A cena vem se tornando cada vez mais comum no plenário e nas comissões da Câmara dos Deputados durante as votações e debates. Enquanto um deputado discursa, os colegas ficam de olho nos smartphones acompanhando as notícias e até mesmo outras sessões da Casa. No entanto, o popular aplicativo de troca de mensagens ganha cada vez mais espaço entre os parlamentares. A febre do WhasApp já se tornou realidade na vida de grande parte dos deputados. O deputado Rogério Rosso (PSD-DF) explica que participa de, pelo menos, cinco grupos na rede social relacionados à atividade parlamentar. Só o da bancada do partido tem 37 membros. Ele explica que são compartilhados desde pronunciamentos dos deputados até o que cada um está fazendo durante os finais de semana. — O da bancada do PSD é muito ativo. Agenda, assuntos gerais, final de semana da galera, foto do churrasco da galera, matérias importantes. A gente usa muito o whatsapp da bancada. Todas as bancadas usam. Ninguém tá de fora.Leia mais notícias de Brasil e Política E os grupos são os mais variados possíveis. No final de semana em que foi realizado o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), por exemplo, o grupo da bancada feminina da Câmara, formado por 51 deputadas, não parava de receber novas mensagens com a divulgação do tema da redação que tratava sobre a violência contra a mulher. A deputada Tia Eron (PRB-BA) afirma que grande parte do planejamento da semana legislativa é feito pelo aplicativo. Ela admite que não é muito entrosada com tecnologia, mas diz que o aplicativo é útil na vida parlamentar. — A tecnologia é justamente para isso. É para dirimir o tempo e a distância, para facilitar mesmo a vida em torno destas atividades que são inúmeras. O Parlamento é um conjunto de atividades. Não apenas se restringe à sessão plenária. É para além disso. Muitos deputados são membros de mais de uma comissão e, por isso, acompanham os debates pelo bate-papo virtual, já que há choque de horário das reuniões. Não é raro mensagens nos grupos avisando que a votação de matérias começou ou que ainda falta quórum para iniciar a sessão. Os deputados recebem o aviso e se deslocam para marcar presença ou votarem. Existem os grupos da bancada evangélica, nordestina, da frente parlamentar de segurança pública, entre outros. O PSDB, por exemplo, tem dois grupos. Um deles é relacionado às atividades legislativas; o outro é dedicado para brincadeiras entre os parlamentares. O deputado Júlio Sousa (PSDB-GO), que está no seu primeiro mandato na Casa, participava de vários grupos, entre eles o de deputados novatos. — Eu sai de todos. Só estou no do PSDB, até porque eu não gosto muito. Mas além dos grupos de parlamentares, os deputados também participam de grupos com os assessores e funcionários dos gabinetes. O deputado Kaio Maniçoba (PHS-PE) usa a ferramenta diariamente para ajustar as agendas no Estado e em Brasília. — Como a gente tem escritório em Recife e em Brasília, a gente faz esse agrupamento para que haja uma interação entre os funcionários dos gabinetes. Para que possa combinar coisas do trabalho, a agenda, a ferramenta é usada bem nesse sentido. Facilita bastante. Polêmica Apesar de ser uma ferramenta útil para os deputados, o uso do aplicativo durante as sessões já gerou polêmica na Casa. Em maio deste ano o deputado João Rodrigues (PSD-SC) foi flagrado vendo fotos e assistindo a vídeos pornôs no plenário da Câmara. Na ocasião, o parlamentar disse que recebeu as filmagens em um grupo de WhatsApp. — Nesses grupos de WhatsApp que eu tenho, todo mundo tem, tem muitos amigos que mandam sacanagem. [...] E é frequente isso. Na verdade, quando são coisas impróprias, eu abro para ver do que se trata e vou apagando. Na última semana o tema voltou a ser o centro das atenções após Rodrigues discutir no plenário com o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ). Wyllys acusou Rodrigues de roubar dinheiro público e lembrou o caso dos vídeo adultos.