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Lava Jato chega ao setor elétrico e prende presidente licenciado da Eletronuclear

Brasil|Do R7

Por Sergio Spagnuolo

CURITIBA (Reuters) - A Polícia Federal prendeu nesta terça-feira em nova etapa da Lava Jato o presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, em ofensiva que marca a chegada formal da operação ao setor elétrico e expande ainda mais as investigações para além do esquema bilionário de corrupção na Petrobras.

A investigação da fase batizada como “Radioatividade” se concentra em contratos firmados por empresas já citadas na Lava Jato com a Eletronuclear, subsidiária da estatal federal Eletrobras, inclusive em licitação para as obras da usina nuclear de Angra 3.

O presidente licenciado da Eletronuclear é acusado de receber propina de 4,5 milhões de reais. Ele está afastado do cargo desde abril, quando surgiram denúncias de pagamento de propina a dirigentes da companhia. Flavio Barra, executivo responsável pela área de energia na Andrade Gutierrez, também foi preso nesta manhã.


Segundo o procurador Athayde Ribeiro Costa, da força-tarefa da Lava Jato, o Ministério Público Federal acredita haver indícios de que as empresas Andrade Gutierrez e a Engevix passaram valores de vantagens indevidas por meio de intermediárias para empresas de propriedade do presidente da Eletronuclear.

A Eletrobras se recusou a comentar a operação, enquanto a Andrade Gutierrez disse em nota que sempre cooperou com as investigações.


A nova ofensiva marca a entrada da operação Lava Jato em contratos do setor elétrico, após investigadores terem afirmado que existiam indícios de irregularidades em contratos de outras estatais além da Petrobras.

Em abril deste ano, o MPF também já havia anunciado que a Caixa Econômica Federal e até mesmo o Ministério da Saúde eram alvo de investigação em relação a contratos de publicidade, mas ainda não estava claro o quão mais distantes iriam as apurações. 


Sem revelar detalhes, investigadores agora deram uma dimensão maior de até onde a força-tarefa poderia ir. “A gente mostra que a corrupção não está restrita à Petrobras”, disse o procurador Ribeiro Costa em entrevista coletiva em Curitiba, onde estão concentrados os trabalhos no âmbito da Lava Jato. “Há indicativos de que a corrupção se espalhou para muitos órgãos da administração e de entidades da administração pública.” 

Investigadores não quiseram falar do andamento de investigações, mas apontaram que o setor de eletricidade continuará sendo observado. “Tudo indica que vamos partir para outros setores também, e o setor de energia (elétrica) por si só já é gigantesco”, disse o delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula. 

O delegado notou, no entanto, que as investigações sobre a Petrobras vão continuar. “Tem muita coisa ainda para ser apurada na Petrobras.”

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ANGRA 3

A investigação mais recente da Lava Jato inclui o consórcio Angramon, contratado em setembro de 2014 pela Eletronuclear para executar a montagem eletromecânica da usina nuclear de Angra 3, e a Engevix, entre outras sociedades.

As companhias que integram a Angramon são UTC Engenharia (empresa líder), Construtora Norberto Odebrecht, Construtora Andrade Gutierrez, Construtora e Comércio Carmago Corrêa, Construtora Queiroz Galvão, Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) e Techint Engenharia e Construção.

Angra 3 havia sido adiada há mais de duas décadas, durante um período de crise inflacionária que colocou em espera gastos em infraestrutura do país. Mas o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressuscitou o projeto, embora as obras tenham enfrentado atrasos e revisões de custo. 

O orçamento para a fase mais recente de Angra 3 subiu para 14 bilhões de reais, frente a 7,2 bilhões em 2008, de acordo com a Eletronuclear.

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NOVA ETAPA

A nova etapa da operação acontece depois que o presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, disse em delação premiada na semana passada no âmbito da Lava Jato que empreiteiras, incluindo sua empresa e a Odebrecht, fizeram reuniões para discutir o pagamento de propinas a dirigentes da Eletrobras em agosto de 2014, quando as investigações já estavam em andamento e eram públicas.

Perguntado se há envolvimento de políticos na mais recente investigação, o procurador Costa disse que a 16ª fase da Lava Jato esteve concentrada no presidente afastado da Eletronuclear. Ele se recusou a comentar sobre novos desdobramentos para o setor elétrico dentro da Lava Jato, quando questionado sobre suposta irregularidade na usina hidrelétrica Belo Monte.

Além das prisões temporárias dos dois executivos, a PF realizou cinco conduções coercitivas, de um total de 30 mandados judiciais da Lava Jato nas cidades de Brasília, Rio de Janeiro, Niterói, São Paulo e Barueri.

(Reportagem adicional de Pedro Fonseca e Jeb Blount, no Rio de Janeiro)

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