Sociedade de Pediatria quer mais médicos no SUS para conter mortes
Instituição sugere ao governo a incorporação de 2.000 a 3.000 profissionais no programa Médicos pelo Brasil
Brasília|Bruna Lima, do R7, em Brasília
Um levantamento produzido pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) mostra que, por ano, aproximadamente 95 mil crianças e adolescentes com até 19 anos morrem no Brasil. Com base nas elevadas taxas de mortalidade infantojuvenil, a instituição reivindica a contratação de mais profissionais da área e uma reestruturação no modelo de atendimento do SUS (Sistema Único de Saúde ), para uma maior atenção à ala pediátrica.
A proposta da SBP apresentada ao governo federal é incorporar de 2.000 a 3.000 pediatras nas 18 mil vagas do programa Médicos pelo Brasil. “As políticas de assistência à saúde infantojuvenil ainda são embrionárias, e as crianças e os adolescentes continuam a morrer aos milhares em decorrência de agravos para os quais há tratamento, como doenças parasitárias, falta de assistência na hora do parto e infecções virais”, argumenta a presidente da SBP, Luciana Rodrigues Silva.
De acordo com o levantamento, entre 2010 e 2020 foram registrados mais de 28,6 milhões de internações no SUS na faixa da população pediátrica, uma média de 2,6 milhões de atendimentos do tipo por ano. Os principais motivos para a ocupação dos leitos foram as doenças relacionadas ao aparelho respiratório (21%), seguidas de atendimento relacionado a parto e puerpério (20%), doenças infecciosas e parasitárias (12%), doenças vinculadas ao período perinatal (10%) e causas externas (8%).
“O alto volume de internações por causa de doenças respiratórias e relacionadas ao parto e ao puerpério sugere a fragilidade da rede de atenção básica, que poderia fazer o diagnóstico dos problemas e o encaminhamento para tratamento antes de as complicações se imporem”, diz a representação da SBP ao Ministério da Saúde. A instituição defende, ainda, a inclusão de um médico pediatra para cada quatro ou seis equipes de saúde da família (ESFs), o que representaria de 3.000 a 4.000 novos postos.
A entidade afirma que não faltam médicos qualificados para atuar na área. De acordo com a "Demografia médica 2018", do Conselho Federal de Medicina (CFM), o Brasil tem alta densidade de pediatras, uma média de 20,8 especialistas por grupo de 100 mil habitantes.
O índice, segundo a SBP, é comparável ao de países europeus com maiores taxas de desenvolvimento socioeconômico. No Maranhão, por exemplo, a densidade é de 7,4/100 mil, mas o percentual é comparável ao de países como o Canadá e a Austrália. “Apesar da existência de recursos humanos qualificados e capacitados, a presença de pediatras no SUS ainda é baixa, o que se traduz no número insuficiente de consultas em puericultura”, argumenta a sociedade.
A falta de atendimento adequado pode ser observada pelo alto número de mortes por doenças não diagnosticadas. De 1999 a 2018, os achados anormais (não especificados) em exames clínicos e laboratoriais representaram a quinta maior causa de óbitos em crianças e adolescentes, somando 105,4 mil perdas. “São mortes sem diagnóstico, que poderiam ser evitadas com o acompanhamento regular realizado por profissionais especializados na saúde infantojuvenil”, destaca a pediatra Luciana.
Proposta
Além de requisitar a ampliação do número de pediatras que atuam na atenção primária, a SBP traz uma proposta de operacionalização da demanda. A divisão dos especialistas seria orientada em função de características regionais de acesso e da existência de uma rede integrada e organizada entre os municípios.
Em 50% da carga horária, os pediatras iriam se dedicar a atividades de promoção, prevenção e diagnóstico precoce na primeira infância. O restante da jornada seria distribuído no atendimento a pacientes de outras faixas etárias da pediatria (de 7 a 19 anos) e em demais demandas hospitalares da comunidade.
Ainda que a sociedade idealize um pediatra para cada quatro ESFs, a proposta prevê a implementação de forma progressiva, começando com um especialista da área para cada dez equipes.
Os resultados esperados são uma melhora gradativa dos indicadores epidemiológicos na população pediátrica, redução de mortes e internações infantis, identificação precoce de diagnósticos e, consequentemente, a geração de cidadãos com melhores condições de dar sua contribuição à sociedade, destaca Luciana. “Incluir esses profissionais no serviço de atenção primária é condição inalienável para assegurar a saúde e o bem-estar das crianças e dos adolescentes.”
O R7 procurou o Ministério da Saúde, mas não houve retorno até a última atualização deste texto.