A Polícia Federal deve apresentar na próxima semana o relatório final do inquérito que apura o bloqueio de estradas durante o primeiro turno das Eleições de 2022. A nova delegada responsável deve manter os indiciamentos do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, e do ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasquez. Para o pleito deste ano, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e o MJ (Ministério da Justiça) proíbem blitze sem justificativa.Fontes ouvidas pela RECORD afirmam que os indiciados devem responder pelo crime de restringir, impedir ou dificultar, com emprego de violência física, o exercício de direitos políticos a qualquer pessoa. A pena para quem comete o delito é de prisão de três a seis anos e multa, além da pena correspondente à violência empregada na ação. Além de Silvinei e Torres, outros quatro delegados cedidos ao MJ na época também estão envolvidos. O documento será entregue ao STF (Supremo Tribunal Federal). Pessoas ligadas à investigação também apontaram que houve contradições entre os depoimentos prestados e que existem provas para indiciar os envolvidos.Em um primeiro momento, a PF já havia apresentado um relatório, com o indiciamento de Torres e Silvinei, ao STF, mas pediu mais tempo para realizar novas investigações e depoimentos, a fim de apresentar o relatório final sobre o caso.Na segunda (14), Torres prestou um novo depoimento à PF no âmbito do inquérito e voltou a afirmar que “não organizou nem interferiu nas operações da PRF durante as eleições” e que “nenhum eleitor deixou de votar por ser baiano ou nordestino”. Além disso, pediu a reconsideração do indiciamento.O relatório apresentado em agosto mostra que, segundo as investigações, integrantes da PRF teriam direcionado recursos humanos e materiais com o intuito de dificultar o trânsito de eleitores no segundo turno.Um mapa, obtido pela PF nas investigações, mostra as regiões onde havia a concentração de votos no primeiro turno da eleição de 2022 para o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo a corporação, o mapa foi usado pela gestão de Silvinei Vasques, na época à frente da PRF, para dificultar o deslocamento de eleitores de Lula no segundo turno. A imagem estava no documento que fundamentou a prisão do ex-diretor-geral da corporação, em agosto do ano passado.O mapa foi encontrado no celular de Marília Alencar, então diretora de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública. “Havia uma reunião agendada com o [então] ministro [Anderson Torres] para as 11h. Sendo assim, como esta imagem foi capturada às 11h23, há fortes indícios de que esta fotografia tenha sido realizada para esta reunião”, diz a PF. Marília seria uma das indiciadas no relatório final sobre o caso.Torres pediu a membros da PF e da PRF que se ajudassem em uma atuação conjunta e alegassem que o motivo seria o combate a fraudes eleitorais. O objetivo, contudo, seria interromper o fluxo de eleitores e, assim, tentar diminuir a vantagem de Lula na região para favorecer o ex-presidente e então candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL).Intitulado “Concentração maior ou igual a 75% — Lula”, o mapa mostra uma lista de municípios, como Crato (CE), Paulo Afonso (BA), Iguatu (CE), Parintins (AM), Candeias (BA), Serra Talhada (PE), Canindé (CE), Barreirinhas (MA) e Icó (CE), entre outros. Há uma coluna de votos cujo número total é 10.073.642, além de outras duas com o nome de Bolsonaro (1.485.294 votos) e de Lula (7.743.713). O mapa mostra ainda uma coluna com nomes de partidos. Sob a gestão de Vasques, no segundo turno da eleição, a PRF concentrou a abordagem de veículos em locais onde o petista tinha maior vantagem.Em 30 de outubro de 2022, policiais rodoviários federais realizaram bloqueios em diversas rodovias do Nordeste, o que impactou a movimentação de eleitores para os locais de votação e causou atrasos. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) chegou a ampliar o horário para que as pessoas votassem, além de pedir explicações à PRF. Naquele dia, a corporação alegou que tentava evitar possíveis crimes eleitorais.Os bloqueios foram feitos mesmo depois de o então presidente do TSE, Alexandre de Moraes, ter decidido, na véspera do segundo turno, proibir blitze até o fim das eleições — qualquer tipo de operação relacionada ao transporte público, gratuito ou não, de eleitores. O então diretor-geral da PRF foi demitido em dezembro e, atualmente, é réu por improbidade administrativa devido à operação.