Brasília CPI: Após vazamento, clima do G7 com Renan continua ruim

CPI: Após vazamento, clima do G7 com Renan continua ruim

Reunião é cancelada e Aziz continua com tom elevado contra relator, apontando estratégia de Calheiros para expor divergências

  • Brasília | Sarah Teófilo, do R7, em Brasília

Senadores estão irritados com vazamento do relatório final da CPI da Covid-19

Senadores estão irritados com vazamento do relatório final da CPI da Covid-19

Edilson Rodrigues/Agência Senado - 18.10.2021

O clima entre os senadores do grupo majoritário CPI da Covid — conhecido como G7 — ficou estremecido após o vazamento de informações sobre o relatório final. A tensão continua. Após mais de cinco meses de constantes reuniões públicas e privadas, os senadores do grupo se desentenderam com o relator Renan Calheiros (MDB-AL) por causa da divulgação na imprensa. 

Os senadores apontam o relator como o responsável. Renan, por sua vez, diz que seria impossível não vazar, pois mais de 50 pessoas trabalham no documento. A questão gerou o adiamento da leitura e votação do relatório. O documento que seria lido nesta terça-feira (19) teve a leitura adiada para quarta (20) e só será votado no dia 26.

A ideia inicial dos senadores do G7 era alinhar o entendimento em torno do documento e chegar à sessão com o consenso da maioria. Somente os governistas ficariam de fora. Eles iriam propor as alterações de forma isolada. Agora, Aziz deu mais tempo para que todos analisem e proponham mudanças, demonstrando falta de unidade entre os senadores do G7.

Aziz insinuou que o relator permitiu o vazamento do texto, mesmo sem consenso no grupo majoritário, para que se algo for retirado, ele possa dizer que não foi o responsável pela mudança.  "Espero que ele não perca tempo e se esforce pra retirar, porque ninguém é besta aqui e a gente não coloca a carroça na frente dos bois à toa", afirmou, referindo-se ao vazamento do relatório.

A briga dos senadores começou no grupo do G7 no Whatsapp (aplicativo de mensagem), conforme apurado pela reportagem. Os parlamentares começaram a mandar mensagens criticando o relator, e afirmando que houve descumprimento do compromisso previamente firmado, que era discutir com os colegas, ouvir e implementar suas sugestões, antes de apresentar o documento em sessão. Entre os que que se mostraram mais insatisfeitos no grupo, está o senador Otto Alencar (PSD-AM). Calheiros deixou que falassem e, ao final, se defendeu.

Apesar das divergências, Calheiros já disse que vai defender a sua opinião, e que vai alterar pontos apenas se for vontade da maioria. Se não for, vai manter, mesmo com protesto de alguns do grupo majoritário. 

Após a sessão desta segunda-feira (18), que ouviu familiares das vítimas da Covid-19, Aziz se reuniu com os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da comissão, e Humberto Costa (PT-PE), que não integra a cúpula, mas tem uma atuação significativa e reuniões constantes com o presidente, o vice e o relator. Calheiros saiu da sessão e foi direto para o gabinete.

"A divergência é que a gente queria saber se tinha alguma coisa para gente contribuir. Pelo visto, não tem nada a contribuir. Se ele disse hoje que o relatório estava pronto há dois meses, nunca apresentou para a gente", afirmou Aziz nesta segunda. 

O vazamento do relatório foi a gota d'água. A chateação entre os senadores em relação ao relator já existia, com as entrevistas em que ele falava de trechos do documento sem discutir com com os colegas. Calheiros já havia dito, por exemplo, que iria indicar 11 crimes do presidente Jair Bolsonaro. Depois disso, o G7 se reuniu na sexta-feira e ficou acordado que haveria uma reunião nesta segunda para analisar ponto a ponto do documento, quando todos dariam suas opiniões.

"Íamos ver ponto a ponto para ter uma decisão unânime para dali a dois dias estarmos discutindo publicamente o relatório. Sexta à noite, já sai na imprensa (o relatório), e sábado, e aquilo que a gente tinha se poposto a fazer já se sabe pelo jornal", afirmou Aziz nesta segunda.

Mais cedo, antes do início da sessão, Humberto Costa falou em "disputa de vaidades". "Tudo que o Brasil não deseja, não espera e não aceita é que essa CPI, depois de ter dado uma contribuição histórica fundamental para o país, termine numa disputa de vaidades. Isso é inaceitável, para nós que fazemos parte da CPI, para o Brasil e para todos que querem saber de quem é a responsabilidade por tudo isso que aconteceu", afirmou.

Costa ressaltou que havia um compromisso do relator de que antes de divulgar o documento teria conversas com os integrantes do G7 pra ouvir opiniões, receber sugestões, e que isso não aconteceu. Calheiros, por sua vez, diz que está à disposição, mas que não é ele quem marca as conversas, e sim o presidente Omar Aziz. O relator ainda afirmou que não foi informado sobre divergências de alguns, mas que viu posições contrárias apenas pela imprensa.

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