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Carro popular é volta ao passado e desperdício de esforço que deveria ir para prioridades mais evidentes

A reindustrialização deve ser pensada olhando para o futuro, com novas tecnologias, sustentabilidade e demandas ambientais

Brasil|Marco Antonio Araujo, do R7

O Brasil já teve uma forte política para carros populares – que fracassou
O Brasil já teve uma forte política para carros populares – que fracassou

O governo Lula deve anunciar, nesta quinta-feira (25), um programa que talvez atraia a simpatia de muitos brasileiros, mas que, na prática, tem alguns problemas graves, talvez insolúveis, para lidar: o relançamento de uma política para fabricação de carros populares.

A ideia entra no arco da propagada reindustrialização do Brasil, uma necessidade indiscutível, urgente, mas que deve ser pensada olhando para o futuro, as novas tecnologias, a sustentabilidade e, principalmente, as demandas ambientais que têm direcionado as grandes nações.

A volta do “carro popular” é um retorno ao passado. Para piorar, com uma retrospectiva marcada por equívocos ainda presentes na memória de economistas (e mesmo daqueles consumidores que assumiram parcelamentos de até 58 meses para adquirir seu à época sonhado automóvel modelo 1.0, bem modesto tecnologicamente e sem itens de segurança hoje corretamente obrigatórios).

É no mínimo duvidoso afirmar que essa política deu certo mesmo nas décadas passadas. O governo estimulou linhas de financiamento e, erro supremo, deu às montadoras vantagens e isenções fiscais que nunca retornaram para a sociedade. Viraram lucro para empresários e, assim que o ciclo se esgotou, deixaram uma multidão de inadimplentes ou proprietários de veículos sucateados. E se mandaram.


Nessa nova investida, o governo está chamando de popular modelos que serão vendidos na faixa de R$ 50 mil, R$ 60 mil. Um valor desses pode ser tudo, menos popular, ainda mais com juros na estratosfera e uma economia que, dando tudo certo, vai se recuperar lentamente. Isso sem falar na vertiginosa automação robótica da indústria automobilística, certeza da geração de poucos empregos.

Melhor seria canalizar esses esforços para ações que melhorem a mobilidade urbana (ou transporte público, como se dizia antigamente). E reforçar políticas que gerem postos de trabalho, capacitem mão de obra e atendam à enorme lista de prioridades deste país, como uma indústria nacional de insumos e equipamentos médicos, por exemplo – cuja extrema carência (e, portanto, alta demanda) ficou demonstrada durante a pandemia da Covid-19. Deveria ser óbvio. 

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