O ex-policial militar Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora Marielle Franco, deixou a penitenciária federal de Campo Grande (MS) na manhã desta quinta-feira (20) para ser transferido ao presídio de segurança máxima de Tremembé (SP). A viagem de transferência será feita em um avião da Polícia Federal.A transferência de Lessa foi autorizada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, como um benefício em função do acordo de delação premiada firmado pelo ex-policial nas investigações sobre a morte de Marielle.No acordo de delação, Lessa disse que aceitou matar a vereadora sem saber que ela seria o alvo do assassinato. No depoimento, ele afirmou que recebeu uma “proposta muito boa, que era para ficar rico”, e que se interessou pela oferta dos mandantes do crime. O ex-PM afirmou, também, ter se encontrado três vezes com os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão para tratar do assassinato. Segundo Lessa, as reuniões duraram cerca de uma hora.Ainda de acordo com Lessa, Marielle era uma “pedra no caminho” de Chiquinho e Domingos. Marielle e Chiquinho, que à época do crime também era vereador, discordavam em relação a um projeto de lei que regularia terrenos em áreas de milícias. A intenção dos irmãos era lucrar com a venda de dois loteamentos. Uma parcela seria de Chiquinho e Domingos e a outra metade seria de Lessa, como pagamento pelo crime.“O que eu posso dizer é que eu ouvi da boca do próprio Domingos e acordado com o próprio irmão [...] ele deixou bem claro que o loteamento ia seguir. Era muito dinheiro envolvido, na época ele falou em R$ 100 milhões, R$ 150 milhões. Realmente, as contas batem: R$ 100 milhões o lucro dos dois loteamentos, são quinhentos lotes de cada lado, é uma coisa grande, são ruas, na verdade, é um mini bairro, é uma coisa gigantesca. Então a gente tá falando de muita grana”, afirmou o ex-PM aos investigadores.Segundo Lessa, ele estava preocupado com a repercussão do caso, mas os irmãos Brazão o tranquilizaram, afirmando que ele podia contar com a atuação de Rivaldo Barbosa, delegado que à época do crime chefiava a Polícia Civil do Rio de Janeiro.“Nesse encontro nosso, foi assim, uma coisa já mais tensa, a coisa já estava tensa e já tinha saído do controle, a divulgação estratosférica, ninguém esperava aquilo. A situação [da última reunião] era saber qual o procedimento, o que se faz agora, pois todo mundo ficou tenso. Então eles [irmãos Brazão] tranquilizaram a gente o tempo todo, falaram o tempo todo que o Rivaldo estava vendo, que já está redirecionando e virando o canhão para outro lado, que ele teria, de qualquer forma, que resolver isso, porque já tinha recebido para isso no ano anterior. [...] Deu para ficar bem explícito que ele [Rivaldo] recebeu antes do crime para traçar essas diretrizes”, destacou Lessa.O atentado a Marielle também resultou na morte do motorista dela, Anderson Gomes. Na delação, Lessa afirmou, contudo, que isso não era a finalidade do ataque à vereadora. Ele disse ter ficado sabendo da morte do motorista momentos depois, enquanto assistia a um jogo de futebol em um bar.“Um garçom mostrou as fotos pra gente, aí que descobrimos que tinha mais uma pessoa morta; até então não se sabia, falou que mataram duas pessoas... aí na verdade a ficha nem caiu direito; eu falei onde, ele disse no centro... duas pessoas? Aí vi nas fotos que o motorista estava morto; não era a finalidade também; então; ali nós ficamos sabendo que tinha duas pessoas mortas, e a coisa ficou mais tensa ainda; começamos a beber mais um pouquinho, o jogo acabou e as pessoas se dispersaram”, disse.Nesta semana, Moraes determinou que a Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo mantenha sob monitoramento de áudio e vídeo as conversas, escritas verbais, de Lessa com familiares e advogados na penitenciária de Tremembé.O Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) questionou a decisão do ministro. Segundo a entidade, há uma violação constitucional à intimidade e privacidade não só do preso, além de ofensa à inviolabilidade do sigilo profissional.“O monitoramento dos diálogos mantidos entre o custodiado e seu advogado, com todo respeito, atenta contra o caráter pessoal e reservado da conversa. A ampla defesa não se faz presente quando desrespeitada a inviolabilidade das conversas entre advogados e presos, sendo inadmissível num Estado Democrático de Direito que garantias não sejam observadas em nome de uma maior eficácia da repressão”, afirmou a entidade.