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Parteiras de Brasília encapsulam placenta para uso de tratamento no pós-parto

Enfermeiras obstetras são as únicas no Brasil a realizar procedimento originado na China

Brasília|Paulo Mondego, do R7


O que para a maioria das mulheres e médicos é apenas lixo hospitalar, para duas enfermeiras obstetras de Brasília é fonte de vida e restauração dela. Iara Silveira e Ana Cyntia Baraldi realizam partos humanizados e encapsulam placentas para mulheres que querem ingerir o órgão durante o período pós-parto. Apesar de não haver estudos científicos sobre a eficácia e efeitos colaterais do método, elas garantem que os benefícios são surpreendentes.

Iara e Ana deixaram a carreira de professoras universitárias para se tornarem parteiras modernas. E foi numa dessas experiências de parto domiciliar de um casal ucraniano que Iara se atentou para um método que já vinha pesquisando, a encapsulação de placenta.

— Eu fiz o parto de um casal da Ucrânia e no final do procedimento eu entreguei a placenta para eles, já que entendemos que a placenta pertence à família. Então o pai me pediu para encapsular a placenta e eu disse que não realizava o procedimento. Então ele me disse para pesquisar sobre o assunto e buscar uma especialização, já que os efeitos eram considerados muito bons para as mães.

E foi o que Iara fez. Ela se especializou no parto humanizado e em rituais de cuidados no parto domiciliar. Um deles foi o uso da placenta na recuperação da mãe no período pós-parto que já é utilizado na China, Estados Unidos e Europa.


O método é pouco conhecido e em alguns casos rejeitado no Brasil. Tudo parte do princípio, segundo Ana Cyntia, de que a placenta é um órgão endógeno considerado alimento capaz de substituir substâncias que a mãe mais precisa após parir.

— É na placenta que se processam todos os nutrientes e hormônios necessário para gerar a criança. Após o parto, esse órgão pode ser usado como alimento que vai ser absorvido no intestino. E grande parte dos nutrientes gastos pela mulher durante a gestação, principalmente o ferro, vai voltar para o organismo dela. O resultado disso é um período pós-parto mais tranquilo porque a mãe vai gerar mais leite, ter mais energia e diminuir as chances de depressão ou oscilação do humor.


Mas a enfermeira alerta que não são todas as mães que podem optar pelo método. Para processar a placenta, a mulher precisa ter todas as sorologias negativas e não ter tido doenças por transmissão sanguínea. O processamento envolve várias etapas que duram até 16 horas para ficar pronto.

Quando abriram o consultório, há um ano e dois meses, na Asa Norte, Ana e Iara já tinham o certificado conferido pelo PBI, sigla em inglês do Placenta Benefits, organização reconhecida internacionalmente em pesquisas sobre o assunto. Hoje, elas atendem mães do Brasil inteiro que enviam suas placentas para serem encapsuladas. Só no ano passado foram 60.


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O processo começa com o congelamento da placenta que pode ser feito no congelador de casa mesmo. Esse período não pode durar mais que 48 horas após o parto. Ao chegar no consultório das parteiras, o órgão é preparado com a retirada das membranas e do cordão umbilical. Em seguida, a placenta é vaporizada, desidratada e triturada. No final, sobra um pó suficiente para encher entre 100 e 160 cápsulas. Todo esse processo custa em média R$ 500.

A posologia é definida pela própria mãe, mas as enfermeiras recomendam que sejam ingeridas até quatro cápsulas por dia, após a primeira semana do parto. O método causa curiosidade e até repulsa por muitas mulheres, mas há quem dê outros destinos a placenta, de acordo com Iara.

— Tem gente que planta a placenta como uma árvore, que usa como tintura, que faz artesanato e tem pessoas que comem. Eu fiz um parto de uma mãe vegana (pessoas que não fazem uso de qualquer produto derivado de animal) que pediu a placenta sem processamento algum. Eu peguei um prato, garfo e faca e ela comeu ali mesmo. E foi ali que ouvi uma frase surpreendente dela: a placenta é a única carne que não deriva da morte, pelo contrário, gera vida.

A Febrasgo (Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia) condena o uso da técnica. O presidente da Comissão de Parto da entidade, João Steibel, diz que não há nenhum estudo científico que comprove o valor nutritivo da placenta a não ser para o bebê, dentro do corpo da mãe. Ele explica que não há como sugerir uma técnica quando não há comprovação da eficácia dela. 

— Nós somos absolutamente contrários. Nós só trabalhamos com evidência científica, não há teste, nenhuma evidência da eficácia disso. Se uma paciente perguntar "posso usar?", eu vou dizer "não pode", não há nenhuma comprovação científica, portanto, não tem como saber se faz bem ou mal. 

Resultados

A psicóloga Vanessa Figueiredo, 31 anos, optou pelo método de uso das cápsulas de placenta e se surpreendeu com os resultados. Ela tomou a decisão depois que passou por um período de depressão pós-parto quando teve os dois últimos filhos. Após um período de pesquisa na tentativa de evitar passar pelo problema na gravidez do terceiro filho, ela optou pelo parto domiciliar.

— Eu não sabia que existia esse método. Quando eu decidi ter um parto domiciliar planejado, a Iara que foi minha parteira me falou da placenta e me explicou os benefícios de ingeri-la. No começo fiquei com um pouco de medo pensando se não seria selvagem demais. Mas depois que fiz algumas pesquisas na internet e li alguns artigo me convenci que a técnica tinha fundamento.

Uma semana após o nascimento do filho, Vanessa começou a sentir os sintomas da depressão pós-parto. Poucos dias depois ela recebeu as cápsulas da própria placenta e começou a ingerir, o que para ela foi surpreendente.

— É incrível como o resultado é imediato. Oito horas depois que ingerir a primeira cápsula comecei a sentir os efeitos. O sangramento comum no pós-parto cortou rapidamente, comecei a me sentir mais animada, passei a levar meus filhos mais velhos para a escola mesmo eu estando de resguardo e minha produção de leite aumentou muito.

Pesquisas 

De acordo com o médico ginecologista Bruno Ramalho, embora não existam estudos científicos que comprovem os resultados da ingestão de placenta, é preciso ter a mente aberta para novas práticas. Ele atende mães que estão ingerindo as cápsulas costuma ouvir depoimentos positivos.

— De fato não existem estudos médicos que nos comprovem os benefícios das cápsulas de placenta, mas também não existem estudos que contra indiquem. A pouca literatura que existe são de estudos conduzidos por antropólogos da Universidade de Nevada, dos Estados Unidos. Mas nada relacionado a indicativos médicos.

Mas Ramalho alerta que é preciso considerar também o feito placebo produzido pela ingestão de comprimidos sem efeito. Neste caso a pessoa pode desenvolver efeitos positivos no corpo, mas impulsionado por um impulso psicológico.

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