O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, declarou nesta quarta-feira (29) que o governo vai adotar “medidas pontuais” para conter a alta do preço dos alimentos, sem “pirotecnia”. Embora seja uma preocupação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da equipe federal, o Executivo não deve intervir diretamente para diminuir os valores. Fávaro informou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já informou “que não tem recurso para disponibilizar para redução a curto prazo”.“As medidas são naturais, não serão medidas heterodoxas. Não dá, não é isso que vai acontecer. O presidente fala toda hora, ‘não vai ter fiscal do Lula’, ‘não vai ter congelamento de preços’. São medidas pontuais, passo a passo, sem nenhum tipo de surpresa, sem nenhuma pirotecnia, que nós vamos tomar estimulando e buscando a estabilidade”, afirmou Fávaro a jornalistas após reunião com Haddad.Os ministros vão se encontrar novamente nesta quinta (31), desta vez com o titular de Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, e o presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Edegar Pretto. O governo aposta em uma “supersafra” agrícola neste ano e na diminuição do dólar para que os preços dos alimentos caiam naturalmente.Nessa terça (28), a moeda norte-americana teve a sétima queda seguida e fechou em R$ 5,86 — o menor valor desde novembro. Na análise de Fávaro, o Plano Safra do ano passado, lançado em julho, motivou a supersafra de alimentos esperada para 2025.Em 2024, o governo investiu R$ 400,59 bilhões na política, valor recorde. O projeto oferece linhas de crédito, incentivos e políticas agrícolas para médios e grandes produtores. Fávaro afirmou que o Plano Safra deste ano deve ajudar a melhorar o cenário.“Uma medida concreta é que nós vamos ter uma supersafra. Será que essa supersafra não é porque fizemos um Plano Safra bastante generoso, que estimulou a produção? E nós podemos fazer melhor, fazer mais. Isso é medida concreta”, declarou.“Isso [queda do dólar] já tira o calor sobre os preços dos alimentos. Uma super safra que se avizinha, e com isso vai ter fartura no campo, os preços devem ceder mais um pouco. Um novo Plano Safra que estimule a produção — e nós vamos fazer, por exemplo, direcionamentos de taxas de juros, já que nós não temos um orçamento que pode ter taxas de juros muito atrativas para todo o Plano Safra, em virtude da Selic tão alta. Então, são medidas técnicas”, continuou Fávaro.O Executivo ainda não decidiu o que fazer para conter o preço dos alimentos. Uma das hipóteses estudada é reduzir a alíquota de importação de determinados produtos. A ideia é abaixar a taxa para os itens mais caros no Brasil e mais baratos no exterior. A proposta remonta ao período das enchentes no Rio Grande do Sul, no ano passado, quando o governo zerou as tarifas para dois tipos de arroz.Ainda nesta quarta (29), Fávaro não descartou a medida e reforçou que uma eventual redução não impactaria os produtores brasileiros. No entanto, segundo o ministro, nenhuma decisão sobre o assunto foi tomada, apesar de a alternativa ser considerada.“[Seria] uma medida pontual, que, eventualmente, se tiver necessidade, [será feita] sem afetar a produção interna. Se tiver alguma coisa que, lá fora, está [com preço] um pouco mais competitivo, pode ser estudado. Mas é com muita tranquilidade, com muito equilíbrio, que a gente está estudando, sem pirotecnia. Já tem um diagnóstico, em relação à alíquota de importação, mas não tem nada definido, por enquanto, está sendo estudado. Caso tenha necessidade, [será] sem afetar a produção interna, mas que garanta a estabilidade”, acrescentou Fávaro.Desde a semana passada, a gestão de Lula tem feito reuniões recorrentes para discutir o assunto, que preocupa o petista. Na reunião ministerial da última segunda-feira (20), o presidente chegou a cobrar os titulares da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário pela redução do preço dos alimentos.Segundo integrantes que participaram do encontro, Paulo Teixeira respondeu à reclamação dizendo que seu ministério tem um grupo com a Fazenda para discutir o tema.O ministro informou que, até o fim do ano, deve ser feito um parecer sobre o assunto e proposta de uma solução. Lula, porém, não se contentou com a resposta e disse que o governo precisa pensar em uma reação imediata e resolver logo a situação.No último domingo (26), Lula afirmou que o preço dos alimentos preocupa o governo e disse que vai “conseguir esse intento” de reduzir o valor dos produtos. A afirmação foi feita durante visita na horta da Granja do Torto, residência de campo da Presidência da República, em Brasília (DF). “Ao chegar nessa horta, comecei a pensar no preço dos alimentos no Brasil, que é uma coisa que está preocupando o governo e que é uma coisa que eu já fiz duas reuniões para ver se a gente consegue encontrar uma solução”, diz Lula. Na sequência, citou variáveis que influenciam nos preços, como dólar, oferta, demanda e clima.O presidente destacou, ainda, que vai realizar diversas reuniões com atacadistas, donos de supermercados e produtores para encontrar uma solução “para garantir que a comida chegue mais barata, de acordo com o poder de compra”. “É isso que nós estamos trabalhando muito e vamos fazer quantas reuniões forem necessárias para tomar todas as decisões... Pode ter certeza. Que nós vamos conseguir esse intento de baixar o preço do alimento”.Os alimentos têm enfrentado inflação resistente — observada em 2024 e que deve persistir neste ano. Levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelou que alimentos e bebidas foram os itens que mais impactaram a inflação de dezembro, o que afetou mais as famílias de baixa renda. O aumento nos preços de carnes, ovos, óleo de soja e café pressionou o orçamento dos mais pobres.Além disso, passagens de transporte público, incluindo trem e ônibus, também registraram alta. A análise do IPCA, que mede a inflação oficial do país, destaca como o crescimento dos preços é mais severo para quem ganha até R$ 5.304. Esse cenário força as famílias a revisar os gastos e exige que o governo considere medidas econômicas para controlar os aumentos.