O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpre agenda, nesta terça-feira (9), em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. Entre os compromissos públicos, estão uma reunião com o presidente boliviano Luis Arce para tratar da tentativa de golpe no país, realizada no fim de junho, além de uma cerimônia de assinatura de atos, declaração à imprensa e encontros com movimentos sociais e empresários.Lula quer assumir o papel de mediador para atenuar a briga política na Bolívia, entre Arce e seu antigo padrinho político, o ex-presidente Evo Morales. Ambos buscam a preferência do Movimento ao Socialismo para disputar a candidatura à Presidência em 2025 e rivalizam pelo controle do partido.O general Juan José Zúñiga foi preso por comandar o levante. O militar acusou Arce de encomendar a ele um “autogolpe” para reverter a baixa popularidade — o governo nega. A partir de então, Evo fez coro com opositores, passou a questionar a versão oficial e a disseminar a narrativa de que tudo não passou de armação.Por estar no cargo, o grupo de Arce entende que o atual presidente teria a prerrogativa de disputar seu segundo mandato, em 2025. Mas Evo deseja voltar ao poder, embora tenha sido considerado impedido pelo tribunal constitucional. Arce, por sua vez, afirma que a decisão deve ser das organizações sociais que são a base do Movimento ao Socialismo.A tentativa de golpe na Bolívia ocorreu em meio à queda na exportação de gás natural, contração nas reservas de dólar e inflação. Naturalmente, o descontentamento da população afeta a popularidade de Arce. Agora, Lula vai conversar com o boliviano para debater o golpe militar e o futuro do país, a fim de afastar qualquer medida irrazoável no continente e fortalecer os membros do bloco latino-americano.Lula e Arce se encontraram na última segunda-feira (8), durante cúpula do Mercosul, em Assunção, capital do Paraguai. Na reunião, os países formalizaram a entrada da Bolívia no bloco econômico. Com a medida, o Mercosul passa a ter 300 milhões de habitantes, uma extensão territorial de 13,9 milhões de km² e um PIB (Produto Interno Bruto) total de US$ 3,5 trilhões.Na ocasião, o presidente brasileiro voltou a criticar a tentativa de golpe. “A reação unânime ao 26 de junho na Bolívia e ao 8 de Janeiro no Brasil demonstra que não há atalhos na democracia em nossa região, mas é preciso permanecer vigilante. Falsos democratas tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários”, disse.Lula criticou as experiências neoliberais no continente sul-americano, mas não citou o argentino Javier Milei, ausente no evento. “Democracia e desenvolvimento andam lado a lado. Os bons economistas sabem que o livre mercado não é uma panaceia para a humanidade... No mundo globalizado, não faz sentido recorrer ao nacionalismo arcaico e isolacionista. Tão pouco há justificativa para resgatar as experiências ultraliberais que apenas agravaram as desigualdades em nossa região.”No fim do dia, Lula retorna às terras brasileiras e, na quarta-feira (10), se reúne com o comitê interministerial para inclusão socioeconômica de catadoras e catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis. Na quinta-feira (11), o presidente assina o decreto de reajuste do programa Bolsa Atleta.