'Muito a ser esclarecido', diz irmão sobre morte de Celso Daniel
Bruno Daniel critica decisão judicial que anulou sentença de acusado e cobra investigações sobre possíveis outros mandantes do crime, ocorrido em 2002
Brasil|Cesar Sacheto, do R7
O professor universitário Bruno Daniel, irmão do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, morto em janeiro de 2002, cobra a continuidade das investigações para concluir se houve envolvimento de outras pessoas no assassinato. Na semana passada, o Jornal da Record exibiu três reportagens sobre o assunto — assista abaixo.
O familiar descarta a tese de sequestro seguido de morte — defendida pela Polícia Civil após o término das investigações — e afirma que podem haver responsáveis pelo crime ainda desconhecidos.
"Muitos trabalharam com enorme esforço para que as investigações avançassem e outros para obstaculizá-las. Várias mortes de pessoas que poderiam elucidar o crime ocorreram, dificultando seu esclarecimento. Continuaremos lutando para que todas as circunstâncias ligadas ao assassinato de meu irmão sejam conhecidas", afirmou.
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Bruno Daniel levanta a hipótese que o empresário Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra, apontado pelo Ministério Público paulista como mandante, não seja o único responsável pelo planejamento do crime — o acusado teve a condenação anulada pelo Tribunal de Justiça e morreu antes de ser julgado novamente. Seis integrantes da quadrilha da Favela do Pantanal, identificados no arrebatamento e execução da vítima, foram condenados pela Justiça.
"No caso dos sequestradores, as investigações levaram a condenações de acordo com a Justiça, o que configura uma vitória nossa e de quem trabalhou para apurar os fatos. Sérgio Gomes da Silva foi indiciado como mandante. Trabalho de procrastinação por parte da defesa, regiamente paga, impediu que ele fosse a júri popular. Faleceu antes que fosse julgado. Quem deve dizer quem mais deveria estar preso é a Justiça. Cabe a mim lutar para que tudo seja investigado, inclusive se houve outros mandantes", enfatizou o professor.
Cúpula do PT
Bruno e outros familiares de Celso Daniel defendem a teoria que o político, que havia sido escolhido como coordenador de campanha do então candidato Lula à eleição presidencial daquele ano, teria sido morto para evitar denúncias sobre supostos esquemas de corrupção em financiamento de campanhas do PT e de aliados.
A prisão do empresário Ronan Maria Pinto na Operação Carbono da Lava Jato, em abril de 2016, reforçou a convicção dos familiares de Celso Daniel sobre uma trama que visava calar o então prefeito de Santo André sobre irregularidades praticadas na administração da cidade.
Em outubro passado, o empresário Marcos Valério, condenado no processo conhecido como Mensalão, por aprimorar um método de desvio de recursos públicos com o objetivo de alimentar caixas eleitorais, disse em depoimento ao Ministério Público que Lula teria sido o verdadeiro mandante do assassinato.
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"O depoimento de Marcos Valério divulgado pela imprensa revela diálogos que teria tido com pessoas sobre esse suposto envolvimento. Cremos que tudo deve ser investigado", diz o irmão de Celso Daniel.
Relacionamento em família
Bruno Daniel rechaçou supostos desentendimentos entre os irmãos, conforme sugeriu o delegado Edson Remigio de Santi, que chefiou uma das frentes de investigação na Polícia Civil. "Sugiro que se pergunte, a quem quer que seja, em que medida declarações desse tipo contribuem para as investigações? Estariam tentando desqualificar nossa luta pelo esclarecimento do assassinato?", questionou o professor.
Projeto político
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Após passar um período fora do Brasil, Bruno Daniel revela que pretende levar adiante o legado deixado pelo irmão na política. O professor universitário já anunciou a pré-candidatura à Prefeitura de Santo André e diz que terá como meta implementar programas que contribuam para a redução das desigualdades, inclusão social e defesa da democracia.
"Aprendi com Celso que deve-se perseguir, no Estado ou fora dele, três grandes objetivos: reduzir as desigualdades; aprimorar a democracia representativa eleitoral, a democracia participativa; e promover o desenvolvimento inclusivo e socioambiental. Ele buscava, para isso, sempre inovar as políticas públicas. Atuei até a época de meu refúgio na França assessorando movimentos e sindicatos do setor público seguindo essas ideias e o espírito da inovação".
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