Sete das dez principais rodoviais federais com maior número de mortes no Brasil apresentam algum tipo de problema na infraestrutura, como buracos e ondulações. Em 2024, as pistas com algum defeito tiveram 2.647 mortes, sendo a maioria deles na BR-153, que liga Brasília a Belém, segundo a CNT (Confederação Nacional do Transporte). As rodovias são classificadas como regulares, e segundo a entidade “estão à beira de uma deterioração mais severa, exigindo manutenção urgente para evitar seu agravamento”. Segundo a CNT, “sem intervenções adequadas e tempestivas de manutenção, estes trechos possivelmente migrarão para as categorias ruim ou péssimo”.Os problemas observados nas rodovias aumentam os riscos de acidentes, além causarem desgastes nos veículos, elevando custos operacionais e maior consumo de combustíveis, aponta a CNT. Para especialistas ouvidos pelo R7, problemas de infraestrutura nas vias brasileiras impactam diretamente no comportamento e segurança dos motoristas.No Brasil, 67% das rodovias, incluindo federais e estaduais, são classificadas como regulares, ruins ou péssimas, ao passo que 33% estão em estado ótimo ou bom. As classificações consideram aspectos como pavimentação, sinalização e geometria da via.Órgãos ligados ao setor de transportes e especialistas entendem que a infraestrutura é um dos principais elementos que garantem um trânsito seguro. A OMS (Organização Mundial de Saúde) aponta que cerca de 80% das vias avaliadas globalmente não atendem a uma classificação mínima de 3 estrelas para segurança de pedestres, por exemplo.O diretor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Transportes, Marcus Quintella, explica que o ideal é que uma rodovia esteja classificada como excelente ou boa para evitar acidentes. Das vias analisadas para esta reportagem, apenas três são definidas como boas: a BR-116 (Ceará ao Rio Grande do Sul), BR-101 (Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul) e BR-277 (Paraná).São inúmeros os fatores que causam acidentes em rodovias, sejam eles por falhas humanas, de veículos ou até mesmo ambientais. Em 2024, o Brasil teve 60.365 acidentes em rodovias federais e pouco mais de 5.000 mortes, apontam dados da Polícia Rodoviária Federal. Além das vítimas, é estimado que os acidentes ocorridos nas pistas tenham gerado um custo de R$ 12,98 milhões.A CNT estima, ainda, que o setor de transporte teve um custo adicional de R$ 6,81 bilhões devido ao trafego de caminhões e ônibus em vias deterioradas.A CNT diz que as principais causas de acidentes em rodovias são a reação tardia do condutor (7.614), acesso a via sem observar a presença de outros veículos (5.259) e pelo motorista não manter distância do carro da frente (3.142).Especialistas entendem que o orçamento e a falta de investimento são os principais empecilhos para o aprimoramento das rodovias. Entre 2011 e 2021, os investimentos públicos federais em rodovias registraram uma queda de 71,3%, equivalente a R$ 16,46 bilhões, aponta a CNT.Em contrapartida, de 2022 para 2023 o valor investido cresceu, passando de R$ 6,97 bilhões para R$ 13,22 bilhões, praticamente o dobro. Considerando a destinação dos recursos, os valores para manutenção e recuperação passaram de 32,2% do total aplicado em 2012 para 78,6% em 2023.De maneira geral, a confederação estima que seriam necessários R$ 99,77 bilhões para reconstrução, restauração e manutenção no pavimento das rodovias.A maioria das rodovias sob gestão privada estão em condições ótimas e boas. Entretanto, Quintella ressalta que a construção de rodovias que contribuam para o desenvolvimento econômico é papel do Estado.“O privado entra em bons projetos, já na maioria das vezes construídos para contribuir com os investimentos, mas o privado não é responsável pelo desenvolvimento da infraestrutura de transporte de um país”, completa Quintella.Considerando as diversas causas que contribuem para um acidente, a doutora em transportes Adriana Modesto explica que deve haver, por parte do governo e população, maior conscientização quanto à gravidade dos prejuízos causados por acidentes de trânsito, incentivo ao uso de meios de transporte mais seguros, além do fortalecimento da fiscalização e efetividade no cumprimento de medidas legais quando o judiciário é acionado.“Como riscos potenciais, há que se considerar as características das rodovias brasileiras, pois, além dos fatores humanos, aqueles relacionados aos veículos e ao ambiente da via, as condições relacionadas à infraestrutura podem incrementar a insegurança. Considerando ainda a falibilidade humana, é necessário que haja mecanismos e ações capazes de propiciar a segurança dos usuários da via, tais como intervenções, esforço legal e campanhas de sensibilização quantos aos riscos no trânsito”, completa.Apesar dos riscos causados por pistas com danos, motoristas também devem ter a atenção redobrada em trechos perigosos e se atentar aos caminhos percorridos. Modesto reforça pontos fundamentais que condutores devem seguir, entre eles atenção à legislação de trânsito, não dirigir caso consuma álcool e respeitar os limites de velocidade.“Ao pegar a estrada, algumas atitudes por parte do viajante poderão contribuir para a sua segurança, dos demais passageiros e também a dos outros usuários da via. Adicionalmente, a adequada acomodação das bagagens, a revisão do veículo, o planejamento da viagem considerando o conhecimento do percurso, as características dos trechos, inclusive tendo em vista intempéries ou características topográficas, programação de paradas estratégicas para ser evitada fadiga de modo a comprometer a atenção e habilidade veicular”, finaliza.