Veja doenças que os meninos podem ter por causa do confinamento
Durante o confinamento eles podem ter se exposto a problemas como raiva, hepatite e lepitospirose além de deficiências de vitaminas e proteínas
Saúde|Gabriela Lisbôa, do R7
Foram nove dias sem alimentação. No dia 23 de junho, os 12 meninos foram passear em uma caverna, no norte da Tailândia, acompanhados do técnico de futebol para comemorar o aniversário de um deles.
Por causa de uma tempestade, a caverna ficou alagada e o grupo não conseguiu sair.
Eles foram encontrados no dia 1 de julho, quando começaram a receber alimentos e remédios. Por causa da dificuldade de acesso ao local, a operação de resgate só foi iniciada neste domingo (8), quando quatro meninos foram retirados.
Nesta segunda-feira (9), outros quatro saíram da caverna, guiados pelas equipes de resgate. Todos foram levados de helicóptero para o Hospital de Chiang Rai, capital da província.
Antes da operação, os meninos passaram por uma avaliação médica, os mais fracos foram os primeiros a sair. Quatro garotos e o treinador ainda estão na caverna, mas devem ser retirados nas próximas horas. O coordenador da operação de resgate, Narongsak Osottanakorn, disse em entrevista que os meninos que já saíram estão em "perfeitas condições". Mas é no hospital que exames mais aprofundados serão feitos.
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Veja a seguir a que perigos os meninos estavam expostos e quais os problemas de saúde que devem ser investigados:
Histoplasmose – A doença da caverna
Uma das das possibilidades é a infecção pelo fungo Histoplasma capsulatum, que causa a histoplasmose. De acordo com o infectologista Jessé Reis Alves, do Hospital Emílio Ribas, a doença é um tipo de micose que não fica restrita à pele, pode se espalhar pelo organismo e afetar alguns órgãos, principalmente o pulmão.
Este fungo é facilmente encontrado em locais frequentados por aves e morcegos, como prédios abandonados, galinheiros, pombais e cavernas – por isso também é chamada de doença da caverna. Ele fica suspenso no ambiente, no ar, e pode entrar no organismo por meio da respiração.
Entre os sintomas, estão febre alta, dor de cabeça, tosse seca, dificuldade para respirar, perda de peso e lesões avermelhadas na pele. “Às vezes o fungo permanece no organismo sem causar a doença e em um momento de imunodepressão (quando a imunidade cai), pode se manifestar”, explica o médico.
De acordo com o infectologista, a histoplasmose pode causar infecção respiratória grave, alterações na medula, problemas no sistema digestivo e pode chegar a quadros realmente graves, principalmente em pessoas com problemas no sistema imunológico.
Raiva
Outra doença que pode ser comum em ambientes frequentados por morcegos é a raiva, que tem o morcego como principal transmissor.
A raiva é causada por um vírus da família Rhabidoviridae e é transmitido por meio do contato direto da pessoa com um mamífero infectado – pode ser por mordida, arranhão ou lambida. Ele entra no organismo por uma lesão na pele e se movimenta até alcançar o cérebro. É uma doença progressiva, que pode causar a morte.
O infectologista Jessé Reis Alves explica que uma ferida provocada por um morcego pode ser difícil de ser identificada. Também é difícil controlar se os meninos tiveram contato com alguma secreção de um morcego, por isso o ideal é fazer um trabalho de prevenção.
“Se existem morcegos na caverna, o correto é submeter os garotos a um tratamento de prevenção que a gente chama de pós-exposição ao vírus”, destaca o médico.
Hepatite A, leptospirose e cólera
A hepatite A, a leptospirose e a cólera são três doenças que costumam circular em áreas alagadas. “Embora não tenhamos como saber se existe esse risco na região, seria prudente fazer exames para descartar estas três doenças nos meninos”, explica o pediatra Paulo Taufi Maluf Junior, do Instituto da Criança da USP e do Hospital Sírio-Libanês.
De acordo com o médico, a água que inundou a caverna pode estar contaminada – e esta foi a única água que os meninos tiveram para beber durante os nove primeiros dias, até serem achados.
O especialista explica que a hepatite A é transmitida por dejetos humanos. De acordo com Maluf, “a água da inundação pode passar por um local contaminado e carregar o vírus. Quando isso acontece, mesmo que a pessoa beba uma quantidade pequena de água, pode ser infectada”.
Diferente da hepatite A, a leptospirose é transmitida por dejetos de ratos e costuma ser comum em áreas alagadas. O pediatra explica que, “embora não tenham a informação se existem ratos na região onde eles estão, esta é outra possibilidade de contaminação da água”.
Neste caso, não é preciso beber a água. O vírus pode contaminar o organismo a partir do simples contato com a pele.
A cólera, de acordo com Maluf, é um caso mais “hipotético, mas algumas regiões possuem água infectada, para quem está tomando água sem nenhum tipo de tratamento, a contaminação pode acontecer”.
Desnutrição e desidratação
Antes de serem encontrados pela equipe de buscas, os meninos passaram nove dias sem se alimentar – eles tinham levado apenas um lanche para o passeio, que foi consumido nas primeiras horas. De acordo com o pediatra Paulo Taufi Maluf Júnior, isso pode acarretar um quadro de desnutrição e desidratação.
O médico explica que uma pessoa tem como reservatório de energia a glicose e os depósitos de glicose, o glicogênio. Conforme aumenta o período sem alimentação, o organismo deixa de usar glicose e passa a usar, primeiro gordura e depois as proteínas que estão nos músculos e nos ossos – a última fonte de energia.
“Pelo tempo que eles ficaram sem se alimentar, é importante saber se estão com algum tipo de deficiência proteica ou metabólica, de glicose e gordura”, diz Maluf.
A investigação pode ser feita por meio de um exame de sangue e, se forem confirmadas, as deficiências podem ser tratadas com medicação.
Hipotermia
Enquanto estava desaparecido, o grupo permaneceu unido, um muito próximo do outro, para produzir calor e manter a temperatura dos corpos. A partir do décimo dia, eles receberam cobertores de alumínio para se aquecer.
De acordo com o pediatra, isso não afasta a possibilidade de hipotermia, isso por causa da taxa de glicose, que fica ainda mais comprometida.
“A hipotermia faz com que o organismo aumente o consumo de glicose para manter a temperatura. Isso faz com que a taxa fique ainda mais baixa, isso aumenta a dificuldade do organismo de controlar a hipotermia”, explica o médico.
Deficiência de vitaminas
A falta de sol e de alguns alimentos pode levar à deficiência de vitaminas D, C e do complexo B.
Maluf explica que o período em que os garotos ficaram na caverna não é o suficiente para que eles desenvolvam doenças causadas pela falta destas vitaminas, como raquitismo, causada pela falta de vitamina D e o escorbuto, causado pela falta de vitamina C.
“Os meninos não devem chegar nesse nível de deficiência, mas isso deve ser pesquisado, deve ser uma preocupação”, alerta o pediatra.
Veja imagens da operação de resgate de meninos em caverna: