O número de veículos elétricos e híbridos no Distrito Federal aumentou mais de cinco vezes desde 2022. Segundo informações da Secretaria de Economia do DF, o número saltou de 5.500 para 29 mil na estimativa deste ano. Um dos incentivos do governo local para a aquisição do veículo é a isenção do IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores) para carros comprados na capital ou com faturamento direto com a montadora ou importador. Segundo o governo, a isenção deve causar um impacto de R$ 127 milhões no orçamento de 2025. A isenção está em vigor desde 2019, e neste ano voltou a valer para carros comprados na modalidade venda direta. Paulo Almeida, 44 anos, professor e morador do Lago Oeste, é uma das pessoas que apostaram no carro elétrico. Ele comprou o dele, 100% elétrico, em maio do ano passado, com autonomia de 420 km com a carga completa.“Minha experiência tem sido excelente, mas exige planejamento. Moro em uma chácara e percorro diariamente cerca de 60 km [ida e volta] até o Plano Piloto. Em termos de economia, o carro elétrico representa uma grande vantagem, já que o custo de recarga é muito inferior ao da gasolina ou do etanol”, aponta. O professor acrescenta que o planejamento é importante para garantir a autonomia do veículo. “Costumo recarregar em casa e em locais estratégicos ao longo do dia, como academias e reuniões de negócios. O aplicativo do carro mostra todos os locais disponíveis para abastecimento, facilitando o monitoramento e a escolha do melhor trajeto. Com o tempo, esse planejamento se torna natural. Em Goiânia, por exemplo, muitos restaurantes oferecem recarga para clientes, e alguns valet parks também disponibilizam esse serviço”, exemplifica. Para Paulo, contudo, falta infraestrutura na capital do país. “Um dos desafios são os pontos gratuitos, que poderiam ter regras mais claras para garantir a rotatividade, pois alguns motoristas deixam seus veículos carregando por longos períodos, dificultando o uso por outros. Há motoristas que não têm carro elétrico e estacionam nas vagas de recarga, atrapalhando”, reclama. Segundo ele, “a alternativa mais viável para quem tem carro elétrico no DF, hoje, é usar um carregador residencial ou optar pelos pontos pagos, que ainda vai compensar”. O professor conta que o carregamento residencial ou gratuito em pontos públicos leva cerca de sete horas para a carga completa, enquanto o carregamento rápido, com tecnologia turbo, leva em média duas horas. O custo médio da recarga para o carro dele é de R$ 120.“Além da economia, o carro elétrico oferece diversas tecnologias inovadoras. No meu caso, ele é silencioso, estaciona sozinho, conta com câmera 360 graus, não permite mudança de faixa sem dar seta e possui alto nível de automação, proporcionando mais segurança e conforto ao dirigir”, diz. Gerente de marketing de uma concessionária de Brasília, Stela Maryanne diz que o mercado de Brasília está aquecido e em franco crescimento. Para ela, com mais infraestrutura de carregamento, sobretudo para cargas rápidas e de baixo custo, os carros híbridos e elétricos podem ser cada vez mais acessíveis. “O DF é a segunda capital com o maior volume de vendas no varejo do país. Um varejo aquecido representa grande oportunidade de manter o crescimento nas vendas de novas tecnologias, alinhadas com o que o consumidor atualmente precisa: baixo custo e acesso à tecnologia de ponta em energia limpa.”Não apenas no DF os carros elétricos estão em alta. Segundo dados de uma das principais fabricantes de veículos dessa modalidade, em 2024 foram 76,7 mil veículos emplacados no país, um crescimento de 327% em relação aos emplacamentos de 2023 (17,9 mil).Pesquisa divulgada por uma agência de marketing digital também revelou aumento do interesse da população pelos veículos na internet. Segundo os dados, no ano passado houve um salto de 74% nas buscas online por veículos elétricos se comparado a 2023.Além disso, as menções relacionadas ao tema ultrapassaram a marca de 1.000 só no último mês. As interações, por sua vez, cresceram mais de 116%, e as reações chegaram à marca de 47,7 mil.A pesquisa reforça que o avanço do interesse por veículos elétricos vai além do aspecto econômico, pois as ações para conter as mudanças climáticas e o acesso à energia limpa e renovável são dois dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pela ONU (Organização das Nações Unidas).Vale lembrar, ainda, que o Brasil é um dos 195 países que são signatários do Acordo de Paris, firmado em 2015, com maior compromisso mundial para limitar a temperatura média global a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.Apesar disso, para o fundador da agência responsável pela pesquisa, Fabricio Macias, “embora o interesse por veículos elétricos esteja crescendo, a decisão de compra no Brasil ainda é muito guiada por questões econômicas, como economia de combustível e benefícios fiscais, e menos pela preocupação com o meio ambiente”. “Os dados mostram que o consumidor brasileiro está muito mais atento à economia que o carro elétrico pode proporcionar do que a questões ambientais. Além disso, com o preço da gasolina em alta e benefícios como isenção de IPVA em alguns estados, o interesse cresce. O lado ambiental é um bônus para uma parte da população, mas não é o principal motivador”, analisa. Macias acrescenta ainda que os veículos elétricos representam uma mudança de paradigma, não só pela tecnologia, mas pela adaptação do mercado e da infraestrutura.“No Brasil, apesar dos desafios como a infraestrutura de recarga, o crescimento já aponta para uma consolidação no futuro próximo. O número de buscas por termos relacionados a veículos elétricos mostra que o consumidor está aberto a novas soluções de mobilidade, mas ainda dividido entre combustão, híbridos e elétricos. A importância desses veículos no futuro será maior à medida que se tornarem mais acessíveis e a infraestrutura evoluir.”Moradora de Campo Belo, em São Paulo, a profissional em relações públicas Alana Vilela, de 35 anos, comprou um carro elétrico há dois anos.“Amo ter carro elétrico. Primeiro, pela economia, e segundo, porque o carro é leve, bom de dirigir, não traz problemas. Mas é um carro que demanda ter organização”, alerta. Alana detalha que o veículo faz 310 km quando totalmente carregado. “Ele demora em torno de uma hora a uma hora e meia no carregamento rápido, ou até 40 minutos, no caso da potência do carregador. Porque o carregador tem uma potência que indica quão rápido vai ser esse carregamento”, explica. Ela ainda recomenda o carro para quem é organizado e não realiza viagens. “É um carro muito visado, porque é um carro muito caro”, pontua.