Trânsito mata mais que crimes violentos em nove estados do país
Segundo levantamento, número de acidentes fatais foi maior que óbitos decorrentes de homicídio, latrocínio e lesão corporal seguida de morte
Brasil|Pietro Otsuka, do R7*
Um levantamento feito pela Seguradora Líder em nove estados brasileiros mostra que houve mais registros de mortes no trânsito, em 2018, do que crimes hediondos como homicídio, latrocínio e lesão corporal seguida de morte.
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O estudo compara o total de indenizações pagas por morte pelo seguro obrigatório e os dados das Secretarias Estaduais de Segurança Pública. Os nove estados somaram mais de 17 mil pagamentos do Seguro DPVAT destinado à cobertura por morte, representando 46% do total de sinistros pagos por acidentes fatais em todo o país no ano passado. Já os crimes violentos somaram 12.559 óbitos no mesmo período.
São Paulo e Minas Gerais lideram a lista com 5.462 e 4.127 sinistros pagos por acidentes fatais, respectivamente. Já o número de mortes em decorrência de crimes violentos foi de 3.464 e 3.234 para cada.
Mas os números têm diminuído. Houve uma queda de 8% no ano passado em relação a 2017, nos nove estados, quando foram pagas mais de 19 mil indenizações do Seguro DPVAT à cobertura por morte.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, em 2018, foram registrados 69.114 acidentes nas rodovias federais de todo o país. Deste total, 5.259 foram fatais. Em 2017, foram 89.547 ocorrências, com 6.245 mortes.
“Apesar da redução dos acidentes e das mortes, os números ainda revelam um cenário preocupante da violência no trânsito brasileiro. Com isso, torna-se fundamental o constante investimento em prevenção, educação e medidas cada vez mais rigorosas de fiscalização”, afirma Arthur Froes, superintendente de Operações da Seguradora Líder.
Álcool e direção
O especialista em educação no trânsito, Eduardo Biavati comenta que a maioria dos casos de acidentes fatais envolve o excesso de velocidade ligado ao consumo de álcool. ”Quanto maior a velocidade maior vai ser a gravidade de uma colisão ou atropelamento. E quase sempre as mortes que envolvem velocidade excessiva estão relacionadas ao consumo de álcool”, explica.
Para ele, as campanhas de conscientização são importantes, mas aliadas a medidas que fiscalizem e punam condutores infratores. “A questão é que em nenhum do lugar do mundo as pessoas aprenderam a controlar velocidade por uma campanha de conscientização. Elas têm que fazer parte de uma estratégia. As coisas são coordenadas. A educação para o trânsito está a serviço da fiscalização”, disse.
Mas, mesmo com um cenário preocupante, o número de óbitos no trânsito vem diminuindo no Brasil. De acordo com Biavati, os números que antes chegavam a quase 43 mil mortes por acidentes fatais no trânsito, caíram entre 5 e 6 mil.
Quanto mais veículos, mais acidentes?
O especialista explica que não há relação direta entre o número de veículos e o número de acidentes fatais no trânsito. Para ele, é necessário analisar uma série de fatores. “Pilotar uma moto numa região periférica de São Paulo, por exemplo, não é a mesma coisa de fazer isso na Av. Paulista, porque as condições da via são diferentes, a conservação do pavimento, entre muitas outras coisas”, comenta.
“O senso comum imagina que, quanto maior a frota de motociclistas ou de carros andando na rua, mais gente vai morrer no trânsito. Mas a frota de motos também cresceu nos últimos dez anos no Japão, na Itália, na França, Alemanha, etc. E lá o número de mortes não é tão grande quanto aqui."
“O acidente fatal ocorre se o sistema viário for deficiente, se a fiscalização for ineficiente e se a formação do condutor for pífia como vem sendo no Brasil”, encerra.
*Estagiário do R7, sob supervisão de Ana Vinhas