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Currículo dará espaço para vivências pessoais nas profissões do futuro

Acúmulo e sequência de cargos estão perdendo importância, segundo estudo que inseriu as novas profissões em 10 temas atuantes na sociedade

Brasil|Eugenio Goussinsky, do R7

Emprego do futuro está ganhando um novo significado
Emprego do futuro está ganhando um novo significado

Em latim, o termo tripalium dá origem à palavra trabalho. Já nasceu ligado a uma tarefa dolorosa. Era o instrumento de tortura constituído de três (tri) estacas de madeira (palium) pontudas. Quem não pagava imposto ou não tinha dinheiro era castigado e recebia pancadas de tripalium nas costas enquanto realizava alguma tarefa.

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A evolução humana foi dando um caráter menos dramático à função. Mas o termo trabalho passou séculos vivendo de sequelas de sua origem e, até bem pouco tempo atrás, ainda era visto por muitos como uma obrigação dolorosa da vida cotidiana. A realização pessoal, neste caso, era a última da fila.

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Passados mais de dois milênios, o emprego do futuro está ganhando um novo significado. Com a atual pandemia e diante de algumas questões sociais, econômicas, políticas, ambientais e tecnológicas, as profissões têm passado por uma transformação, conforme estudo desenvolvido pelo ECar (Escritório de Desenvolvimento de Carreiras da USP). Neste estudo, o termo carreira ganhou um outro sentido, conforme afirma Tania Casado, coordenadora da iniciativa.

"A busca por um trabalho não precisa mais ser tão específica. As novas carreiras que vêm surgindo seguem o conceito 'Carreiras sem Fronteiras', observado no estudo. Não temos mais fronteiras de formação, apesar de a formação ser sempre muito importante. Mas a procura deve abrir mais o leque de interesses, com um trabalho de autoconhecimenhto. Você olha para dentro de você e para o mercado e, nessa busca, vai procurando e encontrando o seu lugar”, afirma.


O estudo se baseou em uma evolução de debates e avaliações de especialistas em carreira, acadêmicos e outros profissionais ligados ao tema, tanto no aspecto prático quanto teórico, até um consenso final.

Tania afirma que, neste conceito, um engenheiro formado não precisa necessariamente atuar em construção, por exemplo.


Ela explica que as áreas de atuação, em vez de serem divididas por profissões, passaram a ser organizadas em 10 setores básicos, que refletem o atual momento da sociedade: Educação; Ética; Entretenimento; Energia; Inovação; Infraestrutura; Saúde; Segurança; Socioambiental e Transformação Digital.

"Para que a pessoas tenham sucesso, elas precisam atuar em algo que faça sentido para elas, fazer um trabalho em que 'caia a ficha' do que faz sentido e ao mesmo tempo seja uma demanda da sociedade", destaca a professora.

Neste novo formato, a tendência é o currículo formal ter menos importância do que a vivência pessoal.

"A carreira não é uma sequência de cargos. É a sequência de experiências pessoais ligadas ao trabalho ao longo do tempo. A ideia do 'gostei ou não gostei de fazer isso' é o mais importante. É como a pessoa se sentiu em cada experiência", destaca.

Novos tempos

As relações de trabalho foram se modificando até a Revolução Industrial (séculos 18 e 19). Então, as transformações se aceleraram. O palestrante americano David Lee, especialista em inovação, conta que, neste momento, o ser humano passa por uma nova etapa em relação a vários campos, inclusive o profissional.

"Enfrentamos e nos recuperamos de duas extinções em massa de empregos antes; de 1870 a 1970 a porcentagem de trabalhadores norte-americanos em fazendas caiu 90% e, depois de 1950 a 2010, a porcentagem de trabalhadores americanos trabalhando em fábricas caiu 75%. Agora, a diferença é que temos entre 10 e 15 anos para nos adaptarmos às novas transformações", afirmou em palestra da TED (Technology, Entertainment, Design) série de palestras realizadas pela fundação americana Sapling.

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Ele destaca que, até para uma melhor produtividade das empresas e dos contratantes, os empregos do futuro já estão substituindo o trabalho e o tal sentido doloroso da palavra, ainda presente de forma velada.

"Não importa qual seja o seu trabalho. Uma parte, se não todo o seu trabalho, será feito por um robô ou software nos próximos anos...Temos que criar novos empregos centrados nas tarefas que uma pessoa faz e mais focados nas habilidades que ela traz para o trabalho", destaca.

Para ele, o lado criativo deve ser preponderante em uma profissão. Acima do rótulo formal do cargo, muitas vezes pouco produtivo.

"Seres humanos são fantásticos no fim de semana. Pensem naqueles que vocês conhecem e o que eles fazem aos sábados. Eles são artistas, carpinteiros, chefes de cozinha e atletas. Mas na segunda-feira, voltam a ser Especialista de Recursos Humanos Júnior e Analista de Sistema III", destaca.

Lee também acredita que as definições limitadas do trabalho tendem a desaparecer, assim como muitos motoristas que terão de reencontrar habilidades diante do surgimento dos carros inteligentes.

"Se queremos nossos empregos à prova de robôs, nós, como líderes, precisamos deixar a mentalidade de dizer às pessoas o que fazer e sim lhes perguntar quais problemas estão inspiradas em resolver e quais talentos querem trazer para o trabalho. Porque, quando é possível trazer o seu 'eu' de sábado para trabalhar às quartas, você esperará mais pelas segundas-feiras", completa.

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