Para jurista, chegada dos militares ao poder em 1964 não foi golpe
Ives Gandra Martins classifica ação das Forças Armadas como um movimento legitimado pela população, partidos e imprensa. Ruptura ocorre em 1965
Brasil|Paulo Lima, do R7
O jurista Ives Gandra Martins, hoje com 84 anos, viveu intensamente os dias que antecederam 31 de março de 1964.
Na época, era presidente do Partido Libertador, em São Paulo, e trabalhava pelo lançamento da candidatura de Carlos Lacerda à Presidência da República. O adversário seria Juscelino Kubitschek . “Dois candidatos muito fortes”, lembra.
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Para Ives Gandra, a chegada ao poder dos militares em 1964 foi um “movimento”, e não um golpe. Isso, até 1965, com o AI2 (Ato Institucional Nº 2). “O movimento não foi um atentado à democracia, recebeu o apoio dos quatro principais jornais da época, Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e Jornal do Brasil.
Os cinco partidos do Congresso Nacional apoiaram o movimento porque o presidente João Goulart pretendia, depois do dia 13 de março, em que ele promoveu no Rio de Janeiro a Marcha dos Sargentos, que era contra a hierarquia militar, eliminar a eleição de 1965 e instalar no Brasil uma ditadura quase que cubana”, afirma o jurista.
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Ives Gandra diz que Jango estava deixando o país desorganizado com suas ações, entre elas a decisão de dar o comando da Marinha a um oficial de três estrelas, o que vai contra a hierarquia militar. As propostas das reformas de base polarizavam o país e o clima de instabilidade foi crescendo.
No dia 19 de março, foi realizada em São Paulo e demais cidade do país a denominada Marcha da Família. O jurista afirma que naquele dia percebeu que a revolta contra Jango era nacional. “No dia 19 de março eu estive na Praça da Sé, todos os 5 partidos do Congresso estavam preocupados com a situação, nós achávamos que o movimento contra Jango seria um fracasso. Quando eu chegue na Praça da Sé e me deparei com aquela multidão, a maioria mulheres, percebi que efetivamente havia uma revolta nacional”.
Para Ives Gandra Martins, a ruptura do movimento de 1964, quando muitos deixaram de apoiar os militares, ocorre a partir de 1965 quando o presidente Castelo Branco decretou o AI2, que extinguiu com o pluripartidarismo, permitiu apenas dois partidos (Arena e MDB).“A partir dali muitos que aderiram ao movimento se desligaram, eu mesmo decidi abandonar a política, passei a ser apenas advogado e professor”.
Em uma rápida análise, o pesquisador de Assuntos Militares da Universidade Federal de Juiz de Fora, Expedito Carlos Stephani Bastos, diz que a ação dos militares em 1964 foi uma contra-revolução contra o comunismo que ameaça o país. “ Forças Armadas, com o apoio da imprensa e população, fizeram uma contra-revolução que depois descambou em um ditatura. Durou 21 anos com seus erros e acertos, não foi 100% negativo nem 100% positivo”, diz.
Para Expedito Bastos, o presidente Jair Bolsonaro criou uma polêmica desnecessária com a história de “comemorar o golpe”. “A data sempre foi lembrada dentro dos quartéis, não há nenhum movimento nas ruas, não faz sentido uma celeuma tão grande”, afirma o professor.