‘Papel altivo na história do Brasil’: políticos repercutem morte de ex-ministro Delfim Netto
Economista e ex-deputado federal morreu, aos 96 anos, na madrugada desta segunda no Hospital Albert Einstein, em São Paulo
Brasília|Do R7
O economista e ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto morreu aos 96 anos na madrugada desta segunda-feira (12) no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Diversos políticos e autoridades dos Três Poderes lamentaram a morte do também ex-deputado federal, que estava internado há uma semana devido a complicações no quadro de saúde.
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O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), prestou condolências à família e aos amigos de Delfim Netto e destacou a biografia dele. “Profundo conhecedor das ciências econômicas, ocupou papel altivo na história do Brasil desde 1967, quando se tornou, aos 38 anos, o mais jovem ministro do país”, afirmou, em nota.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva relembrou a trajetória acadêmica e política de Delfim Netto e mencionou algumas discordâncias que teve com ele ao longo dos anos.
“Delfim Netto foi economista, professor, ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura. Durante 30 anos eu fiz críticas ao Delfim Netto. Na minha campanha em 2006, pedi desculpas publicamente porque ele foi um dos maiores defensores do que fizemos em políticas de desenvolvimento e inclusão social que implementei nos meus dois primeiros mandatos. Delfim participou muito da elaboração das políticas econômicas daquele período. Quando o adversário político é inteligente, nos faz trabalhar para sermos mais inteligentes e competentes.”
Nas redes sociais, o presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), Bruno Dantas, afirmou que a Corte se despede do ex-ministro com “profunda tristeza” e citou que ele foi uma “figura superlativa da política e economia brasileira”.
“Além de sua destacada atuação política, Delfim Netto também deixou inestimável legado intelectual. Professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), compartilhou seu vasto conhecimento e publicou diversos livros e artigos sobre a economia brasileira, muitos dos quais inspiraram o desenvolvimento institucional do TCU”, escreveu Dantas.
O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante, divulgou uma nota lamentando a morte de Delfim Netto, mas citando divergências políticas e econômicas.
“Recebo com tristeza a informação sobre a morte do economista Delfim Netto. Fomos deputados no mesmo período histórico e estivemos na Comissão de Economia, espaço público em que havia um debate qualificado sobre as políticas de desenvolvimento nacional.”
“Apesar das divergências políticas e no próprio debate econômico, que tivemos ao longo da vida, Delfim Netto sempre teve compromisso com a produção e com o crescimento da economia. Mesmo tendo sido um ministro destacado do regime militar - liderou o chamado “milagre brasileiro” -, Delfim apoiou o governo Lula em momentos importantes e desafiadores”, destacou Mercadante, também lembrando da trajetória de Delfim como professor de economia na FEA - USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo).
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, manifestou pesar pela morte do ex-ministro e desejou conforto aos amigos e familiares. “Delfim Netto prestou serviços ao Brasil em diferentes momentos históricos. Nos períodos mais recentes após a redemocratização, foi conselheiro econômico de mais de um governo e atuou em projetos de inclusão social que levaram ao desenvolvimento econômico do país”, escreveu.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), destacou a “profunda admiração pela genialidade e sensatez” das contribuições do ex-ministro para o Brasil.
O ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), mencionou o “brilhantismo intelectual” e a importância de Delfim Netto na história brasileira.
“O ministro Delfim Netto foi uma personalidade muito importante na história brasileira dos últimos 60 anos. De origem humilde, chegou muito cedo à Cátedra na Universidade de São Paulo e seu brilhantismo intelectual levou-o a elevados postos na República. Sua tese de livre-docência foi sobre a economia do café e, até por consequência disso, foi um dos mentores da Embrapa, instituição com papel inegável na revolução agrícola brasileira. Ele foi, portanto, visionário na revalorização de um dos pilares da economia nacional no século XXI. Sua biblioteca pessoal representa sua paixão pelo conhecimento nas mais diversas áreas. Conselheiro de vários presidentes da República após a redemocratização, soube valorizar as políticas de distribuição de renda e de inclusão social. Sua atuação no período mais duro do regime militar deverá ser lembrada, mas é inegável que o Brasil perdeu hoje um de seus maiores intelectuais e pensador da nação brasileira”, escreveu Toffoli.
Quem foi Delfim Netto
Professor emérito da FEA/USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo), Delfim comandou a pasta econômica nos anos de 1967 e 1974, durante o regime militar. Além disso, também foi ministro do Planejamento entre 1979 e 1985 e ministro da Agricultura em 1979. Delfim Neto também atuou como embaixador do Brasil na França até 1977.
Depois do regime militar, o economista participou das eleições de 1986 como candidato à Câmara dos Deputados. Foi eleito deputado federal por cinco vezes consecutivas, a primeira delas como constituinte.
Em 2014, Delfim Netto doou para a FEA/USP a biblioteca pessoal. O acervo de mais de 100 mil títulos, acumulados em quase oito décadas, tornou a biblioteca uma das mais relevantes do país.