Brasília Em Brasília, embaixadas de países com histórico de conflitos ficam lado a lado

Em Brasília, embaixadas de países com histórico de conflitos ficam lado a lado

EUA e Rússia, Israel e Irã: o R7 compilou exemplos de nações com atritos diplomáticos que possuem embaixadas próximas

  • Brasília | Giovanna Inoue, do R7, em Brasília

Brasília é sede de 133 representações diplomáticas

Brasília é sede de 133 representações diplomáticas

Acácio Pinheiro/Agência Brasília - Arquivo

Com capitais separadas por 7.816 km e um histórico de rivalidades que inclui a Guerra Fria, Estados Unidos e Rússia são potências mundiais que já foram aliadas e inimigas em diferentes conflitos. Em Brasília, no entanto, as embaixadas desses países ficam a apenas alguns passos de distância uma da outra. A capital federal é sede de 133 embaixadas e representações diplomáticas de várias nações. Elas são as representações oficiais de um governo dentro do território brasileiro e são consideradas território estrangeiro em solo nacional.

A maioria dessas embaixadas fica no Setor de Embaixadas Sul, localizado no Plano Piloto, região nobre da cidade. O R7 selecionou exemplos de nações com atritos diplomáticos que possuem embaixadas localizadas próximas umas das outras.

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EUA e Rússia

Um voo entre o centro dos Estados Unidos e o meio da Rússia demora por volta de dez horas, mas, para cruzar esses territórios dentro de Brasília, uma caminhada de menos de cinco minutos é suficiente.

Luce Costa/Arte R7 - 20.10.2023

Embora tenham sido aliados durante a Segunda Guerra Mundial, os dois países estiveram em lados opostos durante um dos conflitos mais tensos e recentes, a Guerra Fria. Para o professor Jean Lima, doutor em relações internacionais, a rivalidade entre as duas potências "quase destruiu a humanidade por conta de seus enormes arsenais nucleares, da tremenda desconfiança mútua e dos sistemas políticos e econômicos divergentes".

Na década de 1990, a Rússia foi convidada a participar do G7 em uma tentativa de países ocidentais de acomodar o país na chamada "nova ordem internacional", além de ter a participação apoiada em instituições multilaterais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Segundo Lima, no entanto, a rivalidade entre EUA e Rússia voltou a se acirrar por causa da expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Leste Europeu, além do baixo desempenho econômico russo nos últimos anos da década de 1990 e a ascensão do atual presidente, Vladimir Putin.

Atualmente, com a Guerra na Ucrânia, os dois países estão ainda mais afastados, já que o presidente Joe Biden apoia a Ucrânia no conflito. Os americanos já enviaram ao governo ucraniano US$ 113 bilhões em ajuda econômica, humanitária e militar desde o início da invasão russa.

Na quinta-feira (19), Biden pediu ao Congresso dos EUA que envie uma ajuda militar "urgente" à Ucrânia. No dia seguinte, a Rússia criticou o discurso do presidente americano em que chamou Putin de "tirano" e equiparou Moscou ao grupo terrorista Hamas.

França e Reino Unido

A distância entre o Reino Unido e a França é de 1.091 km, aproximadamente a mesma distância entre Brasília e Salvador. De avião, demoraria por volta de uma hora e meia para ir do centro de um país ao outro. Em Brasília, no entanto, apenas 500 metros separam as embaixadas.

Luce Costa/Arte R7 - 20.10.2023

Os dois países, que são separados pelo canal da Mancha, possuem uma longa rivalidade que envolve conflitos militares e políticos. A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) e as Guerras Napoleônicas (1803-1815) são exemplos.

Segundo o professor Lima, as relações entre França e Reino Unido evoluíram na Primeira Guerra Mundial e na Segunda Guerra Mundial, sendo os dois primeiros países a declararem guerra à Alemanha nazista.

"Eu diria que, do ponto de vista político-econômico, a França adora um sistema mais social-democrata do que o Reino Unido, sendo os franceses mais permissivos com a intervenção estatal para promover a estabilidade social, enquanto no Reino Unido há maior tradição de políticas econômicas orientadas à liberdade do mercado", afirma.

