Investigação encontra restos mortais que podem ser de líder camponês morto na ditadura
Uma prótese dentária de prata de um dente frontal foi localizada na suposta sepultura
Brasil|Do R7
Médicos legistas do IML (Instituto Médico Legal) do Distrito Federal, peritos da Polícia Civil e funcionários do cemitério Campo da Esperança encontraram nesta terça-feira (24) restos mortais que podem ser do líder camponês comunista Epaminondas Gomes de Oliveira, que atuava no sul do Maranhão e foi morto aos 68 anos, na Capital federal, sob custódia do Exército, em 20 de agosto de 1971.
A exumação foi feita a pedido da CMV (Comissão Nacional da Verdade) e contou com autorização da família do desaparecido.
No final da tarde foi encontrado no local uma prótese dentária de prata. O fato foi comemorado pelos familiares de Epaminondas que acompanhavam os trabalhos, pois seu avô usaria esse tipo de dente. De toda forma, os restos mortais passarão por exames de antropologia forense e de DNA, visando a identificação.
Os peritos localizaram, por volta de meio-dia, a 1m10 da superfície, peças metálicas do caixão que envolvia o corpo e, uma hora depois, os primeiros sinais de ossos.
O trabalho foi acompanhado de perto pelo coordenador da CNV, José Carlos Dias, e pelos membros da comissão Maria Rita Kehl e José Paulo Cavalcanti Filho.
Além de identificar se os restos mortais realmente pertencem a Epaminondas Gomes de Oliveira, os exames tentarão elucidar a verdadeira causa da morte. Segundo declaração de óbito emitida pelo Exército, em 1971, Epaminondas morreu de choque decorrente de anemia e desnutrição. Entretanto, a suspeita da CNV e da família é que o líder camponês tenha morrido sob tortura.
Líder
Epaminondas era um líder comunista, ligado ao PCB. Segundo a família, era um homem pacífico e não aderiu à luta armada, apesar de ser um opositor da ditadura. Ex-prefeito do município de Pastos Bons, no sul do Maranhão, onde nasceu, radicou-se no município de Porto Franco e, no fim da vida, dedicava-se ao garimpo de diamantes em Ipixuna, no Pará, onde foi preso.
Tortura
Segundo Epaminondas Neto, parente do desaparecido, a família localizou uma pessoa que conhece uma testemunha da prisão. Essa pessoa, que pediu para que não fosse identificada, por ser traumatizada pelo episódio, contou que Epaminondas foi torturado por meio de espancamento e choques elétricos.
— Ele foi um herói. Morreu dizendo: "sou comunista, mas ninguém vai corremper meus ideais".
Há também entre as relíquias fotos e uma carta de Epaminondas, já preso, enviada de Imperatriz, em 11 de agosto de 1971, em que ele dá instruções aos filhos sobre o garimpo no Pará e informa a esposa, Avelina Cunha da Rocha, que seria levado para Brasília.
Em depoimento aos membros da CNV, Neto contou que obteve a informação de que o avô, uma liderança local em Porto Franco, pediu apoio do partido comunista para que fossem enviados médicos para a cidade, ocasião em que José Carlos Haas Sobrinho, morto na guerrilha anos mais tarde, atuou no município.
A Comissão Nacional da Verdade encontrou novos dados sobre o caso de Epaminondas e uma foto até então inédita. nos acervos da base do SNI (Serviço Nacional de Informação) no Arquivo Nacional.
Entre os documentos estava uma comunicação do Exército que informava que o líder camponês estava sepultado na quadra 504 do cemitério. A CNV foi então ao Campo da Esparança e localizou em seus livros o número certo da sepultura do líder camponês e fez contato com a família.
Nos próximos dias, a Comissão pretende ir até o Maranhão com técnicos da PF para colher amostras de DNA de filhos de Epaminondas para aumentar as chances de identificação.
Segundo Epaminondas Neto e Cromwell Filho, caso identificado Epaminondas deverá ser enterrado ao lado de Avelina, na cidade de Porto Franco, no Maranhão, mas a decisão final será tomada coletivamente. A família deve exigir também um enterro com honras e um pedido formal de desculpas do Estado brasileiro.