Incêndio Museu Nacional

Brasil Verbas repassadas para o Museu Nacional despencaram desde 2013

Verbas repassadas para o Museu Nacional despencaram desde 2013

Dinheiro destinado à instituição cultural no Rio de Janeiro em 2017 foi o mesmo de dez anos atrás, mostra levantamento

  • Brasil | Fernando Mellis, do R7, com Agência Brasil

Incêndio destruiu prédio histórico do Museu Nacional da UFRJ, no Rio

Incêndio destruiu prédio histórico do Museu Nacional da UFRJ, no Rio

Buda Mendes/Getty Images

O Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) foi forçado a encolher suas despesas em 2017 para o mesmo patamar de 2007, devido ao corte de repasses de recursos. E nos oito primeiros meses deste ano, os gastos da instituição não chegam a 20% do total do ano passado.

O levantamento, feito pela Associação Contas Abertas, mostra um sucessivo encolhimento de repasses de verbas para o Museu Nacional desde 2013. A instituição recebeu, em média, R$ 1,31 milhão (em valores corrigidos pela inflação) por ano entre 2008 e 2014, quando os recursos começaram a secar.

Nos três anos seguintes, os repasses foram de R$ 754 mil (2015); R$ 908 mil (2016); e R$ 669 mil (2017). Em 2007, o valor havia sido de R$ 661 mil (veja gráfico abaixo).

Diante da escassez de dinheiro, a UFRJ recorreu, em 2015, ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) "justamente para adequar a edificação exclusivamente para exposições, garantindo a modernização de todo o sistema de prevenção de incêndio, um dos itens centrais do projeto", diz a reitoria por meio de nota. 

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No entanto, os R$ 21 milhões necessários para as obras no edifício histórico que abrigava o museu, na Quinta da Boa Vista, só começariam a ser liberados no fim de 2018. 

Com pouco dinheiro em caixa, o museu reduziu em 80% os gastos com desenvolvimento de estudos e pesquisas, na comparação entre 2017 e o período de janeiro a agosto deste ano (de R$ 108,7 mil para R$ 21,2 mil).

As despesas com manutenção e conservação de equipamentos foram as que mais consumiram recursos da instituição: R$ 23,4 mil. Também há gastos menores com tecnologia da informação e compra de materiais.

O museu atingido pelo incêndio possuía o quinto maior acervo do mundo (20 milhões de itens), como um dos fósseis humanos mais antigos encontrado até hoje nas Américas, com 12 mil anos de idade, batizado de Luzia.

A instituição funcionava na Quinta da Boa Vista, palácio utilizado como residência da família real. Foi naquele local que a imperatriz Leopoldina assinou a declaração de independência do Brasil, em 1822, que completa 196 anos na próxima sexta-feira (7).

Entidades criticam corte de verbas

Grupos de pesquisadores brasileiros criticaram ao longo desta segunda-feira (3) a queda no volume de recursos para o Museu Nacional.

A ABA (Associação Brasileira de Antropologia) disse em nota que foi perdido "um acervo único da diversidade cultural dos povos indígenas" e que o museu foi o local do primeiro programa de pós-graduação do Brasil em antropologia social, em 1968.

"Os cortes nos últimos anos às políticas de ciência e tecnologia e políticas de educação e cultura transformaram-se em cortes aos direitos culturais à preservação da memória do Brasil e à produção de ciência. A política do atual governo, ao cortar gastos, contribuiu drasticamente para diminuir os recursos necessários à ciência, à tecnologia, à cultura e à educação atingindo irrecuperavelmente a preservação da memória nacional simbolizada pelo Museu Nacional e atingindo um dos primeiros centros de produção de pesquisas e de cultura em que a Antropologia participa de forma indiscutível", diz a ABA.

O Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios Históricos (Icomos/Brasil) divulgou nota em que lamenta a “catástrofe” com o museu. A organização chama o episódio de “tragédia anunciada que vinha se desenhando a partir dos últimos anos da política nacional”. A entidade pede a revisão da política de restrição orçamentária que atinge instituições como o museu.

O Cofem (Conselho Federal de Museologia) se manifestou “de luto pelo patrimônio histórico, científico e cultural perdido por descaso das autoridades públicas”. Essas autoridades, acrescenta o texto, “não destinam recursos humanos e financeiros suficientes e ao tempo necessário para se evitar tragédias anunciadas, como a que lamentavelmente constatamos neste início de setembro”.

O Instituto Brasileiro de Museus classificou o episódio como “a maior tragédia museológica do país”, fato que coloca o desafio de “consolidar e implementar uma política pública que garanta, de forma efetiva, a manutenção e conservação de edifícios e acervos do patrimônio cultural brasileiro”.

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