Esplanada dos Ministérios, em Brasília
Ricardo Moraes/Reuters - ArquivoO risco de um terremoto de grande magnitude atingir o Brasil é "próximo de zero". É o que diz o geofísico e professor do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), George Sand França.
Após o terremoto que atingiu o sul da Turquia e o norte da Síria, na madrugada de 6 de fevereiro, causar a morte de mais de 25 mil pessoas e deixar um rastro de destruição em várias cidades, o R7 procurou o especialista para saber se um tremor dessa magnitude pode ocorrer em território brasileiro.
Entenda a seguir por que não precisamos temer um grande terremoto por aqui.
Segundo o professor George Sand França, a probabilidade de um tremor de grande magnitude acontecer no Brasil é próxima de zero, apesar de nunca ser descartada. Isso porque os grandes terremotos costumam acontecer em regiões próximas aos limites das placas tectônicas (grandes blocos rochosos que formam a porção superficial da litosfera terrestre). O Brasil está situado na porção central da Placa Sul-Americana.
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"No Brasil, a probabilidade de ocorrerem terremotos de grande magnitude é baixa porque estamos sobre uma placa onde o limite oeste está na Placa Sul-Americana, que fica na região que compreende Chile, Peru e Venezuela — o chamado Cinturão de Fogo do Pacífico. Ali sim há grande probabilidade. E o outro limite, ao leste, está em alto-mar no Oceano Atlântico" explica o professor.
George França Sand, do Observatório Sismológico da UnB
Arquivo pessoalO doutor em geofísica comenta que, no Brasil, geralmente acontecem tremores de baixa magnitude. "Mas tivemos dois terremotos de magnitude maior que 6, considerada grande para o nosso país. O maior [tremor] do Brasil foi de magnitude 6,2 [na escala Richter], em Porto dos Gaúchos (MT), registrado em 1955. No mesmo ano, houve um tremor no mar a 300 km da costa de Vitória (ES). No caso do Distrito Federal, terremotos são ainda menos prováveis. Não há registros de grandes terremotos aqui", tranquiliza. O risco é tão baixo que, segundo fontes da Defesa Civil no Distrito Federal ouvidas pela reportagem, "não há plano específico para terremotos, visto que a probabilidade de tal fenômeno no Brasil com potencial de causar danos é praticamente inexistente".
O professor afirma que a probabilidade de ocorrência de atividade sísmica é maior em regiões como o Rio Grande do Norte, a área entre Goiás e o Tocantins, a cidade de Porto dos Gaúchos (MT), a região próxima a Montes Claros (MG) e Vitória (ES), que, assim como em toda a costa onde ocorre a exploração de óleo, têm atividade sísmica. No entanto, não há motivo para medo. "Os tremores nessas regiões são todos de menor magnitude, e a probabilidade de terremotos severos é bem menor do que em regiões como Turquia e México", esclarece.
De acordo com George Sand França, o que diferencia o Brasil da Turquia, do ponto de vista da geofísica (ciência que estuda as propriedades físicas e os processos físicos que ocorrem no interior da Terra), é que a Turquia está no encontro de três placas tectônicas que geram energia ao se movimentarem causando os terremotos: Placa da África, Placa Arábica e microplaca da Anatólia. "Elas acumulam pressão uma sobre a outra até o momento em que a região não suporta e libera energia, o que causa o terremoto", esclarece o geofísico. "A possibilidade de um terremoto de 7,8 graus na escala Richter, como o visto na Turquia, é muito pequena", completa.
Veja imagens do rastro de destruição deixado pelo terremoto que atingiu a Turquia e a Síria:
A UnB abriga um dos quatro centros de monitoramento sismológico do país: a Rede Sismográfica do Centro e Norte do Brasil (RSCN). Ela faz parte da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), que também congrega a Rede Sismográfica do Sul e do Sudeste (RSIS/SE), a Rede Sismográfica do Nordeste (RSISNE) e a Rede Sismográfica Integrada do Brasil (BRASIS).
Esses locais trabalham em conjunto no monitoramento de fenômenos sismológicos que ocorrem em todo o mundo. "Quando acontece um terremoto de grande magnitude no mundo, o tremor é detectado pela rede, apesar da distância. Essa rede tem suporte mundial. Por isso temos dados que subsidiam estudos em todas as partes do mundo," afirma o professor.