo, o ideal é instalar apoios no banheiro; alguns idosos não podem morar sozinhos, então alguém tem que morar com eles ou passar no imóvel para checar se está tudo bem; outros não podem sair sozinhos por terem dificuldade de se orientar, então a chance de se perder é bem maior. O ideal é deixar uma identificação com ele, com nome e telefone; também é importante instalar travas de gás; em caso de o idoso morar com um parente, é bom tirar as chaves das portas e escondê-las para que idoso não saia de casa à noite. Essas são apenas algumas medidas gerais.

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