A tensa e perigosa luta contra a mineração ilegal na Amazônia
Autoridades desarticularam duas minas de ouro ilegais próximas às margens do rio Xingu, a 70 quilômetros de Altamira
Brasil|Da EFE
Enquanto a Amazônia queima, as autoridades intensificam as operações contra a mineração ilegal no coração da floresta, um trabalho tenso e inclusive perigoso que tenta combater o crescente desmatamento na região.
A cerca de 70 quilômetros de Altamira, no interior do Pará, a segunda cidade mais violenta do país, as autoridades desarticularam duas minas de ouro ilegais próximas às margens do rio Xingu.
Em uma dessas minas, a equipe integrada por quatro policiais e quatro agentes ambientais foi recebida com dois tiros provenientes do interior do matagal. Um repórter fotográfico da Agência Efe acompanhava a operação.
"Quando queimamos a segunda máquina, escutamos dois tiros na nossa direção. Respondemos com tiros também", disse à Efe Paulo Teixara, agente da Polícia Federal.
"Não houve feridos, e nenhum veículo foi atingido pelos tiros. O disparo tinha a intenção de intimidar, acho que não tinha o propósito de nos acertar", acrescentou.
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Durante a operação, as autoridades queimaram dois tratores, todo tipo de material e máquinas para bombear água, como constatado pela Efe na mina, que transformou a floresta em um mar de terra onde praticamente não restou árvores de pé.
O coordenador de operações e fiscalização do Ibama, Hugo Loss, afirmou à Efe que os trabalhos de controle contra os crimes ambientais foram intensificados na última semana após a expansão dos incêndios na região amazônica. O município de Altamira concentra o maior número de incêndios neste ano, com 2.872, da última quarta até esta sexta foram registados 209.
"Nessa região, houve um aumento muito grande do desmatamento. Só neste ano foi desflorestado 10% da terra indígena Ituna Itatá. Essa terra indígena tem um decreto de restrição porque pode ser que haja índios isolados", explicou Loss, que também acompanhou a operação.
O desmatamento escalou 278% em julho deste ano na Amazônia, de acordo com os dados preliminares divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O governo federal contesta os números, e as divergências provocaram a exoneração do então diretor do Inpe, Ricardo Galvão.
Os números alarmantes de desmatamento e os incêndios na floresta aumentaram a pressão internacional sobre o presidente Jair Bolsonaro.
Segundo os especialistas, por trás do aumento do desmatamento no Brasil estão atividades como corte ilegal de árvores e a mineração artesanal ilegal, como a que foi desarticulada nesta sexta-feira nas florestas ao redor de Altamira. Com uma taxa de 133,7 homicídios para cada 100 mil habitantes, a violência da cidade também chega até o interior da floresta.
Contudo, apesar das ameaças em forma de disparos, Loss adverte que as atividades de fiscalização vão continuar sem descanso na região.
"Não temos medo. Quem tem que ter medo são eles", avisou.