Os dois países possuem pontos de vista distintos em relação à integração Europeia. O professor explica que a França participou dos primeiros acordos embrionários da Comunidade Econômica Europeia nos anos 1950 e atualmente é um dos principais pilares e fiadores da União Europeia, fundada em 1993.

Já no caso do Reino Unido, a entrada na então Comunidade Econômica Europeia (antecessora da União Europeia) só aconteceu em 1973. O país também não adotou o euro como moeda oficial, como o fez a França. Em 2016, a população britânica votou pela saída do país da UE, o que ficou conhecido como Brexit — tendo o país deixado o bloco oficialmente em 2020.

Grécia e Turquia

Não são apenas os 1.158 km de distância que separam os centros de Grécia e Turquia. Disputas por ilhas no mar Egeu, fronteiras marítimas e a invasão turca em 1974 da ilha de Chipre são motivos que justificam a rivalidade histórica entre os países. Já em Brasília, as duas embaixadas dividem um estacionamento público, uma vez que são vizinhas uma da outra.

Luce Costa/Arte R7 - 20.10.2023

Para o professor Jean Lima, as diferenças geopolíticas entre gregos e turcos são alguns dos motivos que justificam a Turquia ainda não ter sido aprovada na União Europeia, bloco do qual a Grécia faz parte desde a criação.

Argentina e Chile

A Argentina e o Chile dividem fronteira. Em Brasília, as duas embaixadas seguem esse padrão, sendo vizinhas uma da outra. Segundo o professor Lima, uma rivalidade intensa entre os países durante os respectivos regimes militares quase levou a um conflito armado nas décadas de 1970 e 1980 — e até hoje ainda há desentendimento acerca de territórios e ilhas.

Luce Costa/Arte R7 - 20.10.2023

Um Tratado de Amizade foi assinado entre os dois países em 1984, com mediação do então papa João Paulo 2º, o que estabeleceu os limites territoriais no extremo sul do continente americano.

Ainda de acordo com o professor, "até hoje persistem um imbróglio e tensões diplomáticas entre ambos os países quanto aos limites da plataforma continental no mar, com divergências nos mapas oficiais". Um dos motivos no interesse na região é o potencial de exploração de recursos naturais como petróleo e pesca, além de circulação de barcos.

Lima afirma que as disputas são contornadas com negociações diplomáticas e que um conflito armado é improvável, mas ainda é motivo de atrito.

"Do ponto de vista das economias, o Chile é mais aberto, com vários tratados de livre comércio, e a Argentina tende a buscar proteger mais a indústria nacional, pelo menos no século 21", explica.

Israel e Irã

Aproximadamente 16 minutos de caminhada separam os territórios oficiais de Israel e Irã em Brasília, mas as diferenças entre os países não podem ser simplificadas no contexto geopolítico. Para o professor Lima, os dois países têm uma das relações "mais hostis e tensas do mundo". "Não possuem relações diplomáticas. O Irã nem sequer reconhece o Estado de Israel e tem apoiado, inclusive, grupos agressivos a Israel, como o Hezbollah no Líbano", afirma.

Luce Costa/Arte R7 - 20.10.2023

Lima esclarece ainda que o poderio nuclear dos países é um grande motivo de preocupação: Israel adota uma política de "ambiguidade nuclear", não confirmando nem negando a existência de um programa nuclear militar, e se preocupa com o potencial programa nuclear iraniano.

Além dessas questões, relações diplomáticas com outros países também são motivo de atrito. "Israel é um tradicional aliado dos Estados Unidos no Oriente Médio, enquanto Irã e EUA não restauraram formalmente suas relações diplomáticas desde 1980, apesar de tentativas de aproximação na questão da regulação do programa nuclear iraniano no governo de Barack Obama (2009-2017)", explica o professor.

Atualmente, as relações entre os países estão ainda mais tensas por causa da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Na segunda-feira (16), o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irã, Nasser Kanaani, afirmou que Israel enfrenta uma "reação natural" da nação palestina e que o mundo está "testemunhando uma [demonstração de] coragem histórica de uma nação zelosa que tem uma história de mil anos na terra da Palestina".

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